Vai fazer um ano, a 9 de agosto próximo, que a agência de rating Moody’s mantém intactos o rating (nota da dívida) e a perspetiva para a qualidade do crédito (outlook) de Portugal. Esta sexta-feira, ao final do dia, começo da noite, estava agendada uma avaliação, mas a agência decidiu nada fazer, de acordo com uma nota oficial.
Mantém-se assim o rating em Baa3 (um nível apenas acima do chamado lixo ou grau especulativo) e o outlook continua a ser positivo (ver gráfico no final deste texto).
Entretanto, duas das outras agências de referência (Standard & Poor’s, Fitch) já atualizaram a sua avaliação este ano, incorporando as novas condições e alguns efeitos das fortes restrições impostas à economia por causa da pandemia de covid-19.
A 20 de março passado, a DBRS manteve tudo: o seu rating BBB (alto) e o outlook estável foram “reafirmados”.
No caso das outras duas foi diferente. Deixaram os primeiros avisos à navegação.
A 17 de abril, a Fitch decidiu manter a nota em BBB, mas reduziu a perspetiva da qualidade do crédito do País de positiva para estável, o que pode ser lido como um aviso de que pode cortar na nota na próxima avaliação.
Poucos dias depois, a 24 de abril, a S&P fez o mesmo. Manteve a nota em BBB, mas reduziu o outlook de positivo para estável.
A DBRS tem mais uma avaliação agendada para este ano, para o dia 18 de setembro. A Fitch também (20 de novembro) e idem no caso da S&P (11 de setembro).
A Moody’s já não mais nenhuma ação de rating agendada para este, tendo esgotado assim as duas ocasiões programadas para mexer na notação da República. A 17 de janeiro decidiu nada fazer. Esta sexta-feira foi igual.
Mas isso não tem impedido a Moody’s de ir debitando sucessivas opiniões de crédito sobre Portugal, mesmo sem mexer no rating e no outlook. Fê-lo a 21 de janeiro e depois a 9 de abril.
Esses comentários têm sido feitos com especial cautela, mas como a situação é altamente incerta e o Banco Central Europeu está a segurar de forma incondicional a dívida dos países do euros (com as bazucas, os programas de compras massiva de obrigações do tesouro aos bancos comerciais), a agência deve querer esperar para ver.
Recorde-se que fez agora nove anos que a Moody’s foi logo a primeira das grandes agências a atirar a dívida portuguesa para um nível considerado “lixo”, no jargão dos mercados.
Em outubro de 2018, a agência tiraria Portugal desse grupo problemático, promovendo a dívida à categoria de “investimento”. Isto é, deixou de ser lixo. A Moody’s seria a última empresa de notação de crédito a fazê-lo.
Como referido, esta sexta manteve tudo pelo que assume os fundamentos que a levaram a melhorar o outlook em agosto do ano passado.
Nessa altura, a Moody’s disse que a perspetiva passou a ser “positiva” devido ao “contínuo declínio do fardo da dívida pública a uma velocidade maior do que o anteriormente antecipado” e “à perspetiva de melhorias sustentadas na saúde do setor bancário português”.
Mas há um detalhe que pode ajudar a explicar este ano de reserva da Moody’s em termos de avaliação. Esta agência é a única que classifica a dívida de longo prazo de Portugal numa nota que está apenas um nível acima do ‘lixo’. Qualquer movimentação mais desfavorável tem de ser muito bem justificada.
As restantes agências colocam a notação da dívida nacional no segundo nível da categoria de investimento. Ou seja, tem mais margem de manobra até reduzirem o rating de Portugal para um nível lixo outra vez. Se for esse o caso, claro.
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