//OE 2020 aprovado em tempo de coronavírus. Centeno diz que retificativo depende da ação de todos

OE 2020 aprovado em tempo de coronavírus. Centeno diz que retificativo depende da ação de todos

O ministro das Finanças anunciou, nesta segunda-feira, que o Orçamento do Estado para 2020 acabou de ser promulgado pelo Presidente da República. O documento deverá entrar em vigor, “e isto é uma previsão, no dia 21 de abril”.

“Este ano é um ano de enorme desafio” do ponto de vista da execução orçamental, reconheceu Mário Centeno aos jornalistas. “Esta execução orçamental é seguramente a mais desafiante, mas temos de a fazer dentro de um quadro institucional que passou pela sua promulgação”, adiantou.

Centeno não exclui a eventualidade de um Orçamento Retificativo, mas aposta agora tudo no momento atual, nas ações para ultrapassar a crise sanitária causada pelo novo coronavírus, e chama todos à responsabilidade.

“Quero apelar ao combate à crise sanitária para que, em conjunto, possamos fazer deste momento um momento temporário e contido e que o mais breve possível possamos regressar à normalidade”, afirmou na conferência de imprensa que deu no Palácio de Belém, onde esteve reunido com o Presidente da República.

“Insisto que do nosso comportamento esta semana vai depender atingirmos ou não o pico no momento que as autoridades de saúde preveem: entre 9 e 14 de abril. Se a previsão tiver sucesso, podemos, a partir daí, ver uma redução do número de casos e uma estabilização da situação sanitária que nos dará a possibilidade de, no próximo trimestre, retomar a normalidade” da economia.

O ministro das Finanças admite que se trata de cenários, mas reforça que é com eles que temos de trabalhar e, independentemente de outros possíveis, eles “só se materializarão de acordo com a nossa ação. Não há certeza perante cenários, mas se a nossa ação não for concertada, nem estes cenários se irão concretizar”, insiste.

Mas, é de prever um Orçamento Retificativo?

O número dois do Governo diz que a necessidade de um novo Orçamento que corrija as previsões e contas do agora aprovado será avaliada, a seu tempo, pelo Governo.

Até lá, “temos margem” neste o Orçamento para reagir à atual crise e recuperar ao nível económico.

“O Governo dará resposta às necessidades que se colocarem, seja através de um Orçamento Retificativo ou de mais legislação. Não hesitaremos nem um minuto a fazê-lo”, garantiu o ministro das Finanças.

“Queria transmitir essa tranquilidade e, ao mesmo tempo, necessidade de reagir e estarmos atentos, concentradíssimos no que é o foco essencial que a todos compromete neste momento. Não é só um setor ou o Governo, todos devemos participar na resolução desta crise”, voltou a apelar Mário Centeno.

“E todos os setores que têm sido mais chamados a reagir têm-no feito e isso deve ser também notado”, acrescentou, lembrando os profissionais que se encontram na linha da frente do combate à pandemia da Covid-19.

OE “vai ter de se ajustar”, diz Marcelo

O Presidente da República anuncia, em comunicado publicado no site da Presidência, a promulgação do Orçamento do Estado para 2020, mas avisa: “a sua aplicação vai ter de se ajustar ao novo contexto vivido”.

Marcelo Rebelo de Sousa reconhece que as medidas tomadas para conter e reagir ao novo coronavírus têm fortes implicações na economia do país e assume que promulga o OE consciente disso.

Daí, a “necessidade de um quadro financeiro que sirva de base às medidas que o Governo já anunciou e outras que venham a ser exigidas pelos efeitos económicos e sociais provocados pela pandemia”.

Marcelo refere-se ainda à eventual inconstitucionalidade do documento, dizendo que não tem dúvidas de que o OE está em conformidade com a Constituição. “Nem mesmo aquela que maior debate motivou, a saber, a da eventual violação do princípio da separação e interdependência dos poderes do Estado, na sua dimensão de respeito da reserva de Administração, no caso de alegada deliberação parlamentar suspendendo decisão administrativa sobre a concretização de linha circular do metro de Lisboa. Em rigor, a Assembleia da República não suspendeu qualquer decisão administrativa, limitando-se a formular recomendação política, dirigida ao Governo e à Administração Pública em geral, sobre a aludida matéria”.

Europa “vai ser muito solidária”

Na conferência de imprensa após o encontro com o Presidente, Mário Centeno falou como ministro das Finanças, mas também como presidente do Eurogrupo. E foi como titular deste cargo europeu que Centeno garantiu que “a resposta europeia [aos desafios da Covid-19] não vai ter limites e vai ser muito solidária”.

“É esta a minha determinação enquanto governante em Portugal e presidente do Eurogrupo”, afirmou.

“Temos respostas nacionais e temos respostas europeias” ao novo coronavírus. Cá dentro, “a situação financeira do país requer os cuidados que o seu enquadramento exige. Temos de ser conscientes da necessidade de agir, de dar liquidez à economia, quer através do Governo (por exemplo, através do desfasamento nas obrigações fiscais e contributivas, implementação de regime ‘lay off’ simplificado, que permite acudir a situações mais agudas), quer através do sistema bancário com as moratórias a créditos”

No plano europeu, as respostas “estão a ser trabalhadas e anunciadas semanalmente. Já vimos várias ao nível do BCE, vimos da Comissão Europeia e temos vindo a observar um conjunto de ações bastante coordenado. É uma resposta muito significativa, de grande dimensão que está e vai continuar a ser construída na Europa”, garantiu.

Mas vai Centeno continuar a ocupar estes dois cargos? “Tenho essas responsabilidades, nunca ninguém me ouviu enjeitar essas responsabilidades e esse é o foco da minha ação neste momento. Todos devemos focar as nossas energias nesta resposta à crise e não alimentar folhetins que só interessam àqueles que os desenham”, respondeu.

No domingo, no seu habitual espaço de comentário e análise na SIC, Luís Marques Mendes dizia que Mário Centeno desejava ir para o Banco de Portugal, mas que seria acusado de estar a “desertar” se o fizesse agora.

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