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A retoma está em curso, deve ganhar força neste ano e no próximo, mas no caso de Portugal, a riqueza por pessoa (produto interno bruto ou PIB per capita) vai demorar quase três anos a ser reposta nos níveis pré-pandemia; Portugal será o terceiro mais lento do grupo dos chamados países ricos ou mais desenvolvidos, indica um novo estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE).
No caso da retoma do emprego, Portugal não consegue recuperar totalmente e vai precisar de mais tempo, sobretudo porque a economia é “altamente dependente” do turismo, assinala a OCDE.
A criação de postos de trabalho acontece de forma modesta este ano (mais 0,6%) e no próximo (mais 0,9%), mas não chega para compensar a destruição elevada que marcou o ano passado, quando a economia registou uma quebra de 2% no emprego.
Antes da crise, o turismo valia mais de 15% da riqueza produzida anualmente pela economia portuguesa e representava cerca de metade das exportações de serviços.
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Tomando como base de partida a situação económica (PIB per capita) de final de 2019, a OCDE mostra que Espanha terá a recuperação mais lenta no grupo de 32 países mais desenvolvidos e que integram o clube da OCDE, levando cerca de 3,5 anos a regressar aos níveis pré-crise pandémica, de acordo com o panorama económico (outlook económico), ontem divulgado.
A Bélgica aparece em segundo lugar no ranking, demorando cerca de três anos a apagar estragos.
A terceira posição é ocupada, ex-aequo, por Portugal, Áustria, França e Eslovénia. Vão demorar 2,75 anos (dois anos e nove meses) a repor os valores destruídos pela pandemia e os confinamentos.
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© OCDE
A OCDE mostra que, no caso de Portugal, a maior lentidão está muito relacionada com o turismo, que embora tenda a recuperar, não o fará ao mesmo ritmo que outros setores por causa das restrições que ainda existem nas viagens internacionais e noutras atividades relacionadas.
Neste novo outlook, a OCDE mostra, por exemplo, que atualmente, apesar de a retoma já estar em curso, as exportações de serviços portuguesas (onde está o setor do turismo e das viagens internacionais) ainda se encontra 38% abaixo do nível pré-pandemia, o oito registo mais fraco entre as 40 economias estudadas. A Indonésia e a Grécia estão a braços com quebras superiores a 55%.
Crescimento revisto em alta, em todo o caso
O crescimento para a economia portuguesa, este ano, vai ser mais do dobro do previsto em dezembro, fez saber a OCDE. Mas ficou um aviso: o ano pode ser ensombrado com uma vaga de falências empresariais, apesar de o Plano de Recuperação e Resiliência poder amortecer parte desse descalabro.
A instituição prevê que Portugal cresça 3,7% em 2021 (estimava 1,7% em dezembro) e que o desemprego seja substancialmente mais baixo (7,4% da população ativa em vez de 9,5% avançados em dezembro).
Problema: como referido, a OCDE está bastante mais preocupada com “uma vaga de falências” de empresas a partir do final do ano, embora admita que o Plano de Recuperação pode contrariar as forças negativas da economia, se aplicado de forma “eficaz”, elevando o investimento público e privado.
A OCDE é, das grandes instituições que fazem previsões para Portugal, a menos otimistas quanto força da retoma. A entidade sediada em Paris prevê um impulso de 3,7%, abaixo dos 3,9% do Banco de Portugal, da Comissão Europeia (CE) e do FMI. Ou dos 4% assumidos pelo governo no Programa de Estabilidade.
Para o conjunto dos 38 membros da OCDE, o departamento económico antecipa uma expansão mais forte, na ordem dos 5,3% este ano, com os Estados Unidos a destacarem-se com um avanço enorme da economia, que pode chegar a 6,9% ou mais em 2021. A zona euro será mais lenta: avança 4,3% em 2021, diz a organização.
Nas contas públicas portuguesas, a OCDE prevê agora neste outlook que o défice desça de 5,7% do produto interno bruto em 2020 para 4,8% este ano. A meta do governo é cortar para 4,5%. Este mês, a CE calculou 4,9%.
O peso da dívida pública pouco aliviará este ano. Depois dos 133,6% do produto interno bruto (PIB) com que terminou 2020, o fardo ficará pelos 133,4% este ano, prevê a organização.
Estes números foram apresentados pela última vez pelo mexicano Angel Gurría, que terminou ontem 15 anos distribuídos por três mandatos à frente da OCDE. É sucedido por Mathias Cormann, da Austrália.
O ‘think tank’ diz que “a recuperação da economia portuguesa depende da capacidade de contenção da pandemia a nível interno e nos principais parceiros comerciais, devido à elevada dependência de Portugal face ao turismo”.
Estes economistas temem “uma vaga de falências de empresas, principalmente quando a moratória pública terminar, o que pode pesar sobre o investimento e a oferta de crédito, aumentando os créditos malparados, já de si elevados à luz dos padrões internacionais”.
“O aumento dos passivos contingentes por causa do grande uso de garantias do Estado representa um risco para os desenvolvimentos orçamentais futuros” mas “em contrapartida, uma absorção mais rápida e bem direcionada dos fundos europeus pode expandir o potencial económico”.
Segundo a OCDE, o segredo do sucesso da saída da crise pandémica passa pelo dinheiro público. É preciso que “o apoio orçamental continue a ser forte”.
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