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O desporto é uma arma poderosa nas mãos de ditadores e autocratas: em 1934, o fascista Benito Mussolini não só fez questão de que a Itália organizasse a segunda edição do Mundial de futebol como exigiu – e terá trabalhado nas sombras para isso – a vitória final da Squadra Azzurra. Adolf Hitler usou os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, como propaganda nazi.
Nos tempos atuais, monarquias do Médio Oriente são acusadas de lavagem de reputação às custas do futebol – o chamado sportswashing -, nomeadamente na aquisição do Manchester City, do Paris Saint-Germain e do Newcastle United. Aliás, 88 anos depois do Itália-34 de Mussolini, o mundial da FIFA será no Qatar, em novembro deste ano, sinal de que nem tudo mudou, nem no mundo, nem no futebol.
O Qatar que, recorde-se, sucede como país organizador do mundial à Rússia, de Vladimir Putin, que já recebera os Jogos Olímpicos de Inverno, em 2014, e conseguira incluir o país no circuito da Fórmula Um.
A relação de Putin com o futebol é conhecida, numa equação que envolve poder e dinheiro, como não podia deixar de ser. Além de estimular a aventura contada aqui na semana passada do amigo Roman Abramovich no Chelsea, o próprio presidente russo entrou indiretamente na gestão do seu clube do coração, o Zenit São Petersburgo.
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Em 2005, o clube do meio da tabela dos tempos soviéticos – ganhou um mero campeonato, em 1984, entre 54 edições dominadas pelos emblemas de Moscovo e pelo Dynamo Kyiv – recebeu um presente de 100 milhões de dólares da Gazprom, a estatal energética russa. De então para cá, foi treinada pelos melhores treinadores, comprou os melhores jogadores e ganhou sete títulos.
Apesar de ter muito com que se ocupar, Putin interveio pelo menos duas vezes nos destinos do clube. Em 2009, exigiu que o Arsenal pagasse o dobro pela sua maior estrela, Arshavin, segundo conta o agente de jogadores, Jon Smith, na sua autobiografia – dos sete milhões inicialmente acordados, o negócio terminou em quase 15 milhões por intervenção direta do Kremlin.
E em 2017 criticou o clube por ter atuado com oito jogadores estrangeiros frente à Real Sociedad em jogo da Europa League. “Com apenas dois jogadores russos a correrem no campo, mais o guarda-redes, o que estão a dizer-nos é que este jogo e este clube não são russos, muito bem”, censurou, com ironia, o presidente russo.
No final dessa época, o treinador italiano Roberto Mancini foi substituído por Sergey Semak, um técnico russo – nascido na atual Ucrânia.
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