Em menos de um ano, o mundo mudou por causa das guerras comerciais e com o espetro de uma nova recessão ou crise. De acordo com um estudo da Moody’s, o futuro próximo da banca sediada em Portugal passou de “positivo” a “estável”. O rating fica igual.
O abrandamento da economia será uma das principais causas para esta moderação nas expectativas, refere a empresa que avalia a qualidade de crédito.
Segundo a Moody’s, as regras dos apoios do Estado a bancos em caso de crise passaram a ser mais apertadas desde 2015 o que faz com que apenas os bancos de dimensão sistémica (os grandes) sejam elegíveis para esse tipo de ajudas.
Nessa eventualidade, em que a economia se degradava ao ponto de ter de haver novos apoios aos bancos, a Moody’s diz que apenas os dois grandes — CGD e BCP — poderiam aceder a esse tipo de ajudas por serem entidades com dimensão “sistémica”. Os outros, os bancos mais pequenos, podem não vir a ter esse tipo de rede de segurança pública numa futura crise, por exemplo, por não cumprirem as novas regras europeias.
Segundo a Moody’s, de acordo com essas novas regras europeias, há “probabilidade moderada” de BCP e CGD poderem ter acesso a apoios caso necessitem no futuro.
Por enquanto, os bancos parecem estar bem, mesmo com a economia a soluçar. Os resultados até setembro cresceram, no caso do BCP, 5% (para 270,3 milhões) e no caso da CGD, 74% (para 640,9 milhões).
Este novo estudo sobre os bancos em Portugal recaiu sobre seis grupos que, segundo a Moody’s, representavam cerca de 82% do mercado no final do primeiro semestre. “Portugal tem um sistema bancário altamente concentrado”, comenta o avaliador. Os grupos analisados foram, por ordem de grandeza (valor dos ativos): CGD, BCP, Santander Totta, Novo Banco, Banco BPI e Montepio.
Maria Viñuela, analista principal da Moody’s para o setor bancário, que segue a realidade nacional, refere que “as condições de capital, rendibilidade e financiamento dos bancos portugueses mudaram de positivas para estáveis na previsão dos próximos 12 a 18 meses” e que isso é em parte um reflexo do “crescimento económico do país, que deve desacelerar, em linha com o que está a acontecer na zona euro”.
Em dezembro de 2018, quase há um ano portanto, a Moody’s tinha promovido o cenário da banca para “positivo”, considerando que as condições de capital, rendibilidade e financiamento iriam melhorar.
Agora não é bem assim. “Esperamos que essas condições se mantenham estáveis”, diz Viñuela que, no entanto, continua a acreditar que os bancos vão “reduzir ainda mais” os seus créditos improdutivos [onde se inclui o malparado].
Ainda assim, “a rendibilidade [lucros] provavelmente permanecerá próxima dos níveis reduzidos atuais”, diz a mesma analista. A Moody’s espera que os bancos venham a gastar menos com provisões e que continuem a reduzir custos de modo a “compensar amplamente o andamento mais fraco do volume de negócios e as taxas de juros muito baixas”.
Menos crescimento complica tudo
A Moody’s, que a 12 de outubro último subiu o rating da República para Baa3 (grau de investimento, com tendência positiva), parece estar agora menos crente na força do crescimento português nos próximos tempos, já que esta deve começar a sofrer o impacto das condições agrestes da economia internacional e, particularmente, da europeia.
“O crescimento económico de Portugal tornou-se mais moderado no primeiro semestre de 2019, para 1,9%, e a Moody’s espera que diminua ainda mais, para 1,7%, em 2019 como um todo e depois convirja gradualmente para uma taxa potencial estimada em torno de 1,5%.”
A Moody’s está, assim, mais pessimista neste ponto de partida que é 2019. O Banco de Portugal e a Comissão Europeia projetam um crescimento de 2% neste ano. O Ministério das Finanças e o FMI dizem 1,9%.
A agência de rating relembra ainda que, “embora as condições de crédito no país tenham melhorado, o endividamento das famílias permanece acima da média da área do euro”.
Além disso, o crédito em incumprimento, embora tenda a cair com as muitas vendas de carteiras de malparado que estão a ser realizadas, “vai permanecer alto” comparativamente com os padrões europeus.
Em Portugal, o rácio de incumprimento total (peso do malparado no valor total dos empréstimos) “era de 8,9% no final de junho, o que compara com a média 3% na União Europeia”.
Ainda assim, a avaliadora deixa uma nota mais positiva. “As necessidades de financiamento dos bancos portugueses permanecerão baixas, graças à desalavancagem e a uma base estável de depósitos”. O financiamento ultrabarato do BCE também ajuda quando for a hora de reembolsar o banco central.
O facto de a economia perder gás, de as famílias e as empresas privadas continuarem a estar demasiado endividadas e de os níveis de malparado serem muito elevados fazem temer pelo músculo dos bancos a prazo.
BCP e CGD podem beneficiar, bancos mais pequenos talvez não
Por isso, “assumimos que existe uma probabilidade moderada de apoios do governo aos dois maiores bancos portugueses, CGD e BCP” caso seja necessário, escreve a agência neste novo estudo. Relativamente aos outros quatro bancos, a probabilidade de poderem beneficiar desse tipo de ajudas estatais “é baixa” porque são bancos menos relevantes para a estabilidade do sistema.
Estamos a falar essencialmente do Montepio, pois Santander e BPI são detidos por espanhóis. Eventuais ajudas teriam de ser decididas em Espanha.
Recorde-se que esta análise da Moody’s já estará a contar com o enorme pacote de ajuda ao Novo Banco (NB) via Fundo de Resolução, que foi contratualizado e decidido em setembro de 2017. Este prevê que o Estado injete no NB até um máximo de 3890 milhões de euros, com um limite anual de 850 milhões.
* Atualizado às 15h00 com a clarificação de que CGD e BCP são, pela sua dimensão sistémica, os bancos elegíveis (com “probabilidade moderada”) para apoios do Estado no futuro, em caso de nova crise.
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