//“Não entendo o entusiasmo com o crescimento”

“Não entendo o entusiasmo com o crescimento”

Como avalia o desempenho de Mário Centeno?

Tenho a maior estima pessoal por Mário Centeno. Dito isto, devemos separar a avaliação do desempenho do Governo e de Mário Centeno em dois níveis: os indicadores macroeconómicos e financeiros, por um lado, e a realidade do país em diversos domínios, por outro. No primeiro caso, a evolução foi positiva, com exceção do rácio dívida/produto. O crescimento económico beneficiou de fatores internos e das exportações; deste desempenho resultou uma redução bastante positiva da taxa de desemprego. Porém, não consigo entender o entusiasmo, a não ser pelo efeito da mediatização, com um crescimento económico pouco superior a 2% numa economia dependente do enquadramento externo; também não podemos omitir o peso das contratações a termo e/ou de baixos salários, mesmo para trabalhadores qualificados. Sob o ponto de vista do quase equilíbrio orçamental, como economista, integro-me no grupo daqueles que defendem que se poderia ter definido uma meta um pouco menos ambiciosa.

O que poderá ser a política orçamental, caso se mantenha a atual solução de Governo? Poderemos ter um orçamento mais restritivo, depois do ciclo eleitoral?

Tecnicamente este OE foi classificado como “restritivo” com base na variação do saldo estrutural primário; mas a melhoria foi apenas de 0,1 pp. Daqui a um ano, quando for feita a avaliação com base nos valores executados, o OE 2019 poderá vir a ser classificado de expansionista. Com base no que acabei de referir, o OE 2020 pós eleições deveria ser restritivo (ainda por referência ao indicador referido). Mas existe neste momento um fator de incerteza que pode vir a ter um efeito expansionista: o governo vai ceder a todas/algumas das contestações sociais em curso e, se sim, com que impacto financeiro?

Que riscos podemos antever a esta distância para o OE 2020? E o Orçamento de 2019 tem instrumentos para fazer face a percalços ao longo do próximo ano?

A falta de transparência na apresentação do OE 2019 não permitiu identificar de forma clara, desde o montante das cativações até ao custo financeiro de muitas das medidas anunciadas e que podem ou não vir a ser implementadas. A previsão para o crescimento económico é prudente, mas está no limite superior das previsões de todas as entidades nacionais e internacionais.

Entrevista a Manuela Arcanjo, Economista e professora universitária

Ver fonte

TAGS: