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A retoma da economia portuguesa em 2021 e 2022 não vai chegar, nem de longe, para reverter a destruição provocada pela pandemia em 2020, avisa a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE). Nem os fundos europeus dão a vantagem necessária para que o país regresse aos níveis pré-crise pandémica, observa a organização sediada em Paris.
No novo outlook (panorama) económico para as economias mais desenvolvidas do mundo, divulgado nesta terça-feira, a OCDE aparece como a instituição mais pessimista até à data relativamente à recuperação portuguesa.
Depois de uma recessão de 8,4% neste ano (igual ao que diz o governo no Orçamento do Estado de 2021), a OCDE prevê uma retoma de apenas 1,7% no ano que vem. É um valor dramaticamente inferior face a todos os que têm vindo a público nas últimas semanas. O governo diz que a recuperação pode chegar a 5,4% em 2021 (três vezes mais do que a previsão da OCDE).
A Comissão Europeia prevê o mesmo que as Finanças. O Fundo Monetário Internacional (FMI), que costuma ser mais pessimista nestas antevisões, apontou em outubro para uma subida de 6,5% em 2021.
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A OCDE está a fazer este panorama com mais informação e, por isso, o seu cenário é bastante mais negativo.
O défice público também vai descer menos do que dizem as Finanças de João Leão (a OCDE estima 6,3% do produto interno bruto ou PIB em 2021). A dívida pública fica praticamente colada aos 140% nos próximos dois anos: 139,7% do PIB em 2021 e 138,8% em 2022.
“PIB abaixo do nível anterior ao da crise no final de 2022”
A organização que congrega as três dezenas de países mais desenvolvidos do mundo explica as suas reservas.
A OCDE até admite que haverá um impulso positivo da política de juros ultra baixos do Banco Central Europeu (BCE) e dos fundos europeus.
Diz que “a política monetária expansionista do BCE e as compras de ativos irá continuar a apoiar a procura”. O plano de fundos europeus (Next Generation EU) também “vai ajudar a financiar as medidas orçamentais de Portugal em 2021-22”. São as famosas subvenções, dinheiro a fundo perdido, que podem chegar a “13,2 mil milhões de euros (3,8% do PIB), pelas contas da OCDE.
Mas parece que não chega para uma retoma convincente ou suficiente.
“O crescimento deve atingir 1,7% em 2021 e 1,9% em 2022, mas o PIB permanecerá abaixo do nível anterior ao da crise no final de 2022 devido aos efeitos de longa duração da pandemia sobre o potencial produtivo da economia.”
“A incerteza elevada sobre a evolução da pandemia e o peso elevado do turismo no PIB vão apagar a velocidade da recuperação até que surja uma vacina eficaz”, escreve a OCDE.
Neste cenário, “o investimento empresarial irá aumentar, apoiado pelas taxas de juro baixas e pelos fundos da UE”, mas “prevemos que o défice orçamental e o peso da dívida pública permaneçam elevados, atingindo este último 139% do PIB em 2022 (definição de Maastricht)”.
No entanto, “a recuperação mais lenta do que o esperado no turismo e no crescimento dos parceiros comerciais limitar ainda mais as exportações“.
“O fraco crescimento também pode ampliar os efeitos colaterais no setor financeiro, através de um aumento significativo no crédito em incumprimento na maioria dos setores afetados, como o turismo”, avisa a OCDE, repetindo assim os avisos recentes de todas as organizações que seguem Portugal.
Além disso, há o problema dos avales do Estado. “Os passivos contingentes decorrentes das garantias públicas para empréstimos também podem representar um encargo adicional para as finanças públicas.”
O cenário bastante negativo pode ser contrabalançado por um impulso positivo se acontecer “uma contenção precoce e eficaz da pandemia, o que aumentará a confiança e uma absorção mais rápida dos fundos da UE”. “Pode ajudar a promover um desempenho económico mais forte do que o projetado” neste outlook.
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