//Mário Ferreira. “Para mim [as ações da Cofina] são lixo”

Mário Ferreira. “Para mim [as ações da Cofina] são lixo”

Mas vai a tribunal por ter dito que era um “testa de ferro”…

Não, nem me vou maçar com isso. Não vale a pena. Testa de ferro? Não sei o que isso é, nunca soube, nem preciso. Se a senhora fosse minimamente inteligente − vamos lá a ver ela inteligente é − mas se não se quiser fazer de burra o que teria feito era pegar nos jornais e via os últimos negócios que fiz o ano passado e veria que vendi um hotel por 40 milhões de euros − onde fiz uma grande mais valia e paguei os meus impostos − via que vendi por 250 milhões um conjunto de ações parciais de uma sociedade e que ganhei muito dinheiro, e coloquei de lado para poder investir no que quisesse. São informações públicas.

Por isso, é tão ridículo que ela ache que eu precise de alguma coisa. Se ela quisesse era muito fácil, bastava ver o que paguei de IRS pessoal em 2019, é mais do que ela pagou em toda a sua vida. Isso devia-lhe dar uma ideia da diferença que existe entre o contribuinte Mário Ferreira e a senhora comentadora. Estamos em patamares diferentes. Temos de ignorar. No entanto, ninguém pode gostar de situações destas, é óbvio que é desagradável, todos nós. Os meus filhos sabem ler, já têm idade para ver este tipo de coisas, e a senhora devia-se enxergar, mas lá chegará a altura em que ela meterá a mão na consciência e verá a asneira que está a fazer.

Mudando de assunto e falando dos seus outros negócios. A pandemia lançou toda a economia numa crise profunda, mas as áreas em que está o core da sua atividade são as mais afetadas, nomeadamente o turismo e hotelaria. A Organização Mundial de Turismo prevê quebras até 80% no setor. Sem viagens e sem turistas como vai sobreviver? Que impacto terá nas suas empresas?

Vão sobreviver dentro da maneira possível, com a contenção possível e bem organizadas, usando as poupanças que temos na sociedade − por não ter distribuído grandes dividendos dessas sociedades. Somente o fizemos na náutica, ao contrário do que o Partido Comunista apregoa, obviamente cegos pelas suas ideologias, dizendo que numa empresa, como a dos cruzeiros, em que temos quase mil pessoas paradas, 500 estão em lay-off.

É uma sociedade em que temos 60%, e obviamente está tudo parado com zero de receitas, e eles acham que é uma injustiça essa empresa, parada e sem receitas, ter alguém em lay-off − que é um direito que assiste a todos os portugueses.

E acham que − das reservas pessoais e poupanças que tenho − não deveria estar a investir porque é um sacrilégio. A toda essa gente digo que somos um negócio sólido, que terá um ano afetado. Mas continuaremos a investir nos navios que estamos a construir nos estaleiros de Viana, mesmo com o negócio parado, continuaremos a investir os 100 milhões que tínhamos previsto investir. Estamos a continuar a investir no hotel novo em Gaia com 120 quartos.

Continuamos a investir e a acabar a reabilitação de 14 apartamentos na zona histórica do Porto, e assim continuaremos porque somos uma empresa sólida e acreditamos no futuro. Não é um ano difícil que nos abana e nos afetaria. Este será o ano para aproveitar as oportunidades que vão aparecer.

“Os portugueses têm de aprender a poupar e a manter alguma poupança para dias como estes”

Permita uma pequena provocação. Costumam dizer que o primeiro-ministro, António Costa, é um otimista irritante, já lhe disseram o mesmo?

Não me disseram, mas tive sempre uma atitude positiva para a vida. Sempre me senti bem com a vida que tenho. Por isso, é que se calhar tenho sucesso, as nossas empresas têm sucesso, e sou uma pessoa feliz.

Já disse anteriormente que, num cenário de “faturação zero”, o grupo não iria, ainda assim, despedir ou parar os investimentos. Como é que isso se faz?

É muito fácil, não entrando dinheiro, vive das poupanças. Como somos poupados e como tivemos bastantes resultados positivos nos anos passados, e não andamos a derretê-los em fetiches, podemos usar essas poupanças, não da maneira que queríamos, porque queríamos ter um ano fantástico nos cruzeiros, como íamos ter. Nos outros setores, das 40 empresas que tenho, muitos estão a funcionar bem.

Os portugueses têm de aprender a poupar e a manter alguma poupança para dias como estes, os antigos sempre assim o fizeram. E não estamos a falar ao meu nível, olhe o meu falecido pai nunca quis ter um cartão de crédito. Ele disse: “filho nunca deves gastar aquilo que não podes”.

Ele tinha um bom ordenado, o banco estava sempre a mandar cartões, e ele no dia a seguir ia lá e devolvia. “Não quero o cartão, quero pagar e usar o dinheiro que tenho”, dizia. Nos dias de hoje, já não vou tão longe, acho que se deve ter um cartão de crédito, mas, no meu caso, nunca na minha vida, e tenho-o desde os 18 anos, usei um dia de crédito do meu cartão. Apenas usei o que podia pagar direitinho no final do mês.

Em 2014, disse que os ordenados estão muito baixos – basta ver o ordenado mínimo, indigno de um país europeu. Belmiro de Azevedo dizia que sem mão-de-obra barata não havia trabalho em Portugal. Qual é a mediana salarial do seu grupo?

Olhe, tem que ser superior, muito, muito, superior a mil euros, porque nós na festa de Natal deste ano declarámos, bem ou mal, que este ano ninguém teria, fosse alguém na copa, fosse um motorista de autocarro, ninguém teria menos de 1000 euros de salário. Por isso, eu acho que isso lhe responde à sua pergunta. E eu acho que neste momento, Portugal, era nessa meta que devia estar.

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