A agência de emprego para pessoas com deficiência Valor T, lançada a 01 de maio do ano passado, já apresentou mais de 250 candidatos a empresas e tem uma “carteira” de mais de mil pessoas registadas.
Precisamente um ano após o lançamento da Valor T a diretora do projeto, Vanda Nunes, fez à Lusa um balanço dos primeiros 12 meses e traçou propostas para o próximo ano, salientando sempre que mais do que os números o balanço positivo do primeiro ano reflete-se no trabalho que foi feito com cada candidato a um trabalho e com cada empresa.
A Valor T é um projeto da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), desenvolvido em pareceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e o Instituto Nacional para a Reabilitação (INR), que se assume como um centro de emprego exclusivo na procura de ofertas de trabalho para pessoas com deficiência, avaliando as competências e as características de cada candidato para encontrar o trabalho que melhor se lhe adapte.
Qualquer pessoa com deficiência, seja ela motora, intelectual, visual ou auditiva, e com interesse em tentar encontrar emprego através da Valor T deve aceder à plataforma (www.valort.scml.pt) e inscrever-se.
Neste último ano os números refletem o que está a ser feito, como mais de seis mil emails trocados com candidatos a emprego e outras tantas mensagens, ou mais de cinco mil chamadas telefónicas. Mas os números são redutores, diz a responsável.
O que diferencia o Valor T é “o contributo, para mostrar o que é possível fazer desde que haja um modelo de trabalho focado na capacidade e não na incapacidade”, com candidatos e empresas “a contribuírem para que o trabalho digno seja mesmo para todos”, afirma, concluindo que o trabalho do projeto deve ser avaliado pelas oportunidades que cria.
Com apenas um ano a Valor T, diz Vanda Nunes, teve como primeira prioridade conhecer as pessoas, relacionar-se com elas, acompanhá-las, avaliar o que sabem fazer, mas também o que querem fazer, mas também os sonhos e os medos.
“Trabalhamos com cada pessoa e empresa com todo o tempo, o T é de talento, mas também de tempo”, afirma a responsável, de acordo com a qual há já mais de 150 empresas registadas na Valor T, ainda que várias delas ainda sem condições para iniciar a contratação de pessoas com deficiência.
O ano que agora chega ao fim, resume Vanda Nunes, foi o ano de “lançar as sementes”, primeiro de ouvir empresas e associações, depois apresentar a plataforma, “acessível a todas as áreas da deficiência”, depois receber candidatos a emprego, depois fazer entrevistas (mais de 800) de forma remota, nomeadamente devido à pandemia de covid-19. “Mas a pandemia não nos fez baixar os braços, pelo contrário”, afirmou.
Com as tais “sementes” lançadas, com candidatos apresentados a empresas e com alguns já a trabalhar, especialmente nos grandes centros urbanos, “o próximo desafio é dar continuidade a este trabalho, pessoa a pessoa” e chegar a todo o país.
Ao fim de um ano, 41% dos candidatos da Valor T são da área da Grande Lisboa, 18% do Porto, seguindo-se Setúbal e Braga. Ainda que em todos os distritos haja candidatos a emprego é preciso consolidar essa rede do resto do país, afirma Vanda Nunes.
Segundo Vanda Nunes, 40% dos candidatos são pessoas com uma deficiência motora, seguindo-se 18% com deficiência cognitiva, e depois deficiência visual. Cerca de 60% são homens e a média de idades ronda os 35 anos. E se há uma “faixa de candidatos jovens muito considerável” há também pessoas desempregadas de muito longa duração.
É para eles que a equipa de Vanda Nunes trabalha, há um ano, eram sete pessoas e agora são 18, entre psicólogos, juristas, da rede colaborativa da própria SCML, da área social, da área da economia para lidar com as empresas.
A lei 4/2019 estabelece um sistema de quotas de emprego para pessoas com deficiência, com um grau de incapacidade igual ou superior a 60%. Segundo a lei empresas médias devem admitir 01% de trabalhadores com deficiência e as grandes 02%. Para as grandes a lei aplica-se já no próximo ano (01 de fevereiro) e para as empresas com até 100 trabalhadores em 2024.
Vanda Nunes diz no entanto que muitas das empresas que estão a trabalhar com a Valor T não o fazem por causa da lei das quotas.
Das palavras de Vanda Nunes percebe-se que trabalhar com pessoas com deficiência é bom para as empresas, mas também para os restantes trabalhadores.
E dá um exemplo. “Estar a trabalhar com um colega que saiu de casa de cadeira de rodas faz-nos pensar duas vezes quando nos preocupamos com as nossas pequenas coisas”.
FP // HB.
Lusa/fim.
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