Portugal falhou no esforço diplomático que devia ter feito com o Reino Unido, diz o presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve. Elidérico Viegas considera que a região está a ser discriminada sem sentido.
“O Algarve, como sabemos, tem índices de infeção e transmissibilidade da doença muito abaixo dos números considerados seguros”, começa por dizer à Renascença. Na opinião deste responsável algarvio, a região está a “levar um pouco por tabela pela situação que Lisboa está a atravessar”.
Nessa medida, e tendo em conta a importância do turismo britânico no Algarve, “a nossa diplomacia podia de alguma forma ter feito sentir ao Governo britânico que o Algarve está a ser penalizado”, ao ser “considerado um destino que não é seguro, quando isso não corresponde à verdade”.
“Penso que há um trabalho diplomático importante a fazer e que o Algarve e os empresários hoteleiros e turísticos agradeciam”, sublinha.
A retirada de Portugal da “lista verde” do Reino Unido foi anunciada na quinta-feira à noite e já teve consequências: centenas reservas foram canceladas.
E os fundos?
O presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve espera que o Governo esclareça, muito em breve, como se pode aceder aos fundos anunciados.
“O turismo como um todo finalmente teve um pacote de medidas que foi anunciado, mas que é para um período de pelo menos seis anos e não sabemos ainda em que termos é que as empresas poderão recorrer a esses fundos”, lamenta Elidérico Viegas, em declarações à Renascença.
O responsável algarvio classifica a medida britânica como “um balde de água fria” numa altura em que o setor turístico no Algarve estava a começar a ver alguma luz ao fundo do túnel.
“Além de profundamente injusta, é uma espécie de balde de água fria e vem colocar em causa as boas perspetivas que tínhamos para este verão, porque, além da procura por parte do mercado interno, estávamos a contar com a procura do nosso maior fornecedor de turistas, que é precisamente o Reino Unido”, explica.
Da parte de Londres, o ministro da Habitação veio reforçar, nesta sexta-feira, a medida anunciada, admitindo que se trata de uma “abordagem ultra cautelosa”, mas que se justifica enquanto não há dados sobre a chamada variante do Nepal (uma mutação da variante indiana).
“Há em Portugal evidências crescentes de uma mutação adicional, que ficou conhecida como a variante do Nepal. E como ainda não sabemos se isso será um problema, é aconselhável adotar uma abordagem ultra cautelosa, enquanto os nossos cientistas analisam os dados, veem quais são as suas características e, acima de tudo, se as nossas vacinas são eficazes”, afirmou Robert Jenrick à BBC.
Portugal continental, Madeira e Açores deixam a “lista verde” do Reino Unido às 4h00 de dia 8, próxima terça-feira. O país passa para a “lista amarela” (ou âmbar) para “salvaguardar a saúde pública contra variantes preocupantes” e proteger o programa de vacinação britânico.
Mas os especialistas portugueses acreditam pouco nas bases científicas desta medida.
“Esta situação de se dizer que é por causa de termos esta variante em baixíssimo número e que possa levantar algum problema a um país que, ele próprio, é que tem sido o exportador de uma série de variantes, parece-me uma desculpa. Do ponto de vista virológico, não me parece que haja sentido”, aponta o presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia.
Paulo Paixão considera que os portugueses correm mais riscos com a vinda de britânicos do que vice-versa e diz que a medida terá por base motivos económicos.
“Parece-me, honestamente, uma campanha orquestrada para os ingleses se concentrarem dentro de muros” e assim contribuírem para a retoma da economia britânica.
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