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Mário Centeno não tem dúvidas: a banca foi parte da solução na atual crise e não parte do problema, ao contrário do que aconteceu na crise da dívida soberana. O governador do Banco de Portugal, na intervenção inicial da Money Conference, que decorre nesta sexta-feira, 20 de novembro, não escondeu que a banca enfrenta desafios devido à crise, mas também saudou a resiliência de todos os agentes económicos nacionais que, disse, “reagiram a uma crise inédita de forma exemplar”.
O governador do Banco de Portugal começou a sua intervenção por assinalar que “os riscos do sistema financeiro derivam neste momento do impacto da pandemia”. E que a existência de um sistema financeiro saudável, robusto e dinâmico “é fundamental” para suportar tanto as famílias, como as empresas e a própria economia, de forma a “garantir o desenvolvimento económico e social do país”.
“Portugal tardou demasiado tempo em atuar nessa frente. Fê-lo depois da generalidade dos países europeus, no contexto das crises financeira e soberana, e isso teve consequências no apoio à economia, às empresas e às famílias na saída crise. Durante a última década, foram colocados em evidência os riscos e debilidades das instituições financeiras, que atravessaram dificuldades em circunstâncias económicas adversas e de elevada incerteza. E o país percebeu o custo, em termos de equidade e eficiência, de não ter um sistema financeiro preparado”, disse.
Mário Centeno sustentou que no final de 2015, o sistema financeiro em Portugal encontrava-se numa situação de subcapitalização e com estruturas acionistas instáveis, em que os planos de negócio estavam em incumprimento. “Hoje, ninguém reconhece estes problemas no sistema bancário português”. Problemas esses que já não estão, assim, enraizados no sistema financeiro uma vez que a banca, tal como os supervisores e reguladores, adotou medidas que levaram a um aumento da resiliência do sistema financeiro.
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“No período anterior à crise pandémica, acumulámos um capital de confiança, de redução do risco e até de partilha de risco que não podemos desbaratar”, salienta, acrescentando que: “a resposta à pandemia impôs a ação de Governos, bancos centrais, reguladores financeiros e, no plano europeu, das instituições comunitárias. Termos um sistema financeiro resiliente foi determinante para a rapidez e intensidade das medidas aprovadas”.
O facto de a banca em Portugal ter no início deste ano, ao contrário do que aconteceu na última crise, “posições de capital e liquidez mais sólidas”, permitiu que o sistema bancário tivesse capacidade para aguentar o “choque inicial da pandemia, garantindo que os agentes económicos tivessem à sua disposição o crédito necessário e reduzindo as pressões de desalavancagem”.
“Os bancos fizeram parte da solução, não foram parte do problema”, sustentou.
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Ainda assim, o sistema financeiro tem pela frente ainda enormes desafios. “As medidas de confinamento adotadas para responder à primeira vaga da pandemia interromperam a atividade económica em vastos setores, desencadeando aumentos maciços no subemprego. E sem uma intervenção pública concertada, teríamos assistido a uma crise de crédito e de liquidez, que levaria a uma vaga de insolvências com consequências na estabilidade económica e financeira”, defendeu.
“Quando estávamos a reagir à crise num contexto em que não tínhamos “livro de instruções”, dado o caráter global, inédito e inesperado da crise, o resultado foi positivo”, sinalizou também.
Quando no final da primavera e início de verão, e Portugal começou a levantar gradualmente as restrições, registou-se uma “recuperação imediata e mais rápida e intensa do que o previsto”. “Apesar desta evolução positiva, e mesmo que não tivéssemos uma segunda vaga, podíamos dizer que a crise ainda não tinha acabado. Em qualquer caso, já é seguro dizer que criou legados para a estabilidade financeira a médio prazo”.
O antigo ministro das Finanças defendeu ainda que as autoridades orçamentais “estão comprometidas com a adequação da sua resposta à evolução da crise. Os planos orçamentais apresentados no outono para 2021 mostram que a posição orçamental vai manter-se de acomodação das consequências da crise. O espaço orçamental criado no período anterior abriu espaço para que todos os países pudessem reagir com estímulos orçamentais. São boas notícias”.
Mas a pandemia gera um elevado grau de incerteza e, por isso, alerta, “uma retirada precoce dos apoios parecem sérios, exigindo avaliações cautelosas. A modulação adequada das estratégias de saída deve levar em consideração a evolução dos desenvolvimentos sanitários, económicos e financeiros”.
(Notícia atualizada pela última vez às 10h54)
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