Partilhareste artigo
“Lutamos pelo direito à habitação e por permanecer nos espaços, por uma vida digna para todas as pessoas e por medidas que travem a crise climática. Estas são duas lutas contra o capital, que coloca a especulação e o lucro acima da vida”, lia-se na informação difundida pelas plataformas “Casa para Viver” e “Their Time to Pay”, duas das promotoras de um conjunto de manifestações pelo direito à habitação e pela justiça climática.
Relacionados
Os protestos começaram, ainda na parte da manhã, no Barreiro, Beja, Évora, Portalegre e Tavira, tendo decorrido, à tarde, em Lisboa, no Porto, Aveiro, Braga, Coimbra, Covilhã, Guimarães, Lagos, Leiria, Portimão, Viseu, Samora Correia e Alcácer do Sal.
Em Lisboa, centenas de manifestantes aglomeravam-se na Alameda D. Afonso Henriques, munidos com faixas, tambores, bandeiras e casas de cartão. No Porto, pelo menos, oito mil pessoas ocuparam toda a extensão da rua de Santa Catarina, desde a Praça da Batalha até à Rua de Fernandes Tomás.
Em Faro, a concentração iniciou-se pelas 15 horas no jardim Manuel Bívar, e cerca de uma hora depois, eram já mais de cem as pessoas, de cerca de nove movimentos cívicos, no protesto promovido pelo Movimento “Porta a porta”.
A representante do Porta a Porta, Ana Tarrafa, disse à agência Lusa que a afluência de manifestantes “superou as expectativas, numa região onde o turismo acentua a falta de casas para arrendamento, para médicos, professores e estudantes, entre outros”.
Subscrever newsletter
BE: “Dizer o que é óbvio”
O BE defendeu neste sábado que as manifestações são uma forma de pressionar o Governo de maioria absoluta do PS a resolver problemas como o da habitação, e o PCP criticou a falta de respostas para este “drama social”.
Em declarações aos jornalistas, em Lisboa, no protesto pelo direito à habitação e pela justiça climática, a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, criticou a maioria parlamentar do PS por chumbar “todas as medidas que podem ter um efeito prático no direito à habitação” e por se “juntar à direita que defende a especulação”.
“Só que em maioria absoluta há uma única forma de pressionar o Governo a aprovar leis e a resolver um problema: pessoas na rua, é a mobilização popular e social que vai pressionar o Governo. É por isso que esta manifestação é tão importante” sublinhou.
A bloquista considerou que estava perante “uma multidão que se junta para dizer o óbvio: que o direito à habitação, que a necessidade de ter uma casa, uma casa que um salário possa pagar é muito mais importante e vale muito mais do que a especulação, do que o negócio, do que o lucro fácil”.
“E até agora a verdade é que esse negócio tem mandado nos destinos do país”, lamentou.
PCP: “Medidas insuficientes, tardias, limitadas”
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, também esteve presente no protesto e criticou as medidas do Governo para o setor da habitação, que classificou como “insuficientes, tardias, limitadas”.
“Estamos perante um drama social, de uma grande dimensão, um problema que afeta milhares e milhares de pessoas, que todos os dias se vão privando das suas necessidades mais básicas para fazerem tudo para aguentar aquilo que é o seu maior bem, que é o seu lar, a sua casa, a sua habitação”, alertou.
Raimundo avisou que “há pessoas que já não aguentam mais as rendas, o brutal aumento das prestações” e defendeu que este é um problema “que é preciso enfrentar de frente, com medidas concretas”.
O líder comunista criticou ainda os lucros da banca: “O escândalo que é, quando estamos todos apertados, apertadíssimos, a banca consegue acumular 11 milhões de euros de lucros por dia, nem vale a pena fazer mais comentários”.
Questionado sobre o facto de três deputados do Chega terem sido, ao início da manifestação, escoltados pela PSP para fora do local, após protestos dos participantes, Paulo Raimundo não quis “alimentar” o tema, dizendo apenas: “Se as pessoas vieram cá com um propósito, infelizmente conseguiram-no e está feito”.
Já a líder bloquista Mariana Mortágua considerou “natural” a reação dos manifestantes presentes.
“Parece-me só natural que um partido de extrema-direita que defende a especulação imobiliária e o negócio imobiliário não seja bem recebido numa manifestação pelo direito à habitação”, disse.
“Uma emergência”, diz o Livre
O co-porta-voz do Livre e deputado único do partido, Rui Tavares, considerou que o país está perante “uma emergência na habitação” e defendeu que seja criada “uma ajuda” para as pessoas que estão a pagar prestações de casa “sempre a aumentar, e isso tem que vir dos bancos”, argumentando que “os bancos estão a ter enormes lucros e foram os bancos que meteram os portugueses todos na taxa variável”.
“Do lado das rendas precisamos de ter um fundo para ajudar as pessoas nas rendas, uma parte pode vir do ‘superavit’ orçamental que no fim deste ano se anuncia. Mas também precisamos logo, já no próximo ano fiscal, de introduzir uma regra muito simples em que há valores de referência de rendas no país, todas as rendas que estão acima desses valores de referência – que podem ser até os valores de mercado como estão agora ou como estavam há pouco tempo – mas tudo o que comece a subir acima disso especulativamente paga mais imposto. Tudo o que for renda a preço mais acessível pode ter benefícios fiscais e isenções”, detalhou.
A ex-deputada do Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV) defendeu que a “habitação não é uma mercadoria, é um direito constitucional consagrado”, e o vice-presidente do Volt Portugal, Duarte Costa, considerou que “falta ao Governo liderança na criação de mais habitação pública”.
Deixe um comentário