//Porta-voz de Centeno diz que “não é justificável retratar Eurogrupo como opaco

Porta-voz de Centeno diz que “não é justificável retratar Eurogrupo como opaco

Mário Centeno reagiu assim às críticas de falta de transparência daquele fórum contidas num relatório publicado hoje pela Transparência Internacional.

Na reação ao relatório da organização não-governamental (ONG), que denuncia que o fórum de ministros das Finanças da zona euro é um órgão que funciona de forma intencionalmente opaca, Mário Centeno começa por reconhecer que, à medida que vão sendo tomadas medidas para fortalecer a zona euro e as suas instituições, “faz sentido” avaliar que passos adicionais poderão ser dados para reforçar a transparência e responsabilização do Eurogrupo, além daqueles que já foram postos em prática nos últimos anos.

“Presentemente, não existem diferenças significativas nas práticas de transparência entre o Eurogrupo e outras reuniões similares do Conselho, em particular o Ecofin. Assim, não é justificável retratar abertamente o Eurogrupo como opaco”, salientou.

Para sustentar a sua premissa, o presidente do fórum dos ministros das Finanças do espaço da moeda única lembrou que são publicadas “agendas detalhadas” de cada reunião, assim como o sumário das mesmas e os documentos nelas debatidos.

“Foram tomadas também medidas para reforçar a prestação de contas [do Eurogrupo], dentro do respeito pelos limites do quadro institucional existente. Disso exemplo é o compromisso de diálogo frequente assumido pelo presidente do Eurogrupo com o Parlamento Europeu, a diferentes níveis”, notou.

O também ministro das Finanças português termina a sua declaração saudando a iniciativa da Transparência Internacional e indicando que o Eurogrupo ponderará que passos adicionais dar para reforçar a transparência e a responsabilização daquele fórum.

No relatório hoje publicado, a Transparência Internacional questiona a legitimidade de um órgão informal que classifica de quase “fantasmagórico”, onde a confidencialidade, intencional, “exacerba as assimetrias de poder entre os Estados-membros”, permitindo aos países mais poderosos, como Alemanha e França, pressionar os mais pequenos, designadamente os “devedores”.

Entre várias recomendações, a ONG sugere que o cargo de presidente do Eurogrupo, atualmente ocupado por Mário Centeno, seja exercido a tempo inteiro e em regime de exclusividade, pois, sustenta, o facto de o fórum ser dirigido, em ‘part time’, pelo ministro das Finanças de um dos seus membros conduz a “um inevitável conflito de interesses”.

De acordo com a TI, “para uma instituição cujas decisões tiveram impacto nas vidas de milhões de europeus, há muito sobre o Eurogrupo que é um mistério”, sendo o fórum quase fantasmagórico, pois “não é governado pelos Tratados da UE, os seus membros por vezes alegam que não tomam quaisquer decisões, não tem ‘staff’ próprio e não tem sequer quartel general”.

“O que é exatamente o Eurogrupo, que decisões toma e como opera são questões ainda muito pouco claras. É esta falta de clareza que tem profundas consequências para a sua responsabilidade e, como tal, para a sua legitimidade. De facto, uma das principais conclusões é que o Eurogrupo escapou e continua a escapar à responsabilização que o seu amplo impacto exige”, sustenta o relatório.

À luz da lei da UE, realça, “o Eurogrupo é apenas um órgão que visa gerar consensos, sem a autoridade para tomar decisões. Os tratados da UE apenas mencionam o Eurogrupo num anexo. Mas, as decisões pré-acordadas em sede do Eurogrupo são adotadas pelo Conselho (da UE) sem mais debates, e mesmo quando é necessária uma votação apenas os ministros da área do euro votam, ou seja, os membros do Eurogrupo”.

Segundo a Transparência Internacional, “a falta de transparência do Eurogrupo é pensada como uma funcionalidade, não uma falha”, sendo a confidencialidade privilegiada “supostamente para ajudar a forjar compromissos, e desse modo a facilitar o processo de tomada de decisão”.

“Além disso, a falta de transparência exacerba as assimetrias de poder entre os Estados-membros”, denuncia o relatório, nomeando Alemanha e França como os únicos países que têm recursos para “lidar com tanta informação” a nível de política económica na zona euro, o que leva a que as decisões, incluindo sobre os projetos orçamentais de cada país, sejam tomadas muito em função dos pareceres de Berlim e Paris.

A ONG agradece no seu relatório a cooperação, para a elaboração do mesmo, do próprio presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, a quem reconhece também o mérito de ter introduzido uma nova prática, de convidar investigadores académicos para discussões ocasionais sobre temas específicos, o que considera “uma mais valia”, ainda que “apenas um passo pequeno” no sentido de abrir mais o fórum ao exterior.

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