“Trabalhar em Portugal não é condição suficiente para escapar à pobreza e devia ser”, defendeu, esta quarta-feira, Joaquim Miranda Sarmento que, na conferência “Portugal: Um país condenado a ser pobre?”, também lamentou os números da pobreza no país que afetam as crianças. “Não devia ser aceitável que houvesse crianças em situação de pobreza num país da União Europeia”, defende.
Numa apresentação que preparou para tentar responder à questão que serve de mote a esta conferência, o líder da bancada do PSD relembrou que “somos pobres no contexto europeu” e que um dos principais indicadores de pobreza está no nosso salário mediano, que é “o quarto mais baixo da União Europeia”. Para além do país ser pobre, é também “desigual nessa pobreza”, talvez resultado do facto da “economia portuguesa não crescer há mais de 20 anos” e ter passado por quatro recessões.
Economia deverá “crescer acima dos 3% ao ano”
“Não há fórmulas mágicas, mas a única maneira que temos de melhorar é com crescimento económico”, acredita o social democrata. “A única maneira de fazer crescer salários é fazer crescer a produtividade e fazer crescer a economia”, acrescenta, defendendo que “a economia portuguesa é pouco competitiva”.
“Temos imensos estudos sobre isto. Os estrangulamentos da economia portuguesa estão bem identificados”, indica. Para os combater, Miranda Sarmento defende “um caminho com duas componentes”: “por um lado, temos de deixar o mercado funcionar para criarmos riqueza, mas depois temos de ter políticas públicas”, ressalva, pedindo um “equilíbrio” entre estes dois universos.
“A principal prioridade do país deve ser voltar a crescer e crescer de forma prolongada, sustentada e no médio e longo prazo acima de 3% porque só isso nos permite voltar a convergir com a União Europeia, não ser ultrapassado pelos outros países da coesão e podermos proporcionar melhores salários, sobretudo às gerações mais novas”, argumenta o economista, que se mostra pessimista quanto à previsão feita pelo Conselho de Finanças Públicas, que aponta para um crescimento médio de 1,2%. Um cenário “aterrador”, sublinha.
“Com todas as reservas que projeções a 15 anos nos devem colocar, o cenário que o Conselho de Finanças Públicas ontem divulgou é um cenário aterrador, porque passamos de um crescimento do PIB potencial próximo de 2% – e, como já vimos, é manifestamente insuficiente para aquilo que o país precisa – para crescimentos de PIB potencial abaixo de 1% na próxima década”, explica.
“A escola pública é cada vez menos um elevador social”
“Assim que o efeito PRR e o efeito fundos europeus se esgotar, a economia portuguesa arrisca-se mesmo a não crescer mesmo nada”, reitera.
E como combater isto? Miranda Sarmento defende que a única forma de combater a pobreza é com o crescimento da economia global e a subida de salários, e destaca o papel do SNS e das escolas públicas enquanto “ferramentas para reduzir as desigualdades”, mesmo que a educação possa falhar nessa função.
“A escola pública é cada vez menos um elevador social”, lamenta, apesar de dar, de seguida, um exemplo que prova o contrário. “A minha melhor aluna no ISEG em 15 anos provinha de um ambiente socialmente desfavorecido e isso não a impediu de ser a melhor aluna na licenciatura e no mestrado”, partilha.
A conferência “Portugal: Um país condenado a ser pobre?” decorre esta quarta-feira de manhã na assembleia municipal de Vila Nova de Gaia, numa parceria entre aquela câmara e a Renascença.
[Notícia atualizada às 10h45 de 13 de dezembro de 2023]
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