O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, alertou esta sexta-feira que os próximos meses serão de “aperto financeiro”, mas pede aos portugueses que não fiquem “demasiado ansiosos”.
Em declarações na apresentação do Boletim Económico de dezembro, no Museu do Dinheiro, em Lisboa, Centeno alertou que, com a redução da taxa de inflação, a taxa de juro real fica cada vez mais alta.
“Os próximos meses vão assistir a um aumento do aperto das condições financeiras, porque apesar da estabilidade nas taxas diretoras do Banco Central Europeu (BCE), com a taxa de inflação cada vez mais reduzida, a taxa de juro real está cada vez mais alta“, admite.
Ainda assim, defende que a discussão sobre um eventual corte da taxas de juro não se centra sobre “se vai existir”, mas sim sobre “quando será”, um dia depois da reunião do Banco Central Europeu (BCE). “Não é uma questão se vai acontecer, porque vai acontecer num contexto em que não há choques adicionais. Estou muito confiante de que esta é posição de análise nos próximos tempos”, disse.
Mário Centeno refere também que a queda da inflação permite que a política monetária entre num novo estado de consolidação e que mostra que o disparo no aumento dos preços era um fenómeno temporário.
Destacando a trajetória descendente da inflação na zona euro, o governador do BdP sublinhou que a inflação tem vindo a cair mais depressa do que subiu. “Esta queda permite que a política monetária entre num novo estado de consolidação”, disse, considerando que atenua a incerteza que o aumento elevado e generalizado de preços coloca nas decisões.
À semelhança da previsão na quinta-feira divulgada pelo BCE, Mário Centeno acredita que um período compatível com a estabilidade de preços chegará em 2025.
A taxa de depósitos do BCE permanece em 4%, o nível mais alto registado desde o lançamento da moeda única em 1999, enquanto a principal taxa de juro de refinanciamento fica em 4,5% e a taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez permanece em 4,75%.
Salários estão nos “níveis mais elevados que alguma vez foram pagos”
Na apresentação do boletim, Centeno defendeu também que os salários em Portugal estão nos níveis mais elevados alguma vez pagos.
“Os salários em Portugal hoje também estão nos níveis mais elevados que alguma vez foram pagos”, afirmou Mário Centeno, na apresentação do Boletim Económico de outubro, no Museu do Dinheiro, em Lisboa.
O responsável do banco central português destacou que à imagem do que acontece na Europa e nas maiores economias mundiais, o mercado de trabalho em Portugal tem-se mostrado resistente.
“O emprego em Portugal está nos níveis mais elevados registados no país”, disse.
Segundo Mário Centeno, o conjunto dos salários reais conseguiu recuperar apesar do processo inflacionista.
O Banco de Portugal prevê, no Boletim Económico, que o mercado continue a apresentar uma situação favorável, apesar da quase estabilização do emprego e espera “um aumento dos salários reais”.
O banco central projeta uma taxa de desemprego de 6,5% este ano, de 7,1% em 2024 e de 7,3% em 2025.´
O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, apelou ainda à previsibilidade na condução das finanças públicas, defendendo prudência em assumir responsabilidades que têm impactos permanentes na despesa.
“Guardemos algum respeito face a aumentos da receita que podem não ter uma característica permanente muito forte. Não devemos neste contexto assumir responsabilidades que sendo elas permanentes possam vir a causar desvios nos momentos seguintes”, afirmou, na conferência de apresentação do Boletim Económico de dezembro, no Museu do Dinheiro, em Lisboa.
Mário Centeno voltou a defender prudência nas decisões orçamentais, para assegurar a trajetória de redução da dívida pública.
“A redução da dívida é uma prioridade e que felizmente vemos como possível de continuar nos próximos anos”, disse.
No relatório apresentado hoje, o Banco de Portugal (BdP) prevê um excedente orçamental de 1,1% este ano e de 0,1% em 2024 e um rácio da dívida pública face ao Produto Interno Bruto (PIB) de 101,4% este ano e de 96,8% em 2024.
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