O Montepio pode vir a ser o banco português a sofrer mais com uma crise prolongada em setores de risco altamente deprimidos devido à pandemia de covid-19. Na lista, segue-se o Novo Banco, depois o Millennium BCP, o Crédito Agrícola e, mais afastada, a Caixa Geral de Depósitos (CGD).
A lista surge num estudo do economista Eric Dor, diretor de estudos económicos da escola de gestão IÉSEG, em Lille, França, que avaliou mais de uma centena de bancos europeus para determinar a exposição do sistema financeiro deste espaço à crise sanitária desencadeada pela covid-19.
O estudo procura calcular o impacto na solidez financeira do sistema financeiro tendo em conta os rácios de capital próprios (CET1). Trata-se de um indicador que mede a solidez de um banco e cujos critérios de definição foram apertados depois da crise financeira de 2008/09. É uma espécie de almofada para amortecer os efeitos de um grande impacto nas contas das instituições.
“A intensidade com que um mesmo setor é impactado depende do país”, indicou o economista num comentário enviado ao Dinheiro Vivo. “Um banco está especialmente em risco quando está muito exposto a um setor que é altamente impactado nesse país”, aponta o diretor de estudos económicos do IÉSEG. O economista considerou cinco setores para este exercício: comércio grossista e retalhista, construção, indústria, alojamento e restauração e transporte e armazenamento.
“No que diz respeito aos bancos portugueses, a exposição a setores de risco, em percentagem do capital próprio CET1, é de 261,06% para a Caixa Económica Montepio Geral, 238,04% para o Novo Banco, 198,89% para o Banco Comercial Português, 195,06% para o Crédito Agrícola”, acrescenta o economista francês.
O economista sublinha, no entanto, que os níveis de capital são elevados. No caso do Montepio, no final de 2019, o CET1 era de 13,9%.
Itália em maus lençóis
Mas olhando para o universo europeu, os bancos portugueses estão numa posição relativamente confortável, comparando com os parceiros italianos, espanhóis ou gregos.
“Observa-se, por exemplo, que muitos bancos italianos estão fortemente expostos à indústria e ao comércio a retalho, setores fortemente deprimidos pela crise neste país. É também o caso de alguns bancos espanhóis e gregos”, sublinha o economista.
A soma de créditos a setores deprimidos de alguns bancos considerados representa quatro vezes o seu rácio de capital CET1, dizimando a almofada desses bancos. Na lista dos dez primeiros bancos mais expostos, seis são italianos. Os restantes são espanhóis, gregos, franceses e búlgaros.
O mais problemático, de acordo com este estudo, é o italiano Credito Emiliano com uma exposição – em percentagem dos créditos face ao rácio CET1 – superior a 540%. Aqui ao lado, em Espanha, a instituição com maior exposição é o Bankinter, que tem presença em Portugal. Na Grécia, o Piraeus surge como o mais problemático.
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