Bastou Mario Draghi classificar as expectativas para a evolução da inflação como “relativamente vigorosas” para o mercado assumir que as taxas Euribor vão subir mais depressa. As palavras do presidente do Banco Central Europeu (BCE) referiam-se à evolução da medida de inflação que exclui o efeito dos preços da energia e da alimentação. A estimativa de subida nos preços indicia que a autoridade monetária terá confiança para começar a subir juros, o que provocará uma recuperação das Euribor.
Após os comentários do presidente do BCE, os analistas do Commerzbank observaram que o mercado começou a dar sinais de que acredita que as Euribor, que estão atualmente em valores negativos, voltem a passar acima de 0% mais rapidamente do que o que era previsto. A taxa a três meses estava nesta sexta-feira em -0,318%. “Os últimos comentários do BCE aceleraram a reapreciação das taxas do euro, com os futuros da Euribor a atingir níveis positivos em 2020”, observam os analistas do banco alemão numa nota a que o Dinheiro Vivo teve acesso.
Atualmente, a autoridade monetária empresta aos bancos com um juro de 0% e cobra 0,40% para receber depósitos das instituições financeiras que precisam de guardar liquidez em excesso. São os valores mais baixos de sempre e levaram a que as taxas interbancárias Euribor fossem para terreno negativo, beneficiando quem tem empréstimos a taxa variável e penalizando quem procura rendimento para as poupanças.
Mas a partir do próximo ano, o BCE deverá começar a iniciar o ciclo de subida de juros, algo que já começou nos EUA no final de 2015. Na maior economia do mundo os juros também estiveram em 0%. E nesta semana a Reserva Federal fez novo aumento, para um mínimo de 2%. E promete mais subidas nos próximos tempos.
Uma questão de ritmo
O BCE deverá começar por subir a taxa de depósito para valores menos negativos antes de iniciar o aumento dos juros de referência. A reação das Euribor a essas decisões dependerá também do timing e do ritmo do ciclo de subidas. E há membros influentes do Conselho de Governadores do banco central, como o austríaco Ewald Nowotny, a defender que o ciclo de normalização dos juros seja feito a um ritmo mais rápido.
Portugal é um dos países europeus com maior proporção de taxa variável no crédito à habitação. E isso aumenta a vulnerabilidade às subidas dos juros. No último Relatório de Estabilidade Financeira, relativo a junho, o Banco de Portugal advertia que “num cenário de aumento das taxas de juro de mercado, a capacidade de serviço da dívida dos mutuários mais endividados e com taxas de esforço mais elevadas seria negativamente afetada”.
Mas a instituição liderada por Carlos Costa refere que “as expectativas quanto à evolução das taxas de juro do mercado monetário continuam a apontar para um aumento gradual e limitado no médio prazo, que deverá ocorrer num contexto de recuperação económica na área do euro e em Portugal”. Estes fatores poderão ajudar a compensar a subida dos juros, já que tornam “expectável o aumento do rendimento disponível dos particulares e dos lucros das empresas”.
No entanto, mesmo com o apoio da recuperação económica, o Banco de Portugal avisou que “existe um número significativo de agentes económicos vulneráveis a um aumento futuro das taxas de juro”. E considerou ser importante continuar a reduzir os níveis de endividamento, “em particular pelos agentes mais vulneráveis a choques no rendimento e a subidas dos encargos financeiros”. Motivo que levou o supervisor a recomendar aos bancos que avaliem, antes de conceder crédito, o impacto de uma subida dos juros no rendimento de quem pede o empréstimo.
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