O antigo presidente do Novo Banco Vítor Bento disse hoje no parlamento que a solução encontrada para a resolução do BES foi filha do “fantasma” do BPN e de “uma ilusão” sobre o seu valor.
“A solução adotada foi filha de um fantasma e de uma ilusão: o fantasma foi o BPN, e obviamente que era um susto ficar-se com um BPN nas mãos naquelas condições; a ilusão era sobre o valor do banco”, disse aos deputados na sua audição na comissão parlamentar de inquérito às perdas no Novo Banco imputadas ao Fundo de Resolução.
Respondendo ao deputado do PSD Hugo Carneiro, Vítor Bento disse estar convencido que “quem teve de tomar as decisões que tomou tinha uma ideia sobre o valor do banco que depois não se veio a confirmar”, e que “seria facilmente concretizável numa venda muito rápida”.
Sobre o processo de resolução do BES, o economista que transitou para o Novo Banco já tinha referido ao deputado João Cotrim Figueiredo (IL) que um dos erros no processo foi a confusão entre a autoridade de supervisão e de resolução.
Respondendo à questão de “quem era o cocheiro” do processo pela parte do Banco de Portugal, Vítor Bento disse que “do ponto de vista formal era o presidente do Fundo de Resolução, que era o acionista, mas quem tinha a incumbência, o chapéu maior, era a governação do Banco de Portugal, por direito”.
“Um dos erros que eu acho que foi cometido neste processo, e que eu acho que seria desejável evitar para futuro, foi a confusão entre a função de supervisor e a função de agente de resolução”, disse Bento, considerando-a como “uma das coisas terríveis” do processo.
“A nossa relação com o Banco de Portugal ficou sempre inquinada por esta confusão. O próprio Banco de Portugal não distinguia”, prosseguiu, ressalvando que não estava a fazer uma acusação sobre o tema.
Já sobre a sua saída do Novo Banco, Vítor Bento afirmou que foi um processo longo de expectativas goradas, primeiro no BES e depois no Novo Banco, tendo utilizado uma metáfora para explicar o tema.
Vítor Bento contou a “história do almocreve que estava a sua carregar a mula para ir para o interior do país com a sua carga, a carregá-la de sardinhas, vai pondo sardinhas e às tantas põe uma sardinha e o burro cai”.
“O almocreve diz: “raio do burro não aguenta com uma sardinha”. Obviamente não foi a sardinha que derrubou o burro, eram as que já lá estavam”, prosseguiu.
Assim, no BES as “sardinhas” foram “a acumulação de factos”, não havendo “um facto concreto que determinasse a saída”.
“Mais cedo ou mais tarde iríamos ter de sair. Tínhamos tido demasiadas expectativas frustradas ao longo do tempo”, no BES com “garantias que não se concretizaram”, com a não resolução do “problema de Angola” e da ausência da capitalização pública.
“Aceitámos ficar na resolução. Começámos por recusar”, explicou o economista, dado que os advogados “chamaram à atenção do que é que a resolução implicava” em termos de separação de balanço e necessidade de vendas rápidas, algo que “não fazia parte” do projeto de Vítor Bento.
No entanto, a equipa também entendeu que não podia “abandonar o banco enquanto ele não estivesse minimamente estabilizado, porque isso além de ser irresponsável, iria agravar a própria situação de instabilidade do banco”.
“Acabámos por sair quando o banco já estava razoavelmente estabilizado”, mas não “totalmente”, disse Vítor Bento aos deputados. .
Vítor Bento disse também que “a própria relação de confiança entre as partes ia ficando muito desgastada”, sendo “preferível entrar uma equipa que estivesse liberta do lastro” da anterior.
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