Que avaliação pode ser feita hoje da venda do Novo Banco ao fundo norte-americano Lone Star? Faz sentido uma comissão parlamentar de inquérito passados três anos? As questões foram colocadas ao ex-ministro das Finanças Braga de Macedo e ao professor de Economia João Duque.
“É difícil dar uma resposta definitiva”, começa por dizer Jorge Braga de Macedo. Mas, “que correu mal, correu mal; que o Governo tem uma responsabilidade nisso, tem”, afirma.
“A verdade é que hoje não te se tem bem a certeza se teria sido possível fazer muito melhor, mas pior é praticamente impossível”, considera o economista.
“Foi, realmente, uma operação que nos inquieta e nos deixa preocupados quanto à capacidade de resolver – estou a usar a palavra ‘resolver’, porque o Fundo de Resolução tem aqui um papel determinante”, conclui.
Por tudo isto, Braga da Cruz considera que “haver uma comissão de inquérito é uma boa notícia”.
“Há aqui ainda um grande jogo de espelhos”, lamenta.
“Palavra dada, palavra honrada”, diz João Duque
Bastante diferente é a avaliação do economista João Duque, segundo o qual tem sido cumprido o que foi acordado.
“Houve uma injeção de capital por parte da Lone Star – mil milhões na altura – e houve um acordo do Estado em fazer injeções posteriores em função daquilo que fosse a limpeza dos ativos tóxicos que se tinha em carteira e que potenciavam uma possibilidade de, num período curto de tempo, fazer essa limpeza e reestruturação do ativo, que é o que se tem estado a fazer”, explica.
“Essa venda foi suportada por uma maioria parlamentar”, recorda ainda o economista, lamentando que “as pessoas se esqueçam daquilo que são os negócios que fazem”.
“Eu não me esqueço. Posso discutir ou discordar do que foi acordado na altura, mas agora acho que o que estamos a fazer é isto: cumprir uma palavra dada. Palavra dada, palavra honrada”, destaca.
Neste sentido, uma comissão parlamentar de inquérito três anos depois da venda do Novo Banco “surge, na realidade, por motivos políticos mais do que por outros motivos”, defende.
“De qualquer das formas, até ao momento, por muito escrutínio que tenha sido feito, ainda não se encontrou, aparentemente, motivos de fundo para pôr em causa aquilo que tem sido o processo”, conclui.
Foi em 18 de outubro de 2017 que, numa pequena cerimónia no Banco de Portugal, foi assinado o contrato de venda ao fundo norte-americano Lone Star de 75% do Novo Banco (criado em agosto de 2014 no âmbito da resolução do BES – Banco Espírito Santo).
Os restantes 25% permaneceram nas mãos do Fundo de Resolução (entidade da esfera do Estado financiada pelos bancos, que consolida nas contas públicas).
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