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Depois de um ano de pandemia e confinamento a fechar um ciclo de sete anos, o Erasmus+ está de volta e com orçamento duplicado. “Os sete anos (2021-2027) irão mobilizar cerca de 26,2 mil milhões de euros, a que se deve ainda somar os recursos alocados a outro Programa, agora autónomo, o Corpo Europeu de Solidariedade”, explica em entrevista ao Dinheiro Vivo Luís Alves, diretor da Agência Erasmus+, que apresentou o novo programa nesta semana. “Um orçamento mais robusto significará mais oportunidades de mobilidade e aprendizagem, mais técnicos de juventude capacitados, novas redes de parceria entre organizações de juventude apoiadas e mais processos de participação jovem suportados”, sublinha o responsável, adiantando esperar que este reforço se traduza também em “novos patamares de intervenção e qualidade”.
Sendo Portugal um país historicamente entusiasta deste programa – quer em candidatos quer em alunos estrangeiros recebidos -, a perspetiva da agência é que o número de mobilidades nos próximos sete anos possa “triplicar relativamente aos apoios concedidos entre 2014 e 2020”, então com um orçamento a rondar os 14 mil milhões. “É essa a nossa meta e o objetivo definido pela Comissão Europeia”, assume Luís Alves, adiantando que o nosso nível de execução dos programas foi sempre pleno. Incluindo em 2020, que apesar das restrições foi um ano recorde em candidaturas submetidas. “Tivemos mais do dobro da média dos seis anos anteriores e foi também um ano recorde em número de projetos e montantes financiados”, revela Luís Alves, concretizando: “Foram 287 projetos que mobilizaram mais de 10 milhões de euros de investimento em Portugal.”
Porque a covid abriu um precedente nunca antes imaginado, o novo programa Erasmus+ foi construído a pensar também numa forma de se adaptar a eventuais restrições. “Existem possibilidades de enquadramento de mobilidades virtuais, complementando ou até substituindo mobilidades físicas”, uma inovação deste novo ciclo do programa que procura responder às contingências de saúde pública mas também “oferecer novas oportunidades de participação no Erasmus+, que se adaptem melhor às diferentes circunstâncias, expectativas e necessidades dos jovens”, explica o responsável. No fundo, trata-se de um Erasmus+ com modelos de desenvolvimento de projetos “mais flexíveis e plurais, mais capaz de corresponder às necessidades concretas dos jovens”.
Alojamento, vida e estudos financiados
Se quem fez Erasmus não tem dificuldade em apontar a importância deste programa no desenvolvimento das competências sociais e interculturais, o Erasmus+ garante um reforço dessa vertente, explica o diretor nacional da Agência. “O Erasmus+ é uma plataforma de promoção de valores fundamentais que são o alicerce da União Europeia. Se aliarmos a isso o impacto pessoal que uma experiência de mobilidade internacional tem num jovem, compreendemos que existe neste programa o potencial de mudar vidas, de alargar horizontes, de capacitar os participantes na dimensão intercultural, de língua estrangeira, de participação ativa, gestão de projetos, equipas, tempo e recursos.” Traduzindo, trata-se de um reforço de peso naquilo que se define como as soft skills, com os participantes a apontar resultados com impacto quer ao nível pessoal quer no seu percurso profissional.
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“O que procuramos fazer também com este novo Erasmus+ é tentar garantir que chega a mais jovens, exatamente porque os seus impactos são muito benéficos para os participantes, para as organizações e a comunidades e, em última instância, para o Projeto Europeu”, sublinha Luís Alves.
Para garantir que as oportunidades não estão apenas acessíveis a quem tem possibilidade de viver um semestre ou um ano escolar numa cidade europeia estrangeira, o programa não só garante o financiamento integral das despesas de deslocação, alimentação, alojamento, etc. (dentro dos limites estabelecidos e de acordo com as regras específicas, naturalmente), como prevê ainda a possibilidade de um reforço de cobertura de gastos para quem mesmo assim tem dificuldades. “Existem financiamentos adicionais que podem ser realizados por forma a promover a inclusão de todos no programa, nomeadamente de jovens com menos oportunidades”, explica o diretor da Agência Erasmus+.
Metas europeias no centro das atenções
Num momento em que a União Europeia (UE) está particularmente focada em objetivos ambiciosos de descarbonização e empenhada na transformação digital, o Erasmus+ não passa ao lado dessas metas. “O novo Erasmus+ tem agora prioridades muito alinhadas com aquelas que são as da própria UE, e que constituem agendas determinantes para o nosso futuro coletivo. Mas estas prioridades estão também muito alinhadas com os interesses e as causas que mobilizam a vontade de participação das novas gerações – desde logo a agenda ambiental”, explica Luís Alves.
Além de incentivar a mobilidade europeia dos jovens, o Erasmus+ acrescenta assim esta vertente enquanto “instrumento para a prossecução dessa agenda, não apenas apoiando projetos educativos nesse domínio, mas também incentivando, financeiramente, o uso de transportes ambientalmente mais amigáveis nas mobilidades”.
No que respeita à transição digital, constituirá uma nova prioridade para a Agência. “Pela importância que tem do ponto de vista económico e da competitividade da UE, mas assegurando também que é socialmente justa: será nesta dupla dimensão, a sua importância económica e nos percursos educativos e profissionais dos jovens, mas também contrariando novos fatores de exclusão e desigualdade, que iremos centrar a nossa ação.”
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