Os bancos europeus terão de devolver entre 2020 e 2021 os empréstimos grátis concedidos pelo Banco Central Europeu. E isso terá impacto na rentabilidade das instituições financeiras que mais dependem da liquidez do banco central, casos dos bancos portugueses e espanhóis, segundo a Moody’s.
Ainda assim, a agência considera que o setor está a preparar bem a estratégia para pagar os empréstimos obtidos ao abrigo das operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas (TLTRO, na sigla em inglês), o que limita os riscos de refinanciamento. E defende que as receitas com comissões ajudarão a aguentar o impacto da troca de empréstimos com juros de 0% concedidos pelo BCE por outros tipos de financiamento.
“Apesar de a margem financeira [a diferença entre o juro a que os bancos emprestam e o custo que têm para se financiar] ser afetada quando os bancos tiverem de substituir o financiamento dos TLTRO como fundos mais caros obtidos no mercado, esperamos que os bancos espanhóis e portugueses compensem, no mínimo parcialmente, esse custo mais elevado com outras fontes de receita como as das comissões dos seus negócios de seguros e gestão de ativos”, refere a Moody’s numa nota divulgada esta segunda-feira.
Apesar de não mencionar subidas nos preçários, a Moody’s acredita que “a receita com comissões para os bancos ibéricos irá continua a subir em 2019, beneficiando de um mais lento mas ainda positivo crescimento económico nos dois países”.
Banca nacional deve 18,9 mil milhões. Novo Banco pode precisar de ir ao mercado
A Moody’s sublinha que os bancos ibéricos estão entre os que podem enfrentar mais riscos no processo de reembolso dos TLTRO. “Em conjunto com Itália e Grécia, os bancos espanhóis e portugueses lideram o ranking dos que mais dependem do financiamento do BCE em percentagem dos ativos totais. Este financiamento representa 6,5% e 4,8% do total dos ativos, respetivamente, no final de setembro de 2018, o que compara desfavoravelmente com a média europeia de 2,5%”, observam os analistas da agência.
O BCE fez várias rondas deste tipo de financiamento entre 2014 e 2016. Concedia valores ilimitados de dinheiro com um juro de 0%, desde que os bancos utilizassem esse dinheiro para financiarem a economia. Foi uma das medidas extraordinárias tomadas por Mario Draghi para garantir a recuperação da zona euro e evitar que se caísse num cenário de deflação.
Os bancos portugueses foram dos que mais recorreram a esses empréstimos, o que ajudou a diminuir a pressão sobre a margem financeira (a diferença entre o juro a que os bancos emprestam e o custo que têm para se financiar). A dependência do BCE tem descido nos últimos anos. Mas o setor nacional ainda deve cerca de 18,9 mil milhões ao Eurosistema, segundo os dados mais recentes do Banco de Portugal. Apenas a Caixa Geral de Depósitos já pagou antecipadamente a totalidade do TLTRO.
Apesar de se estar a aproximar o prazo para devolver esse dinheiro e da dependência ser elevada, a Moody’s realça que “em geral, os bancos ibéricos dispõem de sólidas almofadas de liquidez comparando com a média da União Europeia”. No caso da banca portuguesa o rácio de cobertura de liquidez, que resulta da divisão entre os ativos de qualidade elevada e o total de saídas líquidas de fundos durante um período de stress de 30 dias, é de 182%. O mínimo exigido é 100%. Em Espanha esse indicador é de 160% e a média europeia situa-se em 148%.
A Moody’s defende que o risco de refinanciamento dos TLTRO é mitigado pela elevada liquidez dos bancos ibéricos. Realça que isso é “particularmente relevante para os bancos portugueses”. Mas nota que o Novo Banco “está fortemente exposto aos TLTRO e deve 6,5 mil milhões de euro o equivalente a 12,6% do total de ativos no final de junho de 2018”. Explica que o “banco não fez nenhum comunicado público sobre a sua estratégia de refinanciamento do BCE, mas com um rácio de cobertura de liquidez de 138% precisará de recorrer ao mercado de capitais para substituir os seus fundos TLTRO”.
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