Praias tão boas como as das Caraíbas e sem dúvida as melhores da Europa, vinhos extraordinários, pastéis de nata e gastronomia rica e gulosa, pedaços de História para visitar e trilhos magníficos para percorrer. São estas algumas das características que compunham as 20 razões apontadas pelo Telegraph há um mês para Portugal ser o primeiro destino dos britânicos quando abrissem as fronteiras.
Se as visitas dos britânicos a território português são históricas – ou não fosse com os ingleses a nossa mais antiga aliança – e muitos até já escolheram viver aqui (o número duplicou nos últimos quatro anos, para mais de 34 mil residentes), a escolha de Portugal para fazer férias é tão antiga quanto os registos oficiais recuam. Em 1964, somavam já 570 mil dormidas/ano, quase 10% dos turistas que então vinham para estas bandas (dados do Pordata). Números que se multiplicaram na década seguinte e foram sempre crescendo, até se aproximarem dos 10 milhões de dormidas no último par de anos.
Nesta sexta-feira, porém, o governo de Boris Johnson trocou as voltas a quem já se preparava para rumar a sul, com a exclusão do Algarve – principal destino nacional dos mais de 2,15 milhões de turistas britânicos que visitam Portugal no último ano – da lista de destinos seguros. Melhor dito, Downing Street considera que o sul de Espanha e até as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira são locais de férias que não representam perigo para a saúde, mas viajar para Portugal continental vai obrigar a quarentena no regresso.
Leia também: Turistas britânicos? “Há outros mercados a explorar”
A notícia deixou muitos ingleses desiludidos, dando até origem a memes sobre como contornar a proibição de irem passar férias ao seu destino preferido, com indicações em dois passos acompanhadas de mapa e tudo: 1. apanhe o avião para Sevilha. 2. atravesse a fronteira de carro ou autocarro e aproveite as férias.
Irritado ficou também o governo português, com o primeiro-ministro a destacar no seu twitter a discrepância de covid em Portugal e no Reino Unido e o ministro dos Negócios Estrangeiros a sugerir que, se o problema é o aumento de casos em Lisboa, se deixe vir os britânicos sem passar pela capital (leia mais aqui). Até Marcelo Rebelo de Sousa considerou a decisão singular, criticando Boris Johnson: “Na vida das pessoas, como nos países, ora se está no alto, ora se está em baixo. E quando se está em baixo precisa-se dos outros. Quando se está no alto – ou quando se pensa que se está no alto – às vezes esquecem-se os outros”, lamentou o Presidente.

Tweet de António Costa
No ano passado, Portugal somou 48,8 milhões de dormidas de estrangeiros. Um quinto vieram do Reino Unido e dois terços deles tinham como destino o Algarve – sendo a Madeira o segundo local de férias de eleição dos britânicos (17,9%) e Lisboa o terceiro (10,8%). O Reino Unido é mesmo já o principal mercado emissor de turistas para o país, representando 20% das dormidas (9,4 milhões), 18% das receitas turísticas (3,3 mil milhões de euros) e 13,2% dos hóspedes que recebemos.
Pelo que a não integração no corredor aéreo com o Reino Unido nos pesa mais. São perto de 4 mil milhões de euros que não entrarão num ano que já se prevê o mais difícil de sempre para o setor turístico.
Leia aqui: Turismo antecipa revés na retoma
“O impacto é enorme não só para o turismo, como para a riqueza da região e do próprio país”, estimou o presidente da principal associação hoteleira do Algarve, Elidérico Viegas.
A lista publicada na sexta-feira, e que entra em vigor dia 10, tem 59 países e territórios onde os britânicos estão autorizados a passar férias sem cumprir quarentena no regresso, incluindo Espanha, Alemanha, Grécia, Itália, Macau ou Jamaica.
Deixe um comentário