O empresário Mário Ferreira, que na quinta-feira deverá tornar-se no primeiro turista espacial português, disse hoje à Lusa acreditar que “em breve” existirão “resorts” orbitais “para turismo e experiências científicas”, estando também a equacionar investir na indústria aeroespacial.
“Em breve acredito que existirão resorts orbitais, servirão para turismo e para experiências científicas”, disse, em declarações por escrito à Lusa, a partir dos Estados Unidos, Mário Ferreira.
A cápsula autónoma e reutilizável New Shepard da empresa Blue Origin, onde seguirão Mário Ferreira, de 54 anos, e mais cinco tripulantes descolará do deserto do Texas, nos Estados Unidos, tendo a “janela” de lançamento início previsto para as 14:30 (hora em Lisboa). .
“Este é para mim o primeiro voo daquilo que eu acredito será o futuro das viagens ao espaço. As empresas que tenho conhecido, incluindo esta, têm programas em curso muito interessantes e que não são ficção cientifica”, considerou.
Ao lado de Mário Ferreira, presidente do grupo Pluris Investments, através do qual detém uma posição no capital da TVI e a empresa de cruzeiros Douro Azul, vão estar a engenheira egípcia Sara Sabry, a alpinista anglo-americana Vanessa O”Brien, o cofundador do canal desportivo do YouTube “Dude Perfect” Coby Cotton, o ex-executivo do setor das telecomunicações Steve Young e o especialista em tecnologia Clint Kelly III.
“O treino tem sido muito intenso, ontem [terça-feira] foram 13 horas seguidas, hoje umas 12. O treino nesta fase é muito assente nas questões de segurança e repetição de movimentos”, disse à Lusa, acrescentando que os tripulantes já têm noção do tempo e “das forças adversas” que vão sentir no corpo durante a viagem. .
O empresário português acrescentou que “o espaço já ajuda, mas vai ajudar a que a Terra esteja cada vez mais protegida e seja o planeta azul em que queremos viver”.
Questionado pela agência Lusa acerca do preço da viagem, respondeu que “é confidencial, mas nada próximo das asneiras que se têm lido em alguns jornais”.
Segundo a imprensa, o voo pode custar entre 200 mil e 300 mil dólares (195 mil a 293 mil euros).
O empresário disse ainda que o pioneirismo dos atuais intervenientes “possibilitará que no futuro os voos sub-orbitais e orbitais sejam acessíveis a muitos mais humanos”.
Já sobre um possível futuro investimento no setor aeroespacial, Mário Ferreira, arguido na “Operação Ferry”, que investiga eventuais crimes de fraude fiscal qualificada e branqueamento no negócio da compra e venda do navio Atlântida, disse que “sem dúvida” está a pensar fazê-lo, revelando-se “muito atento a grandes possibilidades que o pioneirismo destes programas têm em muitas áreas”.
Em concreto, referiu que estas vão desde “as telecomunicações muito mais acessíveis até ao turismo espacial, e obviamente apoio a experiências científicas e desenvolvimento de produtos e materiais”.
Sobre o seu envolvimento no turismo espacial “desde 2007”, lamentou que “infelizmente tem demorado mais” que o esperado, tendo aguardado 18 anos para “concretizar o sonho” de uma viagem.
Já acerca da garrafa de vinho do Porto que vai enviar para o espaço no voo de cerca de 10 minutos, disse querer que a sua missão “fosse mais que uma experiência turística”, tendo também “uma área experimental”.
“Queremos ver que alterações poderá sofrer um vintage de 2003, vamos ver se com as forças G e ausência de gravidade, altera sabor, cor, e se existirão outras alterações químicas ou moleculares”, explicou à Lusa.
Ao vinho da Taylor”s, que na altura investiu “numa garrafa especial, não vidro, com rolha de cortiça”, juntam-se outros itens que também levará na viagem.
Em causa está uma “homenagem ao Douro, ao rio, aos barcos e a uma arte” que diz muito admirar, “a filigrana”, pelo que será enviado um “barco rabelo em filigrana”.
“Espero oferecer esta peça para o museu de filigrana de Gondomar”, disse ainda à Lusa.
Trata-se do sexto voo suborbital com tripulantes da Blue Origin, empresa aeroespacial dirigida pelo magnata norte-americano Jeff Bezos, que em 20 de julho de 2021 se estreou nas viagens espaciais. .
Se tudo correr bem, e à semelhança de outros voos, os seis tripulantes vão transpor a barreira que separa o limite da atmosfera terrestre e o espaço e sentir a microgravidade, numa curta viagem de pouco mais de 10 minutos entre a descolagem (impulsionada por um propulsor) e a aterragem (suavizada por um paraquedas). Nenhum dos tripulantes terá de pilotar a nave, uma vez que é totalmente autónoma.
O logótipo do sexto voo tripulado da Blue Origin ostenta os apelidos dos seus seis tripulantes, aos quais foram atribuídos determinados símbolos. Mário Ferreira é representado por uma caravela, numa alusão à herança portuguesa de exploração dos mares nos Descobrimentos.
O turismo espacial, por enquanto apenas acessível aos mais ricos, teve um “boom” em 2021, ano de estreia neste nicho de mercado das empresas aeroespaciais Blue Origin, Virgin Galactic e SpaceX.
Deixe um comentário