//Plataforma da ONU quer “obrigações azuis” para investimento nos oceanos

Plataforma da ONU quer “obrigações azuis” para investimento nos oceanos

A Plataforma Sustainable Ocean Business da Organização das Nações Unidas (ONU) quer criar ‘blue bonds’ (obrigações azuis), destinadas a promover investimentos sustentáveis nos oceanos pelo setor privado, disse à Lusa o responsável da entidade, Erik Giercksky.

Em Portugal para dar início à preparação da Conferência dos Oceanos da ONU, que decorre em Lisboa em junho de 2020, Erik Giercksky disse, em entrevista à agência Lusa, que as projeções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) para 2050 são de que a economia do mar cresça duas vezes mais rápido do que a da terra, aproveitando o potencial sustentável dos oceanos na exploração, por exemplo, de energia e alimentos.

“Isto definitivamente requer investimento [do setor privado] e é por isso que estamos atualmente a trabalhar com as principais instituições financeiras, para criarmos o que chamamos de ‘blue bond’, um fundo de investimento ‘azul’, que se destina apenas a investimentos sustentáveis”, explicou o responsável pela plataforma de ação Sustainable Ocean Business.

Segundo Erik Giercksky, “há tecnologia capaz de criar eficiência de forma mais rápida” usando o potencial dos oceanos, do que o da terra.

O responsável destacou a importância de fazer com que a criação de peixe em aquacultura passe dos atuais 0,1% da base de proteína disponível para 50%, uma vez que, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla inglesa), esta é uma forma sustentável de dar resposta às necessidades alimentares resultantes do aumento da população no mundo.

Também é necessário, disse, que a energia eólica ‘offshore’ passe também dos atuais 0,1% do total da produção de energia para “talvez 80%”, e que 100% do transporte marítimo seja feito com energia renovável, uma vez que representa 90% do total de transporte de mercadorias atualmente.

“Portugal, em particular, tem tido um papel de liderança nestas questões. Já vemos projetos pioneiros em aquacultura e a produção de energia eólica ‘offshore’”, realçou.

Com o objetivo de promover a exploração sustentável dos oceanos, a Sustainable Ocean Business decidiu juntar as principais empresas que atuam no mar, as referências da comunidade científica e as principais instituições da ONU para criarem em conjunto um roteiro sobre se pode fazer essa exploração de forma sustentável.

Assim, na última Assembleia Geral das Nações Unidas, em outubro passado, foram lançados os nove Princípios de Sustentabilidade dos Oceanos, que pretendem ser, segundo Erik Giercksky, “uma ferramenta para os mercados, investidores e companhias de seguros”.

“Já vemos companhias de seguros a terminarem contratos com companhias que fazem pesca ilegal no Pacífico. Já temos empresas de capital privado a retirar investimento de companhias de transportes marítimo [que não cumprem as normas], por exemplo, no Bangladesh. Já temos também bancos a pôr termo a créditos com companhias que não cumprem estas regras [de sustentabilidade], cancelando investimentos de negócios de construção de navios de uma forma pouco eficiente”, congratulou-se.

O Pacto Global das Nações Unidas, através da sua plataforma dos oceanos, criou, em 2018, uma rede internacional de aceleração para promover o desenvolvimento de soluções tecnológicas que fomentem a sustentabilidade dos oceanos, com a apresentação dos primeiros resultados prevista para junho de 2020, durante a Conferência dos Oceanos da ONU que vai decorrer em Lisboa.

“Pensamos que virão 100 empresas a Portugal dentro de seis meses [à Conferência dos Oceanos], para participar ativamente e acordar sobre o que é preciso para o futuro”, adiantou o responsável.

O CEiiA – Centre of Engineering and Product Development foi a única entidade portuguesa convidada a aderir ao grupo restrito de cerca de 45 entidades mundiais que compõe esta rede internacional.

Para o chefe de governança corporativa do CEiiA, Gualter Crisóstomo, “o setor privado tem a responsabilidade de envolver as novas gerações, para que sejam parte da solução”.

Hoje celebra-se o dia nacional do mar, que teve origem na convenção das Nações Unidas sobre o direito do mar, em vigor desde 1994, tendo Portugal ratificado o documento três anos depois.

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