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João Luís Traça, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola (CCIPA), acredita que, “com uma economia em crescimento, não faltarão empresas portuguesas interessadas em investir em Angola” e garante: “Não se trata de uma mensagem de esperança, mas antes de uma convicção”. Após anos de dificuldades nas relações comerciais entre as empresas nacionais e o Estado angolano, provocadas pelas dívidas de Angola ao tecido empresarial português, o pro- blema parece fazer parte do passado. Em abril, o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, confirmava aos jornalistas que “89% das dívidas acumuladas no passado já foram regularizadas”, o que se traduz na liquidação de cerca de 520 milhões de euros dos 585 milhões de dívida certificada.
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Ao Dinheiro Vivo, o economista António Nogueira Leite destaca a “boa vontade grande do presidente [João Lourenço]” e o “esforço grande do governo português” como as principais razões que permitiram saldar as dívidas há muito reclamadas pelos empresários portugueses.
De acordo com o ministério de Gomes Cravinho, são cerca de 1250 as empresas nacionais que desenvolvem atividade em Angola. O esforço de diversificação da economia angolana, impulsionado também pelo programa do FMI em Luanda, que terminou em dezembro, pode agora representar oportunidades em áreas como o turismo, a energia e a agricultura.
A intenção manifestada pelo ainda presidente João Lourenço para a construção de uma cidade aeroportuária, onde será inaugurado, em 2023, o novo aeroporto internacional de Luanda, é apenas um exemplo das oportunidades ao alcance dos empresários lusos.
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Balança comercial
No que respeita às exportações para Angola, os dados compilados pela AICEP mostram que Portugal tinha, no final de 2021, 4225 empresas a vender bens e serviços com destino ao país irmão, ainda que o peso das vendas de bens tenha vindo a cair desde 2017. Os números indicam que, em 2021, Portugal vendeu 951,6 milhões de euros em bens, um valor que con- trasta com os 1786,2 milhões de euros registados em 2017. Ainda assim, o último ano representou uma subida face aos 870,3 milhões exportados em 2020.
Quando o tema é a exportação e importação de serviços, as vendas portuguesas (573,9 milhões de euros) superaram, em 2021, largamente as compras a Angola (80,9 milhões), resultando num saldo positivo de 493 milhões de euros.
Viagens e turismo, serviços de investigação e consultoria, e telecomunicações ocupam o top do tipo de serviços vendidos. No balanço geral, a compra e venda de bens e serviços entre Portugal e Angola pinta-se de verde, com um saldo positivo de 1376 milhões de euros a favor da economia nacional.
Atrair investimento angolano
Para António Nogueira Leite, Portugal é um destino preferencial para o investimento angolano, não apenas pelas ligações históricas, culturais e linguísticas, mas sobretudo por servir como “plataforma importante para outros mercados na Europa”.
Embora sublinhe que não deve existir “xenofobia contra o investimento angolano”, defende ser fundamental que as instituições portuguesas não cometam o erro, como no passado, de fazer do país “uma grande lavandaria de dinheiro angolano de origem duvidosa”. O economista acredita, porém, que “a situação melhorou substancialmente” nos últimos anos e alerta ainda que Portugal não deve esquecer a importância que este investimento representou para as contas nacionais em períodos difíceis.
Em território nacional, a Sonangol continua a deter 19,49% das ações do BCP e controla, através da Esperanza Holding BV, 45% da Amorim Energia, o acionista de referência da Galp. Nos media portugueses, a recente aquisição do NOVO Semanário pela Media9Par, pertencente ao Emerald Group, do empresário angolano N”Gunu Tiny, junta-se à participação de 40% do Polígrafo e ao controlo de títulos como a Forbes Portugal e Forbes África Lusófona.Já em Angola, as empresas de construção Teixeira Duarte e Mota-Engil mantêm investimentos no país, a que se junta, no setor da banca, capital português na origem do Millennium BCP Angola, do Banco Caixa Geral, através da Caixa Geral de Depósitos, e do Finibanco Angola, por via do Montepio, que tem procurado vender a participação.
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