//Mário Centeno: No BES a “incompetência encontrou o dolo”

Mário Centeno: No BES a “incompetência encontrou o dolo”

Mário Centeno considera que todo o processo desde a resolução do BES tem sido “penoso socialmente, politicamente e financeiramente”. Na audição que está a decorrer esta terça-feira no Parlamento, o atual governador do Banco de Portugal e ex-ministro das finanças comentou que o “Novo Banco era novo, mas herdeiro de velhos problemas e com muitos e complexos desafios pela sua frente. Não era um banco bom”.

“Se a sorte é o que acontece quando a preparação encontra a oportunidade, o azar acontece quando a incompetência encontra o dolo e a prática de atos de gestão ruinosa. E deve, por isso, ter responsáveis, como aliás já está judicialmente comprovado”, acrescentou, relembrando que estão a decorrer centenas de processos judiciais nos tribunais portugueses.

O atual governador do Banco de Portugal, que era ministro das Finanças aquando da venda do Novo Banco à Lone Star em 2017, referiu ainda que apesar de as contas não serem fáceis de fazer tendo em conta a dimensão do banco, a liquidação teria um custo imediato e directo de 14 mil milhões. A esse valor “acresceriam os custos diretos para o sistema de garantia de depósitos e os custos indiretos para o resto do sistema bancário”.

“Sem a venda do ativo subjacente ao empréstimo feito ao FdR, este era mais um NPL na economia portuguesa. Mas não ‘apenas mais um’ NPL, seria o gerador de todos os incumprimentos, que arrastaria toda a banca com ele”, acrescentou Mário Centeno, que está a ser ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução (FdR).

Durante a sua intervenção, o antigo ministro das Finanças fez questão de sublinhar que “a esmagadora maioria das questões levantadas nesta CPI dizem respeito ao BES. Tiveram a sua origem no BES e não no NB. Devemos ter isso sempre presente”.

Sobre a primeira tentativa de venda do Novo Banco, em 2015, respondeu que não foi avante “porque nenhuma das ofertas permitia que o banco fosse vendido com o resultado que tinha sido prometido”. E ironizou: “Que grande surpresa de facto! Que surpresa ninguém querer comprar um banco sub capitalizado e cheio de ativos problemáticos, por um valor superior ao que foi injectado no momento da resolução”.