Dias depois das eleições legislativas, o governador do Banco de Portugal evita comentar diretamente o resultado, mas defende a importância de políticas económicas que assegurem um quadro de estabilidade e previsibilidade, ao contrário do que observamos hoje nos Estados Unidos: “O que temos observado no outro lado do Atlântico é um elencar de como não conduzir políticas económicas. No caso português, deve-se manter um quadro de previsibilidade e estabilidade, que tanto custou aos portugueses conseguir”.
Mário Centeno reforça a ideia, porque “não há nada pior para a condição das nossas vidas do que enquadramentos políticos que tomam decisões num dia e voltam para trás no outro”. Por isso, “a estabilidade política é um ativo precioso nos tempos que correm”, conclui.
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Enquanto em Belém ainda decorrem as audiências do Presidente da República com os partidos, o governador admite que existem “várias alternativas possíveis” de gestão das contas públicas. No entanto, “não cabe ao banco central emitir juízos sobre esse debate”, acrescenta.
Centeno sublinha ainda que Portugal tem sido um exemplo de estabilidade financeira e o país não quer recuar aos tempos da troika.
Aumenta o risco sobre a estabilidade financeira
Nos últimos meses agravaram-se os riscos sobre a estabilidade financeira, uma consequência da crescente imprevisibilidade das políticas económicas norte-americanas e das tensões geopolíticas, de acordo com o Relatório publicado esta quarta-feira pelo Banco de Portugal.
“As tensões resultantes dos conflitos militares na Ucrânia e no Médio Oriente, a que acrescem as alterações na política externa dos EUA, sobretudo nos domínios geoestratégico e comercial, aumentam a probabilidade de disrupções nas cadeias de abastecimento e nos fluxos comerciais, com repercussões negativas no crescimento económico, na inflação e nos preços dos ativos”, refere o documento.
Ainda assim, o Relatório de Estabilidade Financeira de maio destaca a resiliência do sistema bancário português, que mantém elevada rendibilidade, qualidade creditícia dos ativos, liquidez e capitalização.
“Portugal beneficia de ter um setor financeiro que se reestruturou, recuperou das crises financeiras e de dívida soberana” e tem hoje “índices de resiliência que quando são comparados com os seus congéneres europeus são muito auspiciosos”, defende Mário Centeno.
Para manter este quadro é necessário “manter uma atuação mais previsível e não criar espaços que criem eles mais incerteza”, diz Centeno.
Sobre a venda do Novo Banco, o governador diz que será o mercado a decidir, mas este é um negócio “altamente supervisionado e regulado”. Tanto o Banco Central Europeu como o Banco de Portugal estão ativamente envolvidos neste processo, garante.
Banco de Portugal fecha 2024 com lucro de 1,5 milhões
No último ano, o banco central teve de recorrer a provisões para cobrir um prejuízo operacional de 1.142 milhões de euros. Acabou por encerrar as contas de 2024 com um resultado líquido de 1,5 milhões de euros. Os gastos administrativos subiram 7,8%, para 213 milhões de euros.
A vice-governadora Clara Raposo assegura que as provisões foram suficientes e que o Banco de Portugal tem ainda “almofada suficiente” para os próximos anos.
O montante global da provisão para riscos gerais caiu para 1.716 milhões de euros.
No final do ano passado, o balanço do BdP ascendia a 191.177 milhões de euros, mais 6.330 milhões de euros que no final de 2023. Um resultado que traduz “fundamentalmente o impacto da valorização do ouro [subida de 34%] e do incremento do ajustamento às notas em circulação, em parte compensado pela já referida redução da liquidez excedentária no Eurossistema”.
Clara Raposo antecipa que o resultado operacional em 2025 será “claramente negativo”, mas “substancialmente inferior” ao do ano passado. Mário Centeno avisa que, atendendo à necessidade de constituir uma almofada financeira para o futuro, não se espera qualquer distribuição de dividendos ao Estado tão cedo.
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