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O próximo capítulo da história do Novo Banco deverá ser escrito nos próximos tempos com a concretização da venda da instituição. Um passo que poderá ser dado através da entrada em bolsa, como revelou o atual presidente executivo do banco, até porque o setor considera que já existe um elevado grau de concentração. O timing para esta operação pode ser complicado, mas Mark Bourke garante que a atual turbulência económica e nos mercados financeiros não altera os seus planos. Uma eventual ida para o mercado poderia ajudar a dinamizar a bolsa nacional e, após os anos de perdas avultadas, os analistas acreditam que o facto de a instituição ter confirmado a trajetória positiva dos resultados poderá ajudar à venda.
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A Lone Star, com a ajuda dos 3,4 mil milhões de euros injetados pelo Fundo de Resolução ao abrigo do acordo de compra de 2017, concluiu a limpeza do legado do BES e a reestruturação das operações comerciais do Novo Banco. A próxima etapa deverá ser a venda. Como explicou ao Dinheiro Vivo o vice-presidente sénior da equipa de Instituições Financeiras Globais da DBRS Morningstar, a saída do fundo norte-americano pode ocorrer “por meio de um IPO [entrada em bolsa] quando as condições de mercado permitirem”, ou de “uma fusão com um banco doméstico ou outro player europeu”, acrescentou Nicola de Caro.
Questionado sobre a atratividade que os recentes resultados do banco podem ter junto de futuros investidores, o responsável destacou que o Novo Banco fez “um progresso muito significativo, reestruturando as suas operações e reduzindo o grande stock de ativos problemáticos” herdados do antigo BES. Nicola de Caro relembrou ainda que a entidade já gera resultados positivos, tendo aumentado em 178% os lucros para 428,3 milhões de euros, e já atingiu algumas metas que tinha fixado para o médio prazo, o que deverá levar à sua revisão no final do ano. “O cumprimento destes objetivos provavelmente apoiará o processo de venda do banco e a sua avaliação”, destacou o responsável da DBRS.
Já o presidente da Associação de Investidores e Analistas Técnicos dos Mercados de Capitais (ATM) revelou que o interesse do mercado vai depender sempre da proposta de negócio, nomeadamente do preço de colocação em bolsa. No entanto, Octávio Viana destaca que este não será o melhor momento para o NB fazer um IPO, “tendo em conta a instabilidade económico-financeira em resultado da inflação elevada e das políticas económicas e sociais para tentarem combater esse efeito, nomeadamente, mas não apenas, as subidas aceleradas e acentuadas das taxas de juros de referência. Os investidores, a agirem racionalmente, irão reclamar um prémio de risco bastante elevado”, apontou.
Este cenário de turbulência não parece, contudo, ter alterado os planos do banco de vir a lançar uma oferta pública inicial (IPO na sigla em inglês). A garantia foi dada esta semana pelo CEO do NB. “É verdade que estamos a lidar com incerteza, mas estamos numa posição inicial mais forte, com balanços mais sólidos”, disse Mark Bourke na conferência Banca do Futuro, organizada pelo Jornal de Negócios. E reforçou: “Hoje, o Novo Banco está mais ágil e tem uma maior capacidade para lidar com a incerteza. Por isso, os nossos planos [de avançar com um IPO] não se alteraram”.
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As incógnitas
A intenção de avançar para um IPO foi comunicada pelo CEO da entidade. Contudo, não são conhecidos mais detalhes como, por exemplo, os timings em que mercado o banco seria cotado. Questionada pelo Dinheiro Vivo para esclarecer se já recebeu algum contacto por parte do NB sobre este tema, fonte oficial da Euronext respondeu apenas que não faz comentários “sobre contactos estabelecidos ou não com as entidades emitentes”.
Do lado dos pequenos investidores aparenta existir interesse e o passado do banco, que resultou da resolução do BES em 2014 que levou a avultadas perdas dos investidores, não parece assustar. O presidente da Maxyield, Clube dos Pequenos Acionistas considera que a eventual entrada do NB no mercado bolsista, “incorpora fatores de atratividade a nível de geração de resultados e potencial de desenvolvimento, que favorece o interesse de investidores institucionais, investidores de retalho e pequenos acionistas”. Carlos Rodrigues sublinha ao DV que “face à normalização do balanço do banco e entrada num ciclo de resultados positivos, o histórico do banco, não constitui em si uma situação de inibição à entrada de investidores nacionais de retalho”.
Por seu lado, Octávio Viana sublinha que a revisão recente do Código de Valores Mobiliários “veio flexibilizar e acelerar os processos de obtenção de capital por intermédio da emissão pública de ações, o que é ótimo”. O presidente da ATM lembra que tal opção depende muito da estratégia e objetivos da Lone Star para o NB, mas, “sem prejuízo, é uma realidade que o mercado português é periférico e não tem a dimensão de mercados com o americano, o alemão, francês e até mesmo o vizinho espanhol, pelo que nem se pode comparar, do ponto de vista dos pequenos investidores, essa realidade”.
A mesma fonte oficial da Euronext defendeu, de forma muito genérica, “sem referência a qualquer empresa”, que a escolha do mercado de listing deve considerar diversos fatores, designadamente “a escolha de uma infraestrutura reconhecida e segura, que proporcione um acesso alargado e eficiente aos investidores nacionais e internacionais”, bem como “um enquadramento jurídico e regulatório e de supervisão que seja reconhecido pelos investidores, adequado e eficiente”. Outra das vantagens do mercado português elencadas pela dona do PSI, prende-se com os custos de montagem da operação e de manutenção em mercado,” onde Portugal também compara muito bem” face a outros mercados.
Concorrência sem interesse
O mercado aguarda, assim, o próximo capítulo da história do Novo Banco, uma instituição que é controlada em 71,85% pela Lone Star. O resto do capital está dividido pelo Fundo de Resolução (22,46%) e pelo Estado através da Direcção-Geral do Tesouro e Finanças (5,69%).
A opção da venda direta parece não ter tanta força, como a entrada em bolsa, tendo em conta que os bancos concorrentes, pelo menos publicamente, não mostraram muito interesse. Recentemente, na Money Conference promovida pelo DV/DN e TSF, os líderes do BCP, BPI e Santander descartaram esta opção realçando que estão mais focados em si próprios. Na mesma ocasião, o próprio administrador do Novo Banco, Luís Ribeiro, considerou que o mercado já tem um nível de concentração elevado.
Para o presidente da Maxyield, a solução de dispersão do capital do Novo Banco no mercado de capitais, apresenta vantagens relativamente ao recurso a uma operação de venda direta. Segundo Carlos Rodrigues, “ajuda à dinamização deste mercado, que juntamente com outras medidas, vem ao encontro da necessidade do seu desenvolvimento como instrumento de captação de poupanças e financiamento da economia”.
Já Octávio Viana recorda que “os bancos são uma das indústrias, de momento, até do ponto de vista político-social, sob maior pressão, quer face à crise provocada pela guerra na Ucrânia e quer a transformação tecnológica do próprio sector, nomeadamente com as fintech”. Por isso, reforça que não considera ser o momento mais favorável para um IPO, atento ao elevado prémio de risco requerido pelos investidores. “Mas esse prémio de risco será também reclamado numa venda direta, mas aí com outros benefícios para o adquirente (domínio total)”; concluiu o presidente da ATM.
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