Agora, a guerra entre a Rússia e a Arábia Saudita por causa do preço do petróleo está a agravar os receios dos investidores, que estão a fugir das bolsas, levando os mercados a quedas significativas.
A epidemia de coronavírus e a guerra de preços do petróleo entre a Rússia e a Arábia Saudita, dois dos grandes produtores mundiais, estão a atirar as bolsas mundiais para o tapete. Os principais índices bolsistas registam perdas avultadas, aproximando-se do comportamento registado com o brexit.
Em Lisboa, o PSI20 – o principal índice – desvaloriza 7,61% para os 4.316,48 pontos, com as 18 cotadas que compõe o índice no vermelho, embora, nos primeiros minutos da sessão, a queda fosse ainda mais acentuada, tendo sido superior a 8%. Entre os pesos pesados da praça lisboeta, as perdas são acentuadas. O BCP desce 9,68% para 12,78 cêntimos enquanto a Galp Energia está a recuperar um pouco da forte desvalorização registada ao início da manhã (-25%), caindo agora 15,54% para 9,696 euros por ação.
A evolução registada pela petrolífera liderada por Carlos Gomes da Silva acompanha o comportamento de outras empresas que operam no setor do petróleo: a britânica BP regista uma queda de quase 30%, embora tenha conseguido recuperar ligeiramente, estando as ações nas 316 libras. A Repsol perde 13,90%, negociando nos 8,27 euros. Também a petrolífera Shell regista uma quebra de 14,19% esta manhã, estando nos 15,88 euros por ação. Ainda no setor da energia em Portugal, a EDP recua 7,07% para 4,063 euros.
Entre as congéneres europeias, o cenário não é melhor. Em Paris, o CAC40 tomba 7,05%, em Londres, o Footsie perde 6,67%, o espanhol IBEX35 recua 7,22%. Na Ásia, o dia já tinha sido negro, com o japonês Nikkei a fechar a sessão com uma descida de 6,15% e o Topix a perder 6,07%.
Se a epidemia de coronavírus, que chegou em força à Europa na última semana, já tinha agravado o nervosismo dos investidores, castigando as bolsas, penalizando vários setores, sendo que o turismo e a aviação dos mais fustigados, a guerra entre a Arábia Saudita – o principal produtor mundial de petróleo – e a Rússia (um dos principais produtores mundiais mas que não integra a OPEP) veio agravar os receios. O resultado é uma segunda-feira negra nos mercados bolsistas.
Na última sexta-feira, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os seus aliados, onde se inclui a Rússia – grupo conhecido por OPEP+ – não conseguiu alcançar um acordo para cortar a produção mundial de petróleo, o que teria como efeito uma subida dos preços da matéria-prima, e responderia a uma quebra da procura devido ao coronavírus. Logo nesse dia, os preços de petróleo recuaram tanto em Nova Iorque como em Londres – o Brent do Mar do Norte, que serve de referência para Portugal.
O fim de semana não trouxe, contudo, uma acalmia. Pelo contrário. A Arábia Saudita anunciou um aumento da sua produção já a partir do próximo mês e uma descida dos preços por barril, de acordo com a Reuters. A resposta de Moscovo não se fez tardar e esta segunda-feira a Rússia já anunciou que pode aumentar a sua produção e que a sua economia pode fazer face a baixos preços de petróleo entre seis a dez anos, de acordo com a agência de informação.
Uma queda acentuada dos preços do petróleo penaliza os produtores mundiais, em especial países como a Venezuela e o Irão, duas economias muito dependentes das receitas do petróleo e que já estão sob pressão das sanções americanas.
Entretanto, a Agência Internacional de Energia (AIE) já alertou que o novo coronavírus provocará em 2020 a primeira contração da procura global de petróleo desde a recessão de 2009. Avisa ainda que o crescimento do consumo vai desacelerar nos exercícios seguintes. A AIE reconhece que a situação ainda é muito incerta, também pela falta de acordo na sexta-feira entre os membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e os dez aliados liderados em relação a um corte da produção que por agora não vai ocorrer.
Os preços do petróleo continuam a cair de forma significativa – recuando na casa de 20%. O Brent do Mar do Norte – negociado em Londres e que serve de referência para Portugal – negoceia nos 35,22 dólares por barril.
Recessão global?
Com as ondas de choque da queda do preço do petróleo a fazer-se sentir nas principais praças mundiais esta segunda-feira, alguns analistas vaticinam que, neste momento, “a recessão global é inevitável”. Nigel Green, CEO e fundador do deVere Group indicou à Business Insider que “uma recessão global é quase inevitável este ano”.
“A queda mais acentuada do petróleo num único dia, desde a guerra do Golfo em 1991, tem alimentado as vendas nos mercados globais que começou há algumas semanas, com receio de que o vírus possa danificar gravemente o crescimento económico. Com a combinação das implicações de um braço de ferro no petróleo, acredito agora que é praticamente inevitável uma recessão global este ano”.
“É um pesadelo”, indicou Tamas Vargas, analista da PVM Oil Associates, em Londres, em declarações à agência Bloomberg. “Tivemos um choque na procura e agora temos um choque na oferta, também. É uma situação sem precedentes”.
Os analistas do Goldman Sachs, citados pelo Market Watch, referem que o preço do barril de petróleo poderá continuar em queda, chegando ao mínimo dos 20 dólares por barril, justificado pelo abrandamento da procura. E avisam ainda que estes preços “começarão a criar um stress financeiro agudo e na quebra da produção”.
Já Neil Wilson, principal analista de mercados da Markets.com, avança à Business Insider que este dia será recordado como “a segunda-feira negra”. “Se se pensava que as coisas não poderiam piorar mais do que nos últimos quinze dias, pensem outra vez. O sangue está a correr nas ruas, é uma carnificina”.
“Há um risco de perdas nas posições de petróleo que precisam de ser cobertas com as vendas noutro lado – é um círculo vicioso. Ainda nem sabemos que tipo de impacto é que o coronavírus pode ter na economia e, no entanto, os mercados de obrigações e os mercados acionistas estão a gritar recessão.”
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