Em Portugal, a diferença de salários entre homens e mulheres é três vezes maior no setor privado do que no setor público, cresce com a antiguidade na empresa, é maior em pessoas com graus de ensino superior e, apesar de ter vindo a diminuir nos últimos anos, teremos de esperar 135 anos para que a disparidade entre géneros desapareça.
No Dia Internacional da Igualdade Salarial, que se assinala esta quinta-feira, a Renascença junta algumas estatísticas mais recentes sobre a disparidade entre o que homens e mulheres recebem ao final do mês em Portugal e que mostram o caminho ainda por percorrer.
Contas feitas, os números mais recentes da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE) mostram que as mulheres portuguesas ganham, em média, menos 15,9% que os homens – uma diferença de 242 euros por mês, ou de 2.904 euros por ano.
A cada mês, uma mulher em Portugal ganha por mês 1.327 euros, já com salário bruto mensal, bónus, prémios e horas extraordinárias, enquanto um homem recebe em média 1.569 euros.
Isso significa que, para uma mulher ter os mesmos ganhos que um homem num ano, tem de trabalhar mais 56 dias, ou seja, quase dois meses.
A disparidade salarial entre homens e mulheres aumenta à medida que aumentam as habilitações, os anos de antiguidade e a responsabilidade dentro da empresa.
Mas vamos por partes. Os dados do Barómetro das Diferenças Remuneratórias entre Mulheres e Homens, referentes a 2023 e publicados em março deste ano, apontam que um homem em quadros superiores tem um ganho médio mensal de 3.154 euros, em média, enquanto uma mulher ganha menos 836 euros por mês – ou 10 mil euros por ano -, tendo um ganho médio de 2.318 euros.
O topo da hierarquia salarial é onde as diferenças entre géneros se notam mais: nos patamares inferiores, como quadros médios, chefes de equipa ou profissionais qualificados, a diferença de remunerações não é tão grande – tanto em termos absolutos como em percentagem – e as diferenças de salários são quase nulas em profissionais não qualificados.
Aqui também é de sublinhar que não é só em salário que as mulheres estão em desvantagem nos altos cargos. Estão também em minoria.
Segundo os números mais recentes do Eurostat, em 2022 havia em Portugal menos de uma mulher por cada cinco homens em conselhos de administração (17%), um número que coloca o nosso país entre os seis piores da União Europeia, apenas atrás de Polónia, Itália, República Checa, Áustria e Luxemburgo.
Nas habilitações, o cenário é o mesmo: uma mulher com ensino superior recebe, em média, 1.898 euros por mês, enquanto um homem ganha 2.572 euros – uma diferença de 35% que representa mais de 8 mil euros por ano. Entre homens e mulheres com o ensino secundário ou com o ensino básico, a diferença é muito menor.
E por antiguidade na empresa onde trabalham, as diferenças entre homens e mulheres são ainda mais notórias: um homem com menos de um ano a trabalhar recebe, em média, 1.322 euros por mês; uma mulher que trabalhe há 9 anos na mesma empresa recebe menos – em média, 1.309 euros mensais.
No entanto, a diferença de salários explica-se pelos setores onde as mulheres e os homens trabalham: quase metade (49%) das mulheres empregadas trabalham em três das categorias de profissões com salários mais baixos e representam mais de dois terços (69%) dos trabalhadores não qualificados, apesar de haverem mais mulheres com licenciatura do que homens, na faixa etária entre os 25 e 64 anos. Estas englobam profissões como cozinheiras, empregadas de mesa, empregadas de limpeza, vendedoras, cabeleireiras, esteticistas e trabalho de escritório.
Os números do Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social revelam ainda que o fosso é três vezes maior no setor privado do que no setor público: na Administração Pública, a disparidade salarial é de 6%, depois de ter chegado quase aos 18% em 2018; em empresas privadas, a disparidade salarial é a mais alta desde 2017 e está agora nos 17,7%.
Isso quer dizer que, para uma mulher no setor público ganhar o mesmo que um homem, tem de trabalhar mais 22 dias, qualquer coisa como três semanas, já uma mulher que trabalhe no setor privado terá de trabalhar mais de dois meses – 65 dias – para equiparar-se aos ganhos de um homem.
Comparando com outros países da União Europeia, este fosso entre mulheres e homens no público e privado só é inferior em três países: Polónia, Chipre e Itália. Em dois deles – Chipre e Itália -, as mulheres têm um salário médio superior aos dos homens no setor público.
Segundo a União Europeia, um quarto de toda a disparidade salarial entre homens e mulheres pode ser explicada pela sobrerepresentação de mulheres em setores menos bem pagos, como saúde ou educação, uma vez que uma em cada três mulheres e apenas 8% dos homens trabalham nestes setores.
Em Portugal, o setor com maior disparidade salarial entre homens e mulheres é o das atividades artísticas e no desporto, onde homens ganham 49% mais que mulheres. Ajustando a disparidade para funções semelhantes, a diferença é, ainda assim, de 15,9%.
Noutros setores, como o da ciência, consultoria, finanças, comunicação, transportes ou de indústrias transformadoras, a desigualdade salarial é superior a 10%. Esta diferença é menor na Administração Pública e Segurança Social, onde a disparidade para funções semelhantes é de 4,7%, no setor da eletricidade e água (4,2%) e em organizações internacionais (3,5%).
Como se compara Portugal na igualdade de género?
Segundo o Global Gender Gap Report, do Fórum Económico Mundial (FEM), Portugal caiu 17 lugares no seu índice que avalia a evolução da paridade em quatro dimensões: participação e oportunidades na economia; acesso à educação; saúde e sobrevivência e empoderamento político.
Ocupando agora a 34.ª posição, Portugal caiu mais dois pontos percentuais em relação ao ano passado, tal como países como Quénia, Nicarágua, Peru e Tajiquistão, e é atualmente o 18.º país europeu no índice.
Em relação a 2024, Portugal caiu dois lugares no campo das oportunidades das mulheres na economia, de 27.º para 29.º, e caiu 17 lugares no que toca à política, com a redução de mulheres no Parlamento e de ministras no Governo – dos 60 membros do executivo de Luís Montenegro, só 20 são mulheres, o peso mais baixo da última década.
Deixe um comentário