O presidente da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), João Pedro Tavares, defende que é preciso renovar o mundo do trabalho e colocar a pessoa no centro das organizações.
“Há um estudo feito de perceção – não é científico – de que as pessoas mais felizes são mais produtivas em cerca de 22%. Portanto, se eu tiver pessoas felizes a trabalhar, eu vou também ter mais produtividade”, refere o dirigente empresarial em declarações deitas, esta segunda-feira, na Manhã da Renascença.
Em 30 anos de profissão enquanto consultor, João Pedro Tavares diz que a sua visão do mundo empresarial mudou: “Passei do lucro a curto prazo para a criação de valor de uma forma muito mais ampla.”
“Fui sendo desafiado a introduzir a pessoa no centro das organizações e a defender a sua dignidade. E este é um desafio para hoje e um desafio para o futuro, porque com a introdução da tecnologia, da robótica, de toda esta panóplia de novas formas de trabalhar, se não considerarmos que a pessoa está no centro das organizações, estaremos a matar algo de essencial na nossa forma de estar”, sustenta João Pedro Tavares.
Para tal, o presidente da ACEGE defende que é importante uma mudança na mentalidade, “não para termos líderes apenas melhores, mas para termos líderes renovados na sua forma de pensar” e isso não significa que as empresas tenham de ser piedosas. “Não faço isto por piedade”, sublinha o presidente da Associação Cristã de Empresários e Gestores. Colocar a pessoa no centro é apenas um modelo mais virtuoso e mais exigente.
“Quando trabalho com uma multinacional que tem de apresentar resultados a cada trimestre, eu tenho que criar valor. Não estou é focado no lucro a curto prazo”, explica, acrescentando que quando “as pessoas se realizam enquanto pessoas e não em sentido estrito, enquanto profissionais”, existe a criação de “relações de confiança, de enorme lealdade, de enorme fidelidade entre todos; um compromisso comum”.
“Eu ter um colaborador que me diz: ‘tive uma oferta para ganhar o dobro do valor noutra empresa, mas é aqui que eu quero estar por estes valores’, isto tem valor económico no final, porque estou a conseguir reter talento”, adianta ainda.
Mas, por vezes, há que despedir pessoas. Esta deve, contudo, ser a última hipótese possível, “porque a falta de emprego é um fator potencial de exclusão social” e “uma família sem sustentação, económica e financeira, é um potencial fator de pobreza”.
“Quando eu vou despedir alguém – porque tenho de fazer uma diminuição do número de colaboradores em qualquer setor -, tenho de atender à realidade dessa pessoa e ao enquadramento dela. Tenho de acompanhá-la, não à porta de saída, mas à porta de entrada de uma nova realidade de vida; tenho de me sentir responsável por ela para lá das portas da empresa”, defende João Pedro Tavares.
“Há uma diferença entre a ementa e o prato que nos põem à frente. E o prato é o dia a dia e o dia a dia tem de ser vivido em coerência”, destaca, considerando que é importante medir o impacto que determinada empresa tem na economia e não apenas ver as medidas que toma internamente.
“Creio que, no futuro, seria bom que as empresas se medissem também assim”. Por exemplo, “de que forma é que esta empresa tem contribuído para o crescimento da natalidade”, sugere.
Na Manhã da Renascença, o presidente da ACEGE falou ainda do salário mínimo nacional, cujo valor para 2019 ainda não está fechado. João Pedro Tavares nota que “Portugal tem um desafio enormíssimo ao nível da produtividade” e que o valor de 600 euros não será um fim em si mesmo: “não é o último dos salários mínimos. Esse caminho tem de continuar a ser feito”.
Para já, 600 euros “é um valor aceitável”, diz.
Esta semana, Lisboa vai acolher o congresso mundial de empresários cristãos, um encontro que vai decorrer na Universidade Católica e cujo mote é, em inglês, “Business as a noble vocation” – ou, em português, “Negócios como uma vocação nobre”.
A ideia é criar um espaço de reflexão e partilha entre líderes empresariais de todo o mundo, que vêm a Portugal debater os caminhos possíveis para que os negócios sejam encarados, de facto, com essa vocação nobre e não como a mera procura de lucros de curto prazo.
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