//Para ter sucesso é preciso saber “Desistir”

Para ter sucesso é preciso saber “Desistir”

Encontrar frases célebres que defendam a desistência é quase tão difícil como viajar até à lua. Annie Duke encontrou uma atribuída a W.C. Fields: “Se não tiveres sucesso à primeira, tenta, tenta outra vez. Depois desiste. De nada adianta ser um idiota”. Mas nem Fields é o melhor dos modelos a seguir nem a frase é dele.

Já o contrário dava para escrever um livro, só com máximas, pensamentos e frases inspiradoras que vão sendo citadas por esse mundo como uma certeza gravada em pedra.

“Ou perseveramos ou atiramos a toalha ao chão”, explica a consultora de negócios, é esta a batalha instalada. Não há meio termo e aqui “claramente perde a desistência”, que é vista como “uma virtude”, enquanto “a desistência é um vício”.

Mas se formos maus a cantar, valerá a pena insistir? Nunca seremos a nova Adele. “O sucesso não reside em insistir nas coisas. Reside em escolher a coisa certa na qual insistir, desistindo das restantes”, defende Annie Duke.

Em “Desistir – o poder de saber quando ir embora” (Ed Actual), Annie Duke defende que “está na altura de reabilitar a desistência”.

Ao longo de 11 capítulos desenvolve as vantagens e virtudes de “saber quando largar” nas mais diversas situações, desde o trabalho a decisões do quotidiano ou mesmo jogos de azar. Aqui a autora é uma especialista, enquanto antiga jogadora profissional de poker, onde chegou a acumular 4 milhões de dólares em prémios.

O dilema da desistência

Uma das grandes questões é saber quando desistir. Quando a decisão não é óbvia para os outros, acabam por fazer troça, desistir no momento certo confunde-se muitas vezes com sair cedo demais.

Annie Duke defende que o momento para desistir deve ser avaliado através do “valor esperado”, ou seja, analisando a probabilidade da evolução futura ser favorável.

Ao contrário do senso comum, esta decisão não tem de depender apenas e só de dinheiro, pelo contrário, muitas vezes é medida por indicadores como a saúde, o bem-estar, a felicidade, o tempo, a autorrealização ou a satisfação nas relações, por exemplo.

Através de exemplos simples, a autora vai introduzindo novas questões e teorias e o leitor segue embalado em raciocínios lógicos. Pode sempre contestar, mas a argumentação está lá.

Como o fenómeno da “aversão à perda garantida”, que segundo Daniel Kahneman descreve a vontade de continuar para evitar perdas. Ou seja, “gostamos de insistir quando estamos em desvantagem”, explica Duke.

Até os investidores profissionais têm maiores taxas de sucesso nas decisões de compra do que nas decisões de venda.

A aversão à perda conduz a outra tendência transversal, que pode ser observada em grandes decisões executivas e governamentais como no café do bairro: a “escalada de compromisso”. Quem está a perder, tem maior probabilidade de insistir no mesmo caminho e até com mais intensidade, independentemente do nível de risco em causa.

Na decisão de desistir pesa ainda o “custo irrecuperável”, ou os recursos já despendidos, que faz com que muitas vezes se insista numa situação. Para a autora, estes custos são como uma bola de neve, à medida que aumentam também diminuem a probabilidade de se afastar e torna cada vez mais difícil uma saída.

Vacine-se contra más decisões

Perante a facilidade com que podemos prolongar situações que já não nos beneficiam, é preciso garantir ferramentas que impeçam a queda nestes alçapões mentais.

Annie Duke, investigadora académica, sugere ao leitor que crie “critérios de aniquilação”, ou seja, antes de iniciar um projeto determine uma lista de sinais que no futuro podem indicar que está na hora de desistir.

Segundo a autora, estes critérios facilitam a decisão, de forma simples, e evitam amargos de boca, quando se insiste em situações de forma “obstinada e cega”, até um “final amargo”.

Isto é tanto mais frequente quanto mais valor atribuímos ao que temos, sejam objectos, ideias ou crenças. Annie Duke chama-lhe o “efeito dotação”, um viés cognitivo que se transforma num obstáculo à desistência, porque atribui uma valorização irracional ao que possuímos: uma empresa, um projeto ou uma crença. A tendência é sempre manter o statu quo.

Decidir é a capacidade de evitar e ultrapassar as armadilhas do custo irrecuperável, da dotação e do viés do statu quo. Tudo isto sem perder a nossa identidade.

A autora explora ainda o papel de quem está de fora e observa de outro ângulo o que nos rodeia, como um “orientador de desistência”.

Desistir ou ser empurrado?

Nem sempre desistir é uma opção, por vezes a vida deixa-nos sem chão. Também aqui, o momento certo é a chave, ou saber antecipar essa possibilidade e explorar antecipadamente opções.

Há quem lhe chame plano de recurso, mas também pode ser encarado como diversificação. Mesmo que acredite ter encontrado o caminho que pretende, “ter mais opções dá-lhe algo para o qual pode mudar no momento certo”. Por isso, não deixe de procurar alternativas.

Tenha ainda em atenção os objetivos que define, não se deixe acorrentar à concretização de metas rígidas. É preciso olhar também para o progresso alcançado, nem tudo se resume a uma equação de custo/benefício.

Evitamos desistir para não falhar ou desperdiçar tempo, esforço e dinheiro. No entanto, muitas vezes temos de saber largar para progredir.

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