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Portugal poderá vir a fazer parte do lote de produtores mundiais de amêndoa no espaço de quatro a cinco anos, se as campanhas continuarem a ser tão boas como as deste ano. É previsível que a colheita de 2023 alcance as 20 mil toneladas de miolo de amêndoa, o que representa um aumento de cerca de 20% em relação ao produto conseguido no ano passado, estima o diretor-executivo da Portugal Nuts – Associação de Promoção de Frutos Secos, em declarações ao DN/Dinheiro Vivo.
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Diz António Saraiva que só as amendoeiras plantadas na zona da EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva vão contribuir com cerca de oito mil toneladas de miolo daquele fruto para o total da colheita nacional. “A média de idades dos árvores que lá estão é de quatro anos. Portanto, são novas. Sendo que uma amendoeira entra em produção ao terceiro ano, o quarto ano ainda é de crescimento – e elas vão progredindo até a atingir a maturidade -, há aqui um potencial muito grande para nos fazer crescer”, refere o dirigente.
Com a crescente capacidade das amendoeiras daquela zona e com o resto dos amendoais nacionais em plena produção – com algumas exceções para a zona algarvia, onde as árvores estão mais envelhecidas – existe amêndoa suficiente para o consumo nacional e também para exportar.
“As quantidades que nós produzimos são capazes de satisfazer a procura nacional. O crescimento da fileira tem sido extraordinário e nós estamos a aumentar a nossa capacidade de exportar”, refere António Saraiva. Embora saiba que vender é sempre difícil e que no futuro esse será um desafio para o setor, o responsável da Portugal Nuts também explica que o país tem o benefício de estar ao lado dos maiores importadores e exportadores de amêndoas, em Espanha.
“Temos vantagem de ter operadores aqui em Portugal que são espanhóis. E já aqui estão a produzir amêndoas porque as condições que temos são melhores do que as que encontram no seu país”, diz. E explica que vários operadores do país vizinho vêm a Portugal comprar amêndoas, porque estão muito próximas das suas unidades de transformação e têm acesso a variedades às quais estão habituados em Espanha.
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Apesar de ainda termos pouco peso no mercado mundial, que é liderado pelos Estados Unidos com 78% da produção, José Saraiva acredita que a amêndoa nacional vai conseguir chegar ao top quatro, logo após a Espanha, que ocupa o terceiro lugar. “No ano passado tivemos 1% da produção mundial, ainda não aparecemos na média dos últimos cinco anos, porque não temos um histórico grande, mas vamos consolidar essa posição”, garantiu o responsável, apontando que o nosso país já tem áreas com pomares que produzem de forma mais eficiente. “Nós já utilizamos a tecnologia mais recente”, disse.
Água, precisa-se
Mas para ter amêndoas – ou qualquer outra cultura – é preciso haver água. E José Saraiva acredita que, em Portugal, ainda não foi entendido o interesse estratégico desta fileira. “São culturas com valor, com potencial instalado no terreno e o investimento está feito. Há muito dinheiro investido nisto, com a indústria a vir localizar-se cá, a criar emprego”, declara, pedindo apoio e condições para os produtores. “Um ponto crítico é a disponibilidade de água de rega”, aponta.
Frisando que agora a questão não é disponibilidade de terra e sim a disponibilidade de água, o responsável pede maiores dotações para as amendoeiras, em especial, da zona de intervenção da EDIA, no Alentejo. “Aquilo que nós reivindicamos da EDIA e saber se, no futuro, vamos ter o mesmo direito à água que têm as outras culturas”. Isto porque, como afirma, as dotações para o amendoal não estão em equilíbrio com aquilo que foi feito para as outras culturas.
“Não está sequer próximo do ótimo do que a cultura necessita, enquanto a todas as outras culturas foi dada uma dotação que lhes permite produzir com níveis mais elevados daquilo que é a média dos países mais desenvolvidos.” E, apesar de reconhecer que, no caso da amêndoa, mesmo tendo sido feito um reforço da dotação por ter sido um ano seco – reforço esse que foi feito para todas as culturas -, considera que foi insuficiente relativamente ao seria a necessidade efetiva de água.
Apelo à tutela
Por outro lado, José Saraiva apela também ao Ministério da Agricultura para que agilize as autorizações para a utilização de novos produtos fitofarmacêuticos de síntese ou biológicos, que auxiliem no combate a pragas e ou doenças. “Se não houver nenhuma destas interferências, se a água não for uma limitação e se conseguimos resolver este problema, que temos neste momento, penso que estão reunidas as condições para progredirmos”.
E lembra que muitos dos produtores de amêndoa são jovens agricultores que decidiram dedicar a sua vida a esta cultura, que ocupa cerca de 15 mil hectares no nosso país.
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