O suspense mantém-se e pode permanecer até ao dia 31 de outubro, último dia para a entrega de candidatura de listas à liderança da Associação Mutualista Montepio (AMM). António Tomás Correia, que está na liderança do Montepio há uma década, ainda não indicou se se recandidata mas ao Dinheiro Vivo lembra que a associação está agora sujeita “a um maior escrutínio”, após a aprovação do novo Código das Mutualidades.
A assembleia geral eleitoral da AMM, que completou no dia 4 de outubro os 178 anos, está marcada para o próximo dia 7 de dezembro. O arranque da data para entrega de listas foi a 1 de outubro.
António Godinho, que nas eleições anteriores ficou em segundo lugar, pede transparência e democracia neste processo eleitoral.
O ex-quadro do Caixa Económica Montepio Geral e fundador do grupo Onebiz ainda está a tentar um acordo para que haja uma única lista que concorra contra a lista de Tomás Correia.
“Eu estou focado numa lista única”, disse António Godinho ao Dinheiro Vivo. Mas o mais certo é que haja, pelo menos duas listas.
Um dos objetivos da lista ou listas concorrentes é que as “eleições sejam democráticas e livres”, “ao contrário das anteriores”, afirmou Godinho, cuja lista ficou em segundo lugar nas últimas eleições, com 21,5% dos votos.
“Vamos lutar para que haja cadernos eleitorais, que não houve nas últimas eleições, e que seja feita a certificação das assinaturas de forma apropriada”, exemplificou. Godinho pediu a impugnação dos resultados das últimas eleições mas a sua pretensão foi recusada pela Justiça. Mas o Tribunal da Comarca de Lisboa recomendou a revisão do modelo eleitoral na associação.
Três na corrida
Para já, parece certa a existência de pelo menos três listas candidatas. O atual presidente da Associação, Antonio Tomás Correia, mantém o suspense sobre se vai ou não recandidatar-se, liderando uma lista para estas eleições. Mas poderá também vir a apoiar uma lista que prossiga com a sua estratégia. Mas entretanto já classificou as listas opositoras como não sendo credíveis.
Além desta, haverá pelo menos mais duas que foram derrotadas nas eleições anteriores, em 2015, às quais concorreram cinco listas.
No dia 3 de outubro, Fernando Mendes Ribeiro, administrador da associação, oficializou a sua candidatura à liderança da mutualista num encontro com os subscritores do manifesto denominado ‘Construir a Confiança’. O economista e ex-secretário de Estado da Segurança Social foi autor de um artigo de opinião publicado no jornal Público em março no qual pedia um virar de página a associação.
Conta com João Costa Pinto, ex-vice-governador do Banco de Portugal, como candidato à liderança do conselho geral da associação. A sua lista conta com nomes de peso, incluindo Norberto Pilar, ex-presidente da TAP e dos CTT, e João Proença, ex-secretário-geral da UGT.
Fernando Mendes Ribeiro defende um reforço da democracia representativa na associação. “É urgente preparar a reforma dos estatutos à luz do novo Código mutualista, criando condições para a plena participação dos associados na vida do Montepio, reforçando a democracia representativa, introduzindo o voto eletrónico”, afirmou no mesmo encontro.
Este candidato defende ainda “a definitiva separação de águas entre a mutualidade e a sua caixa económica, concretizando a real abertura de capital social desta a entidades da economia social nacional e internacional e assegurando a condução do negócio bancário com total autonomia de gestão, alinhada com os valores mutualistas e visando o lucro para valorizar a poupança dos associados”.
Em causa, está a luta pela liderança de uma entidade que conta com mais de 620 mil associados e um ativo líquido de quase quatro mil milhões de euros, no final de 2017.
Tomás Correia afirmou recentemente em declarações à agência Lusa que as listas de oposição “não têm qualidade”. Na mesma ocasião, Tomás Correia disse acreditar que no futuro o Montepio e o Crédito Agrícola podem vir a formar “um grande banco”.
Os seus opositores criticam a estratégia seguida por Tomás Correia à frente do Montepio e da associação. “O grupo deixou de ser uma mutualista e passou a ser uma holding de negócios”, apontou António Godinho, fundador do grupo Onebiz. “Houve um conjunto de más decisões que prejudicaram os associados, sobretudo nos últimos seis anos”, afirmou.
O facto do nome de Tomás Correia aparecer em processos na justiça no Banco de Portugal é outro motivo apontado por Godinho para que haja mudança na liderança da associação.
Ao DV, Tomás Correia frisa que as decisões do passado, nomeadamente nos momentos mais difíceis, foram “decisões tomadas colegialmente pelo órgão de administração, e com o competente suporte do seu conselho geral”. E que é graças a essas decisões que hoje a AMM pode “olhar para o futuro com mais confiança”.
Em termos de futuro, “nos tempos mais próximos, a AMM estabelecerá um calendário de adaptação ao novo enquadramento de supervisão previsto no Código Mutualista. Frisa que a AMM “está para cooperar com as autoridades, de forma competente”, o que “ vai ter implicações ao nível da alteração dos Estatutos da AMM, e também ao nível da sua organização interna”.
Polémicas
Os opositores de Tomás Correia têm esperança de que, desta vez, haja mudança na liderança da Associação.
Tomás Correia, que está há uma década na liderança do Montepio, está sob investigação num processo do Ministério Público relacionado com Operação Marquês.
Este ano, voltou a estar envolto em temas polémicos. Em março, a associação apresentou os resultados de 2017, tendo passado de um lucro líquido de 7,4 milhões de euros em 2016 para 587,5 milhões no final do ano passado. O resultado foi conseguido graças à ajuda de créditos fiscais superiores a 800 milhões de euros.
Em junho, uma notícia do Jornal de Negócios dava conta que Tomás Correia, em conjunto com oito ex-gestores da CEMG, foram acusados pelo Banco de Portugal de irregularidades graves. Segundo o jornal, o supervisor decidiu iniciar um novo processo por alegado financiamento ao Grupo Espírito Santo quando este já se apresentava em dificuldades e por alegado financiamento a Paulo Jorge Guilherme, filho de José Guilherme, através do Finibanco Angola.
Num outro processo, segundo o Diário de Notícias, o Banco de Portugal acusou a antiga administração do Montepio, liderada por Tomás Correia de não implementar medidas de prevenção de lavagem de dinheiro, já que o sistema informático da instituição não registou determinados clientes como ‘pessoas politicamente expostas’ (PEP).
O processo de investimento da Santa Casa no CEMG também não foi pacífico e ficou muito abaixo do inicialmente apontado. E a venda dos seguros do Montepio aos chineses da CEFC também não avançou.
E a mudança de liderança no banco também foi pautada por avanços e recuos. Félix Morgado deixou a liderança do banco num clima de rutura com Tomás Correia, que apontou Nuno Mota Pinto para substituir o gestor. Mas o que seria o novo CEO do Montepio o acabou por ficar como administrador. E o Banco de Portugal chumbou o nome de Francisco Fonseca da Silva indicado para chairman do banco. Acabou por ser Carlos Tavares, ex-presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários a ficar como CEO e chairman transitoriamente.
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