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Cinco décadas depois do registo da primeira patente de caixas automáticas (ATM), a 4 de junho de 1973, nos Estados Unidos, a invenção continua a fazer parte do dia-a-dia dos consumidores um pouco por todo o mundo e Portugal não é exceção. A inovação chegou a território nacional em setembro de 1985, com a criação da rede Multibanco, pela SIBS e, apesar de o país ter sido um dos últimos da Europa a aderir ao movimento, foi por cá que se desenvolveu um ecossistema de serviços que está hoje entre os mais avançados.
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E não é por acaso. Introduzir o cartão bancário numa qualquer máquina Multibanco dá acesso a um portal com mais de 60 operações possíveis, desde o levantamento de numerário ao pagamento de serviços, de impostos, sem esquecer o carregamento de telemóveis ou até de títulos de transporte.
“Muitas destas operações foram, na altura da sua introdução, absolutamente inovadoras a nível mundial”, assegura Teresa Mesquita. A responsável de produto da SIBS atribui a criação desta rede a uma procura, na década de 80, por mais eficiência na relação entre os clientes e a banca.
Esta transformação foi, na verdade, o primeiro de vários capítulos da transição digital no setor – primeiro com as caixas automáticas, mais tarde com o homebanking e, agora, com as aplicações móveis. “Não existem outros casos [no mundo] onde este fator de digitalização tivesse sido tão acelerado tão cedo”, acrescenta a responsável.
Atualmente, mais de 5 milhões de pessoas em Portugal utilizam o MBway, o serviço que levou as caixas automáticas e muitos dos seus serviços para o telemóvel. “Podemos ligar o ATM ao telemóvel para tirar dinheiro da máquina usando um código que geramos no MBway”, exemplifica Teresa Mesquita.
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Balcões em queda há 20 anos
Como todas as inovações, a introdução das caixas automáticas e a revolução digital que se seguiu tiveram impacto na forma como as pessoas utilizam os serviços bancários. Se há 40 anos, antes do nascimento do Multibanco, era preciso ir a um balcão para levantar dinheiro ou fazer uma transferência, tudo isso pode agora ser feito num ATM, num computador ou num telemóvel.
A consequência destas mudanças é visível na queda acentuada do número de balcões físicos das instituições financeiras – os dados do Banco de Portugal mostram que, entre 2010 e 2021, os espaços de atendimento bancário caíram 50%, de cerca de 7000 para aproximadamente 3500. De acordo com o Pordata, no mesmo período, a rede Multibanco perdeu 12,8% das máquinas automáticas – de 14 318 para 12 486 -, uma redução que pode estar relacionada com o fecho de balcões bancários onde estão, habitualmente, estas caixas.
Ainda assim, segundo o Eurostat, Portugal é o segundo país da zona euro com mais caixas ATM por habitante, apenas atrás da Áustria. “O país tem 1,4 ATM por cada 1000 habitantes, o que compara com [média de] 0,67 na Europa. É um número interessante”, complementa Teresa Mesquita.
A par da capilaridade das caixas automáticas em território nacional, o volume de operações anuais reflete a importância destas máquinas no quotidiano da população. A compilação de dados do Pordata indica que, em 2021, foram feitos mais de 64 milhões de pagamentos através da rede Multibanco, a que acrescem mais de 343 milhões de levantamentos de numerário. Traduzido para euros, significa que foram levantados 26,4 mil milhões de euros a partir destes ATM e realizados pagamentos de serviços no valor de 5,9 mil milhões de euros.
O setor da banca tem hoje menos balcões, um menor número de caixas automáticas e um crescimento da utilização dos serviços digitais. Aliás, segundo estatísticas da Associação Portuguesa de Bancos (APB), que reúne 24 entidades representativas de 90% do sistema, o recurso a soluções de homebanking tem vindo a aumentar em número de transações e no valor das operações.
Os últimos dados disponibilizados pela APB mostram que, entre 2018 e 2021, o número e valor das transações aumentaram 11,5% e 9,7%, respetivamente. Já o número de utilizadores (referente a apenas 13 dos associados da APB) subiu 10,3% em 2021 face ao ano anterior, o que “reflete a utilização crescente da banca digital, tendência que conheceu um maior dinamismo fruto do contexto da crise pandémica”.
Exportar a inovação portuguesa
Portugal é, frequentemente, apontado como um território de eleição para testes de mercado, não só pela sua dimensão, como também pela apetência que os portugueses parecem ter em relação à tecnologia. Com o Multibanco, não é diferente. “Lançámos uma rede semelhante na Roménia e temos uma rede de ATM na Polónia. Este sistema faz parte do nosso caminho de internacionalização”, explica Teresa Mesquita.
A SIBS assegura ainda o suporte tecnológico às caixas automáticas de Angola, Timor e São Tomé e Príncipe, mas em todas as geografias onde a empresa nacional tem presença há menos serviços disponíveis do que em Portugal, que continua a ser o mercado com o ecossistema mais completo e diversificado.
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