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A pandemia teve “efeitos devastadores” na economia europeia, com especial destaque para o setor do turismo e da hospitalidade. E, por arrasto, para o setor cervejeiro, já que, tradicionalmente, uma em cada três cervejas é consumida em bares e restaurantes. A Brewers of Europe, a associação europeia do setor, fala mesmo em “consequências dramáticas”, sublinhando que, no final de 2021, o consumo mantinha-se 8% abaixo do período pré-pandemia, o emprego estava 11,5% abaixo e a riqueza gerada foi 10% inferior. As receitas fiscais também caíram.
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São dados de um estudo da associação europeia sobre impacto da pandemia no setor cervejeiro em 2020 e 2021. Apesar de ter iniciado o caminho da recuperação, o setor cervejeiro está ainda abaixo dos valores de 2019. O segmento dos bares, restaurantes e eventos foi o mais castigado, com vendas totais de 78 milhões de hectolitros, menos 42 milhões, do que em 2019. É uma quebra de 35%. Já o consumo em casa, que cresceu em 2020, mantinha-se em alta no ano passado: 263 milhões de hectolitros, quase 6% mais do que em 2019.
Um crescimento que não compensou a quebra na restauração. No total, os europeus beberam 342 milhões de hectolitros de cerveja em 2021, mais oito milhões do que no ano anterior mas, ainda assim, 8% abaixo do valor de 2019. Uma performance que contrasta com os setores do vinho e das bebidas destiladas que fecharam 2021 com aumentos de produção de 3 e de 5%, respetivamente, contra a quebra de 11% da cerveja.
No emprego o impacto foi ainda mais significativo. É verdade que, em 2021, a fileira recuperou cerca de metade dos 600 mil postos de trabalho perdidos no ano anterior, terminando o ano com 2,3 milhões de funcionários, mas tem ainda quase 300 mil a menos, uma quebra de 11,5%. Tendo em conta apenas o negócio dos bares, restauração e eventos, a quebra no emprego foi de 16% face a 2019.
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Realizado com dados dos 27 Estados-membros da União Europeia, bem como do Reino Unido, o estudo indica que, em termos de riqueza gerada (Valor Acrescentado Bruto), a fileira da cerveja contribuiu com 55,6 mil milhões de euros em 2021, um valor que, apesar de ser 10% acima de 2021, está ainda 10% abaixo do período pré-pandemia. A recuperação do segmento on-trade (consumo em restaurantes, bares e eventos) foi o que mais contribuiu para a riqueza gerada: o VAB do segmento subiu, no ano passado, 22%, para 21,9 mil milhões, mas está 21% abaixo de 2019, quando assegurava quase 28 mil milhões de euros de riqueza.
Considerando apenas as companhias cervejeiras, o VAB “cresceu marginalmente”, de 14,3 mil milhões de euros, em 2020, para 14,6 mil milhões, em 2021, depois de ter “perdido mais de mil milhões de euros” entre 2019 e 2020.
Por fim, destaca a Brewers of Europe que a covid teve também efeito na perda de receitas fiscais dos vários Estados-membros. Segundo a associação, o setor cervejeiro e seus fornecedores pagaram 40 mil milhões de euros em impostos, mais 10% do que em 2020, mas 13% menos do que em 2019. Ou seja, cinco mil milhões de euros abaixo do valor pré-pandemia.
“Depois da queda dramática em 2020”, à medida que o segmento da hotelaria e turismo “colapsou”, as receitas do IVA sobre a cerveja cobradas em estabelecimentos e em eventos em 2020 cresceram 22%, um aumento de 1,7 mil milhões de euros. No entanto, destaca o estudo, “estão ainda 35% abaixo do valor de 2019”.
Quanto ao futuro, a associação europeia lembra que, apesar dos impactos da covid-19 estarem a regredir, a economia europeia enfrenta “novas pressões que vão afetar os gastos dos consumidores e colocar maiores encargos financeiros sobre as empresas”. Ou seja, embora a Europa se esteja já a habituar a “viver com a covid” e não seja provável que as “extensas restrições” no setor da hospitalidade e as proibições de viajar regressem, “ainda não está claro se o impacto social da pandemia, juntamente com outros desafios, acelerará mudanças mais fundamentais nas práticas de negócios e nos padrões de consumo”.
A dúvida é se se continuará a assistir a uma diminuição do consumo on-trade, em bares, restaurantes e eventos, e a uma preferência maior pela compra para beber em casa. “Embora maiores volumes no off-trade ofereçam novas oportunidades para alguns cervejeiros, consumidores, desenvolvimento de empregos, criação de valor e geração de receita, também é possível que estes substituam outros canais de entrega (bares e restaurantes no on-trade) que, tradicionalmente, são mais intensivos em mão-de-obra e têm sustentado mais empregos”, conclui o estudo.
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