A Comissão Central de Trabalhadores (CCT) da Petrogal pediu a reabertura da refinaria de Matosinhos, distrito do Porto, considerando que a anunciada cidade da inovação a construir no local “mostra a imensa tragédia” do encerramento da estrutura.
“É hora de reabrir a refinaria e investir a sério na sua dinamização, bem como na refinaria de Sines [distrito de Setúbal], sem nos cansarmos de alertar serem aqueles investimentos urgentes e inapeláveis para assegurar e prepará-las para a transição energética”, afirma CCT da Petrogal, em comunicado enviado às redações.
Considerando que, “passado mais de um ano, a administração desvendou a peça que faltava no puzzle do encerramento da refinaria” localizada no distrito do Porto, a CCT classifica o processo de encerramento da estrutura como um “crime económico e social em nome da transição energética que já ficou mais que demonstrado ter servido apenas como um ecrã para ocultar as verdadeiras razões”.
Na quarta-feira, a Galp, a Câmara de Matosinhos e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) anunciaram que a antiga refinaria de Matosinhos vai dar lugar a uma cidade da inovação ligada às “energias do futuro”.
A CCT, que afirma ainda não ter tido acesso ao protocolo celebrado entre as partes, afirma que o que se sabe para já “não passa de um processo de intenções recheado de lugares-comuns”.
Para a estrutura representativa dos trabalhadores da Petrogal, continua-se a “explorar o filão da transição energética de todos os termos associados ao progresso tipo “innovation district””.
Contestando o encerramento, a CCT considera que os combustíveis produzidos na refinaria “vão ser necessários nos próximos anos e continuam a ser o eixo principal do desenvolvimento económico, e produtos químicos e óleos-base que alimentavam muitas empresas na região e passaram a ser importados”, bem como “milhares de toneladas de combustíveis”.
A CCT acusa a Galp de querer “fazer um condomínio à beira-mar plantado com um “green park” [parque verde] – como não poderia deixar de ser”, tendo até contratado “uma ex-secretária de estado da Indústria [Ana Lehmann] para coordenar o projeto de urbanização”.
Os trabalhadores notam ainda a “perfeita coordenação entre todas as entidades públicas e a administração para destruírem empregos presentes — 5.000 — tendo como contrapartida a criação hipotética de outros no futuro e aí não há limite para o delírio”.
Segundo o protocolo, a cidade da inovação que irá surgir na antiga refinaria da Galp, em Matosinhos, poderá gerar 20 a 25 mil empregos diretos e indiretos em 10 anos, estando ainda prevista a colaboração da Universidade do Porto no projeto.
“Ainda ninguém se referiu aos trabalhadores da refinaria, aqueles que foram empurrados para rescisões por mútuo acordo, os despedidos e os que estão a aguardar por nova colocação, em concreto, a necessidade impreterível de todos serem reintegrados na empresa, assim o queiram”, pode ler-se no texto.
A CCT considera ainda que “a tragédia maior é a confirmação do caráter rentista dos grupos económicos – capitalistas – ditos nacionais como o grupo Amorim a quem a Galp foi entregue de bandeja que prefere fazer dinheiro fácil sem investimento e cujo exemplo é este trágico episódio a norte”.
“A antevisão dos principais itens operacionais e do aumento dos dividendos já anunciados pela administração confirmam que há um impacto significativo do encerramento da refinaria do Porto nos resultados da empresa, que a CCT estima em mais de cem milhões de euros (em 2022)”, referem os trabalhadores, assinalando também “o aumento das margens de lucro dos combustíveis”.
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