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A petição que contesta o nome “Cardeal Dom Manuel Clemente”, proposto por Carlos Moedas, o presidente da câmara de Lisboa, para a ponte ciclopedonal entre Lisboa e Loures, já recolheu mais de 9.000 assinaturas (às 19h40 deste domingo) e, assim, também já poderá ser debatida no plenário da Assembleia da República.
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A adesão crescente à petição “não surpreende”, disse à Lusa Tiago Rolino, um dos promotores da iniciativa que tem como objetivo levar a debate na Assembleia da República a decisão da câmara da capital de dar o nome do cardeal-patriarca cessante, Manuel Clemente, à nova ponte ciclopedonal que liga os concelhos de Lisboa e Loures e que foi construída no Parque Tejo, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e da visita do Papa Francisco a Portugal no início de agosto.
A homenagem ao cardeal é contestada pelos promotores da petição pública, que consideram uma ofensa ao bom nome das vítimas de abusos sexuais pela Igreja Católica.
A comissão independente que estudou os abusos estimou que o número de crianças abusadas por padres e outros elementos da Igreja ao longo das últimas décadas ascenda a, pelo menos, 4.800 vítimas.
Em menos de 24 horas, o número de subscritores da petição contra o nome do cardeal proposto por Carlos Moedas passou de cerca de 1.000, no sábado ao final da tarde, para 8.753 pessoas, às 19h15 deste domingo (dia 13).
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“Não estamos surpreendidos com o alcance porque sabemos que é uma luta justa, que não é pessoal, não é contra ninguém, mas é pela proteção do bom nome das vítimas. É uma luta justa de toda a gente”, disse Tiago Rolino.
No dia em que o Jornal de Notícias revelou que 93% dos contratos da JMJ foram feitos por ajuste direto, o promotor da petição pública acusou o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas (PSD, ex-ministro de Pedro Passos Coelho e ex-comissário europeu), de querer fazer “um ajuste direto de imagem e afirmação política” às custas de uma infraestrutura pública e das vítimas de abusos pela.
“A sociedade percebeu a importância destes movimentos. É uma causa de proteção dos mais elementares direitos humanos. Carlos Moedas quis fazer aqui um ajuste direto de imagem e afirmação política”, afirmou.
Intitulada “Petição pela alteração do nome previsto para a ponte Lisboa/Loures no Parque Tejo”, a petição foi lançada no sábado através da rede social X (antigo Twitter) por Telma Tavares, autora dos cartazes em memória das vítimas de abusos sexuais por membros da Igreja Católica que foram colocados em Lisboa, Loures e Algés durante a JMJ, que decorreu no início do mês.
Durante os dias em que decorreu a JMJ, o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, também reagiu mal à iniciativa cívica, tendo ordenado a remoção do cartaz que evoca as mais de 4800 vítimas de abusos. Horas depois, o autarca foi obrigado a recolocar o cartaz sob pena de estar a cometer mais uma ilegalidade.
Na nova petição é invocada “a suposta laicidade do Estado” e questionado se a atribuição do nome de Manuel Clemente à ponte “pode ser vista até como uma ofensa e/ou desrespeito pelas mais de 4800 vítimas de abuso sexual por parte da igreja em Portugal”.
“Sendo a ponte um dos equipamentos que foi pago com recurso a dinheiros públicos, que todos os portugueses irão pagar com assinalável esforço, o mínimo exigível será que se homenageie quem tenha factualmente marcado a diferença ou sido autor de feitos que mereçam destaque no nosso município”, lê-se no texto.
A petição é dirigida à Câmara Municipal de Lisboa (CML), mas tendo já recolhido mais de 7.500 assinaturas poderá ser apreciada pelos deputados em plenário na Assembleia da República.
Como referido, na sexta-feira, a CML surpreendeu muito ao anunciar que a nova ponte ciclopedonal que liga os concelhos de Lisboa e Loures, sobre o rio Trancão, na zona oriental da cidade, vai chamar-se Ponte Cardeal Dom Manuel Clemente.
“É uma justa homenagem da cidade a um homem que deu tanto a Lisboa ao longo da sua vida”, afirmou Carlos Moedas, em comunicado.
Numa mensagem enviada à Lusa, Manuel Clemente agradeceu “a generosidade” do município e disse incluir no seu nome “todos quantos trabalharam na Jornada Mundial da Juventude”.
Segundo a câmara de Lisboa, o nome da ponte foi comunicado ao presidente da autarquia de Loures, Ricardo Leão (PS), que considerou tratar-se de “uma boa opção e um justo reconhecimento”.
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