A estratégia fiscal desenhada em Roma pode ser “um acidente à espera de acontecer” – mas apenas mais tarde. Ainda assim, os mercados não esperaram para penalizar os bancos de Itália e os custos da dívida do país. As ações das instituições estavam ao início da tarde desta sexta-feira a perder mais de 6% em bolsa e os rendimentos da dívida italiana foram já acima dos 3%, depois de a coligação governamental italiana ter fixado o défice para o próximo ano em 2,4% do PIB – e não abaixo dos 2% como vinha sendo esperado.
Dentro de duas semanas, o governo italiano apresentará as linhas orçamentais à Comissão Europeia e, para os analistas do banco alemão Berenberg, o documento poderá valer um procedimento por desvio significativo da parte de Bruxelas, primeiro, e mais tarde um procedimento por défice excessivo, se for entendido que ao longo dos próximos três anos não se avistará uma trajetória de redução de dívida conforme com o Pacto de Estabilidade e Crescimento.
Holder Schmieding, economista do Berenberg, diz que “uma crise de dívida italiana é ainda um acidente à espera de acontecer”. Mas não um a esperar para já. “Com um défice fiscal abaixo de 3%, um excedente da balança corrente, e um economia que está pelo menos a crescer modestamente, Itália não é a primeira candidata a uma crise de dívida imediata”, defende.
“A Itália pode sofrer uma crise de dívida genuína quando a próxima recessão (esperada talvez em 2021) tiver exposto as fraquezas subjacentes de Itália ao mesmo tempo que reduz o apetite por risco dos investidores”.
As fraquezas que mais têm sido identificadas na economia italiana são os seus bancos. No próximo mês, as agências Moody’s e Standard & Poor’s irão rever o rating de Itália. Os analistas da Credit Sights acreditam que a Moody’s irá baixar o rating ao país (Baa2, neste momento) e identificam as instituições financeiras que terão a vida mais dificultada.
“Em geral, vemos os riscos políticos domésticos, possivelmente levando a descidas de rating, alinhados com prazos mais rígidos da União Europeia a serem impostos aos nomes mais fracos (como Carige e Monte [Dei Paschi]) para levantarem capital, como condutores negativos dos custos do crédito dos bancos italianos a curto prazo”, escreve Paola Biraschi, analista de banca europeia.
A reação negativa do mercado às metas orçamentais italianas está hoje a tomar como um todo as bolsas europeias, afetando sobretudo os bancos do continente. O índice europeu Stoxx 600 tem estado a registar perdas abaixo de 1%, com o setor financeiro a cair acima de 2%. Os bancos italianos estão entre os mais penalizados, mas também o espanhol Santander, o britânico Lloyds e o português BCP enfrentam quedas acentuadas.
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