//Mais de metade dos nascidos nos anos 90 trabalham com contratos a prazo

Mais de metade dos nascidos nos anos 90 trabalham com contratos a prazo

Dois terços das pessoas nascidas nos anos 90 têm contratos a prazo. Quase o triplo dos nascidos antes de 1980. Um cenário que não muda à medida que os trabalhadores ficam mais velhos.

A conclusão é de um estudo da Fundação Calouste Gulbenkian sobre o mercado de trabalho, numa perspetiva intergeracional, e que indica ainda que entre 1986 e 2018 há em Portugal uma convergência do salário base entre as diferentes gerações, embora num patamar particularmente baixo de rendimentos.

O estudo foi conduzido pelo economista Pedro Martins. E, segundo o professor na Nova School of Business and Economics e ex-secretário de Estado do Emprego do Governo de Passos Coelho, os contratos a prazo são bons para fazer entrar jovens no mercado de trabalho, mas é preciso debater este problema ao nível da legislação laboral em Portugal.

Segundo o estudo, que analisa as gerações nascidas entre as décadas de 1940 e 1990, com base nos quadros de pessoal da Segurança Social, existe “uma estabilidade pronunciada na utilização alargada dos contratos de trabalho a termo junto dos trabalhadores mais jovens”.

A percentagem destes contratos é muito maior nas gerações mais recentes ao longo das últimas duas décadas – mais de 60% da geração nascida nos anos 90 em oposição a cerca de 40% na geração nascida na década anterior”, pode ler-se.

Estudar já compensou mais

De acordo com o coordenador da iniciativa sobre Justiça Intergeracional, da Fundação Gulbenkian, Lobo Xavier, é certo que uma escolaridade mais avançada ainda ajuda a ter melhor emprego, mas já não garante aumentos salariais comparáveis aos das gerações anteriores.

O aumento salarial médio por ano adicional de escolaridade desceu de quase 10% na geração da década de 40 para cerca de 5% para os nascidos nos anos 90.

O estudo conclui ainda que as gerações que entram no mercado de trabalho durante uma crise económica veem a sua evolução profissional prejudicada, registando salários 5% mais baixos ao longo da sua carreira, face às outras gerações.

Já ao nível das prestações sociais, verificam-se diferenças significativas entre as várias gerações, com algumas prestações, como o subsídio de desemprego, a serem utilizadas “em grande medida por trabalhadores mais velhos, o que poderá afetar negativamente a equidade intergeracional”, indica o estudo.

“Ao longo da década de 2000, os subsídios da segurança social (desemprego, doença, ‘lay-off’ e parentalidade) recebidos pelos trabalhadores da geração de 1940 corresponderam a 69% das suas contribuições (55 pontos percentuais dos quais derivados do subsídio de desemprego)”, refere o investigador.

Em contraste, acrescenta o autor, “a relação entre subsídios recebidos e contribuições pagas no mesmo período, mas para as gerações nascidas nos anos 60 e seguintes foi de apenas 22%”.

“Apesar de Portugal ter uma taxa de desemprego jovem muito elevada, é sobretudo a partir dos 50 anos que o subsídio de desemprego tem um peso assinalável”, apontou Lobo Xavier.

Esta situação poderá ser explicada com o facto de o subsídio de desemprego estar a ser utilizado como “uma ponte” para a reforma, antecipada ou não, admitiu por seu lado Pedro Martins.

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