Que balanço faz de 2018 e como perspetiva 2019?
Houve um conjunto de situações que criaram quase uma tempestade perfeita, mas acredito que a resiliência dos nossos industriais vai permitir dar a volta à situação. As perspetivas não são muito animadoras, porque se mantêm uma série de incertezas que estão a levar o consumidor a retrair-se e a afetar o comércuio mundial. Julgo que nos devemos precaver para tempos não tão bons como aqueles a que estávamos habituados. Mas acredito no futuro do calçado, até porque ja vivemos tempos bem piores. E as empresas estão a investir fortemente com o que de melhor há a nível tecnológico e da indústria 4.0 e esperamos ter um retorno disso nos próximos anos.
A falta de mão-de-obra continua a ser um problema?
É um problema muito grande e que as alterações que o Governo introduziu ao nível das reformas antecipadas veio agravar. Falo por mim que tenho quatro ou cinco trabalhadores que se vão reformar, excelentes profissionais que me vão fazer muita falta. É muito difícil encontrar pessoas, principalmente jovens, que queiram vir para esta industria, e não é pelo salário. O que eu não percebo quando vejo que ainda há 7% de desempregados em Portugal. Estamos em pleno défice de mão de obra especializada, uma tendência que, se se agravar, pode por em causa toda uma indústria.
E as campanhas que fizeram para captar jovens, não resultaram?
Não dão resultados imediatos. Já propus uma reunião ao Ministério da Educação para discutir o tema, acho que em cada cidade onde a indústria do calçado está presente deveria haver disciplinas nas escolas vocacionadas para a indústria, designadamente ao nível do design de calçado, etc. Precisamos que os jovens percebam que esta é uma indústria moderna, altamente tecnológica e inovadora.
Quantos trabalhadores estão em falta na indústria?
Pelas auscultações que fizemos serão dois ou tres mil em falta, mas acredito que até sejam mais. Porque todas as empresas sofrem do mesmo mal e há muitas que nem sequer nos contactam. Sá na minha empresa tenho sete pessoas em falta e que não consigo contratar, por muitos anúncios que coloque. E esta falta de pessoal faz com que haja uma tentação das empresas de irem buscar trabalhadores a outras empresas, o que não é muito saudável num sector que se pretende unido.
Não é o mercado a funcionar?
É uma situação complexa e perversa, porque leva a uma sobrevalorização dos salários e a uma serie de outros factores que me preocupa que nos possam retirar competitividade.
Em que áreas faltam operários?
Temos défices em todos os sectores. Na costura, na montagem, nos acabamentos, na parte comercial e criativa….
A questão da falta de mão de obra é uma das preocupações da CEC, organismo a que vai presidir. Como vê esta nomeação?
Com grande orgulho, prometo que tentarei fazer o meu melhor.
Preocupa-o o facto de substituir um italiano no cargo?
Não tenho quaisquer complexos. Conto com uma equipa fantastica que tem dado provas de estar entre as melhores do mundo.
Quais serão as suas grandes preocupações na liderança da Confederação?
A questão do certificado de origem Made In Europe é muito importante. O comércio deve ser livre mas com regras e normas iguais para todos, o que não está a acontecer. A origem do sapato deve estar perfeitamente identificada na sua sola, para que o consumidor saiba o que está a comprar. Se o nosso calçado para entrar nos Estados Unidos, na China ou nos Países Árabes tem de o ‘made in Portugal’ devidamente identificada na sola, porque há calçado a circular na Europa sem que se conheça a sua origem? As questões da sustentabilidade também me preocupam muito.
O mandato da CEC é de três anos, significa isso que se vai recandidatar à liderança da APICCAPS, em 2020?
A presidência da CEC é totalmente independente da associação. De qualquer forma, não quero fazer futurologia. É uma incógnita, o futuro o dirá.
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