Quase metade das mulheres em Portugal trabalha nas profissões com remunerações mais baixas e só existe uma mulher para cada cinco homens em órgãos de decisão das empresas portuguesas, o que deixa Portugal na cauda da Europa.
No Dia Internacional da Mulher, que se assinala este sábado, a Pordata – base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos – divulga dados de vários fontes que ressalvam que as mulheres portuguesas ganham, em média, menos 16% que os homens – uma diferença de 238 euros por mês, ou de 2.856 euros por ano.
Este valor, do ganho médio mensal, inclui o salário, bónus, prémios e horas extraordinárias e revela uma grande diferença de ganhos entre homens e mulheres, em todas as profissões e sem exceção.
Em 2022, mulheres levavam para casa 1.238€, enquanto homens ganhavam 1.476€ em média. E a diferença é proporcionalmente maior, quanto mais elevado é o cargo: em quadros superiores, a mulher ganha, em média, menos 26% que o homem – uma diferença de 760 euros mensais, ou de mais de 9.100 euros por ano. Ou seja, quanto mais sobem na carreira, menos ganham em relação aos homens.
Esse diferencial é maior em setores específicos, como em “técnicos de nível intermédio de serviços” – em que a diferença entre homens e mulheres é superior a 2 mil euros por mês -, mas existe em todos os setores.
Em trabalhadores não qualificados, mulheres recebem em média 879 euros e homens mais de mil. Em representantes do poder legislativo, mulheres recebem cerca de 2.500 euros e homens ganham mais de 3.100.
E não é só em salário que a mulher é menor nos cargos superiores. É também em presença.
Segundo a Pordata, nos órgãos de decisão das empresas, havia menos de uma mulher por cada cinco homens (17%) nos cargos seniores. O número coloca Portugal no fim do “ranking” dos países europeus, ficando em 22.º lugar entre os 27 Estados-membro.
Em termos de população, as mulheres estão em maioria na população portuguesa (52%) e a proporção de mulheres aumenta ao longo dos escalões etários.
“Por cada 100 mulheres, existem 92 homens, colocando o país em 4.º lugar dos 27 países da União Europeia (UE27) com menor número de homens por cada cem mulheres”, refere a Pordata, sublinhando, no entanto, que o cenário varia consoante o escalão etário.
Entre o grupo dos zero aos quatro anos, há mais homens do que mulheres, “mas a proporção aumenta gradualmente até aos 70-74 anos (54,4% de mulheres)” e, segundo a Pordata, é “bastante superior no escalão etário mais elevado: a partir dos 100 anos, há quatro vezes mais mulheres do que homens”.
Em relação ao mercado de trabalho, “Portugal tem uma das maiores taxas da União Europeia de participação feminina no mercado de trabalho” e as mulheres portuguesas trabalham sobretudo a tempo inteiro, apesar de haver uma “grande precariedade de vínculos contratuais”, já que “quase uma em cada cinco mulheres tem um contrato de trabalho temporário”.
Por outro lado, quase metade (49%) das mulheres empregadas trabalhavam em três das categorias de profissões que auferem salários mais baixos e na categoria de trabalhadores não qualificados, as mulheres representam 69% do total de trabalhadores.
A vulnerabilidade das mulheres reflete-se também no risco de pobreza que, no geral, é mais elevado do que nos homens.
“Em particular, [é] mais elevado nas mulheres com 65 anos ou mais, e maior também nas famílias monoparentais com filhos (onde, uma grande maioria — 90%, o adulto sozinho com as crianças é mulher)”, refere a Pordata.
Já no que diz respeito à educação, as mulheres apresentam menores taxas de abandono escolar em comparação com os homens e têm uma presença significativa no ensino superior.
“Entre os 25 e os 64 anos, 34% das mulheres concluíram a licenciatura, em contraste com 25% dos homens. Essa diferença torna-se ainda mais evidente na faixa etária dos 25 aos 34 anos, onde 48% das mulheres possuem um diploma universitário, em comparação com 35% dos homens”, diz a Pordata.
Noutro indicador analisado, a Pordata constata que as mulheres portuguesas têm vindo a adiar a maternidade, com a idade ao primeiro filho a ultrapassar os 30 anos, ao mesmo tempo que as gravidezes na adolescência têm diminuído.
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