“Portugal não está imune, nunca esteve nem nunca estará” a uma recessão internacional”, lembra o bastonário da Ordem dos Economistas. “Tudo o que se passar nos nossos parceiros económicos tem repercussões imediatas”. O turismo tem suportado o crescimento, mas quando os consumidores dos países vizinhos perdem rendimentos “põem de lado o que não é essencial”.
Em entrevista à Renascença, António Mendonça diz que para o próximo ano existe uma “hipótese forte” de Portugal acompanhar os restantes parceiros comerciais, que já anteciparam que vão entrar em recessão.
A Comissão Europeia, o FMI e esta semana a OCDE, todos apontam para um crescimento no próximo ano abaixo de 1,3%, que é a estimativa do Governo. António Mendonça reconhece otimismo nas previsões do governo, mas o Orçamento do Estado também inclui alguma dose de cautela.
Segundo o bastonário, o executivo deixou um “pé-de-meia” para eventuais medidas adicionais de apoio a empresas e famílias, ao longo de 2023.
Bruxelas já alertou que Portugal está no amarelo, tendo em conta o nível de endividamento, não pode esticar mais a despesa, como medidas como o prolongamento dos apoios à factura da energia. Mas António Mendonça relativiza, diz que “temos de ter cuidado com essas declarações de responsáveis a nível europeu, que muitas vezes não têm em devida atenção aquilo que se está a passar”, para o economista são palavras para manter como “referência”.
A Comissão Europeia alerta ainda para os gastos com a Administração Pública, mas este economista sublinha que o problema não está na dimensão da máquina do Estado. “Todos os dias ouvimos ou lemos que é preciso mais professores ou médicos”, lembra. “O que precisamos é de qualidade na Função Pública, neste sentido estamos muito necessitados e traduz-se, muitas vezes, numa menos eficiência económica”. Aqui não se deve discutir a quantidade mas a qualidade e o diagnóstico é claro para este professor catedrático: é preciso mais incentivos.
Saúda o recente acordo entre o governo e os parceiros sociais, mas diz que ainda não chega. Portugal tem um problema claro de produtividade, era importante um acordo “de longo prazo” de dinamismo económico, um “projeto estratégico de crescimento sustentado a médio e longo prazo”.
A taxa sobre os lucros extraordinários divide economistas. Há quem defenda que deve ser incentivado o reinvestimento dos lucros e não a tributação. O bastonário não se mostra surpreendido ou incomodado pela reação de sectores como a distribuição, que querem contestar a medida em tribunal, mas defende que “se justifica incidir uma comparticipação sobre os tais lucros extraordinários”.
António Mendonça diz ainda que a inflação não justifica todo o atraso na execução dos PRR, mas admite que a complexidade dos processos contribui para este problema. As metas do governo podem ficar em causa.
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