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A onda de falências bancárias, espoletada pelo colapso do Silicon Valley Bank (SVB) na passada sexta-feira, podem tirar gás às subidas das taxas de juro que estão a ser planeadas pelos bancos centrais, dizem vários analistas.
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Um deles é o gigante Goldman Sachs que, numa nota publicada no domingo passado (12 de março), diz que a Reserva Federal (Fed) já não sobe taxas de juro na semana que vem (reunião dos dias 21 e 22) por causa desta nova crise. Primeiro, deve querer esperar para ver o tamanho dos danos e avaliar o risco real de contágio.
Portanto, é cada vez mais provável que a Reserva Federal (Fed) dos Estados Unidos faça essa pausa no aperto monetário na referida reunião de 21 e 22 de março. Depois, se tudo se resolver sem caos, reata as subidas em maio, dizem vários observadores dos mercados financeiros.
Debate fica mais inflamado no BCE
Ato contínuo, também já há analistas a dizer que o Banco Central Europeu (BCE) pode ter de refletir melhor e entrar num novo debate sobre se é razoável continuar, pelo menos nos próximos tempos, com subidas de taxas de juro de grande magnitude, como o aumento de 0,5 pontos percentuais previsto e confirmado para a próxima quinta-feira.
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Vários decisores políticos rejeitam que haja risco de contágio a bancos da zona euro, mas este ambiente de grande turbulência pode dar azo a vozes mais críticas na instituição de Frankfurt contra a rota de subidas aventada várias vezes nas últimas semanas pela própria presidente do BCE, Christine Lagarde.
Nos EUA, onde o problema começou e onde faliram, até agora, quatro instituições financeiras (SVB, Signature Bank e duas empresas ligadas ao negócio de criptomoedas, FTX Crypto e Silvergate), diz-se que a Fed tem de fazer a tal pausa na subida de taxas.
“À luz do recente stress no sistema bancário, já não esperamos que o FOMC [o Federal Open Market Committee, que é basicamente o conselho de governadores da Fed] decida uma subida de taxas na sua reunião de 22 de março, tendo em conta a considerável incerteza que paira sobre o caminho para além de março”, diz a nota da Goldman Sachs datada de 12 de março.
Na zona euro, onde tudo está preparado para que a taxa diretora suba de 3% para 3,5% na próxima quinta, o cenário de aperto mantém-se devido ao forte compromisso em prol do aumento de taxas, mas nas reuniões subsequentes o tom pode mudar se as pressões sobre a banca e os mercados financeiros europeus se adensarem.
A Aegon Asset Management, do grupo segurador holandês do mesmo nome, nota que o BCE ficou “fortemente pré-comprometido com um aumento de 50 pontos base [0,5 pontos percentuais na sua última reunião, mas a situação atual deixa-os numa situação difícil”.
Segundo estes analistas, o BCE não vai querer alimentar o espetro de uma potencial crise financeira, “não vai querer contribuir para uma volatilidade destas que pode causar uma crise financeira”.
Quando a banca treme, a zona euro teme
Na véspera da falência do SVB, a maior desde o colapso do Lehman Brothers, em 2008, Andrea Enria, o presidente do conselho de supervisão do BCE, deixou bem claro que a situação atual não é nada compatível com sobressaltos destes nos bancos, falências e problemas com depósitos, numa altura em que a economia continua altamente inflacionada e com crescimento débil.
Em entrevista ao jornal lituano Verslo žinios, no dia 9 de março, Enria disse que “olhando para o futuro, há ainda muitas incertezas, e ainda estamos numa situação de abrandamento”.
“Temíamos uma recessão dura. A probabilidade é agora talvez menor, mas ainda podemos ficar negativamente surpreendidos”, acrescentou.
“A normalização da política monetária tem sido mais rápida e mais forte do que o esperado. Até agora, esta tem sido uma evolução positiva para os bancos. Mas, a partir de um certo ponto, pode tornar-se um problema, porque uma inflação mais elevada e taxas de juro mais altas afetam a capacidade dos clientes [devedores] de reembolsar os empréstimos”, avisou o alto responsável do BCE.
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