Ser o único europeu do escritório nunca foi um problema para Renato Roldão. Quando emigrou para Pequim em 2008, com a missão de tornar a China num país menos poluído, o português de 39 anos já estava preparado para o choque, graças aos meses que tinha passado no país em 2002, ainda estudante.
“Não tive dificuldades na adaptação porque consegui gerir as expetativas e estava preparado para as diferenças. Além disso, a China que encontrei em 2008 era muito mais ‘ocidentalizada’ que a de 2002, fruto do rápido crescimento económico e da transformação social que teve lugar que aconteceu nesse período e que tornou tudo mais fácil”, conta.
Renato Roldão é o responsável na China pela operação da ICF, uma consultora americana na área da energia e alterações climáticas. Ao mesmo tempo, lidera um projeto da Comissão Europeia que prevê implementar o Comércio Chinês de Licenças de Emissão de Gases com Efeito de Estufa. Ao todo gere mais de 100 pessoas, na China e na Europa, a partir de Pequim.
“É uma área com muitos desafios, o que faz com que o meu trabalho seja muito estimulante. Mas também é muito complexo. Acho que só daqui a mais dez anos é que os resultados serão visíveis a larga escala”, admite.
O especialista português rejeita a ideia de estar a “salvar” a China das alterações climáticas, mas reconhece que a função que desempenha tem por meta “resolver um problema com implicações à escala global”. Uma tarefa hercúlea que lhe valeu em 2012 a distinção, pelo presidente da República, com a Ordem de Mérito do Infante D. Henrique.
De resto, a ligação a Portugal mantém-se diariamente e “ao minuto” através da internet. Em Pequim são poucos os compatriotas com quem convive, porque “numa cidade com 20 milhões de pessoas somos uma gota no oceano”. Ainda assim, consegue sentir-se em casa. “Tirando o Cristiano Ronaldo, os portugueses não são muito conhecidos aqui, mas são muito respeitados. Quando digo de onde sou, os chineses que sabem onde fica Portugal reagem de forma muito positiva”.
Sobre a investida dos chineses em Portugal nos últimos anos, Renato não tem dúvidas que o país tem muito a ganhar, mas tem de afinar a estratégia. “Os chineses sabem o que querem dos mercados internacionais e procuram o melhor de cada um. Para ter sucesso na China é preciso ter qualidade, não é uma questão de quantidade e volume como muitas vezes se pensa”, sublinha.
A aventura do português em Pequim tem, em princípio, data para acabar. Renato Roldão planeia deixar a China em outubro de 2020, com o sentimento de missão cumprida e sabendo que foi um “privilégio” ter vivido de perto o auge económico do gigante asiático.
Deixe um comentário