Populares cantaram este domingo a “Grândola, Vila Morena”, durante a cerimónia de abertura do Castelo de Montalegre, em protesto contra a mina a céu aberto que está prevista para a freguesia de Morgade.
A “Grândola, Vila Morena”, a canção escrita por Zeca Afonso e que foi uma das senhas da revolução de Abril, foi hoje usada como “grito de revolta” contra a mina de lítio que pode nascer na freguesia do distrito de Vila Real.
Muitos populares vestiram também uma camisola branca onde se podia ver uma circunferência vermelha com uma mão desenhada a branco e a mensagem “não à mina”.
“Nós estamos contra a mina, mas a preocupação não deve ser só nossa porque há outros pedidos de prospeção para o concelho que poderá ficar como um queijo suíço. Ficará completamente perfurado”, afirmou Armando Pinto, porta-voz da Associação Montalegre Com Vida, que está em fase de legalização.
O responsável referiu que o movimento contra o lítio está a crescer e a juntar pessoas de outras aldeias do concelho e outras que são de Montalegre mas vivem fora.
“Hoje só nos deu mais força para nós não pararmos. Vamos continuar a lutar”, sublinhou.
E a luta, segundo Armando Pinto, pode também passar pelos tribunais.
Em março, foi assinado o contrato entre o Estado português e a empresa Lusorecursos para a exploração da mina do Romano (Sepeda) na freguesia que agrega as aldeias de Morgade, Carvalhais e Rebordelo.
De acordo com a associação, existem já mais seis pedidos de prospeção para o lítio e estão identificados, no concelho, 20 pontos de interesse mineiro.
“Isto vai ser uma catástrofe, dentro de 10 anos ninguém vai conseguir viver nesta região se isto é para continuar. Então é não, e não, e não e ponto final”, salientou José Manuel, residente na vila de Montalegre.
Nuno Afonso é de Rebordelo e disse à agência Lusa que “é uma grande falta de respeito o que estão a fazer ao povo do Barroso”.
“Nós já tanto demos, as barragens, os parques eólicos e nada ou pouco recebemos em troca. Já perdemos os melhores terrenos para as albufeiras”, frisou.
Nuno Afonso disse que a mina “vai ficar demasiado perto das aldeias” e lembrou que a zona é “muito ventosa” e que, “por isso, as poeiras da exploração vão espalhar-se”, elencando ainda consequências a nível dos recursos hídricos.
“Estão a passar a ideia de que nós somos uns incultos, que não estamos informados e nós queremos demonstrar a nossa posição que é contra a exploração mineira tão próxima das localidades. As pessoas aqui são pobres, mas são felizes”, frisou.
Elisabete Cruz é de Montalegre, vive em Chaves e hoje cantou também a “Grândola, Vila Morena” por causa dos impactos ambientais.
“Aquilo que de melhor nós temos é não termos poluição, os recursos hídricos, a agricultura e este projeto vai deitar tudo por terra”, salientou.
A música de Zeca Afonso cantada pelos populares ouviu-se durante o discurso do presidente da Câmara, Orlando Alves, que se preparava para receber as chaves do castelo de Montalegre, que hoje abriu ao público, depois de décadas fechado e de obras de requalificação que custaram 1,5 milhões de euros.
O autarca afirmou que gostou de ouvir a música que também gosta de cantar e considerou que “é um direito as pessoas manifestarem-se”.
“Este é o momento em que o coração e o medo ainda podem falar, o coração e o medo que normalmente nunca são bons conselheiros”, referiu.
Orlando Alves referiu que os impactos decorrentes da exploração serão conhecidos depois de apresentados o plano de lavra e o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que a empresa Lusorecursos diz estar em fase de elaboração.
“Aquilo que estão neste momento a fazer é dizer não por não e aquilo que eu digo é esperemos com serenidade, aguardemos que seja apresentado aquilo que é o suporte técnico para que possamos tomar decisões”, salientou.
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