
As elites económicas portuguesas têm um melhor desempenho que as elites políticas. Esta é uma das conclusões do primeiro relatório sobre a qualidade das elites a nível global que é apresentado esta quarta-feira. Um relatório em que Portugal fica em 14.º lugar, à frente de França, Itália ou Espanha num conjunto de 32 países liderado por Singapura.
“Esta realidade poderá potenciar uma nova fase de convergência real de Portugal com os países europeus que já foi iniciada antes da crise pandémica, mas que sofreu um forte revés com ela”, disse à Renascença Claúdia Ribeiro, professora da Faculdade de Economia do Porto, a parceira portuguesa deste estudo mundial.
“Apesar de estamos em 14.º lugar esta classificação esconde disparidades”, alerta Claúdia Ribeiro, explicando que os dados revelam “melhor desempenho ao nível da capacidade de criação de valor por parte das elites económicas que, no caso português, ficam em 10.º lugar e, portanto melhor que a classificação geral do índice, e muito pior pelas elites politicas que se apresentam em 25.º lugar”.
A principal explicação para esta disparidade é o nível de endividamento publico medido em percentagem do PIB, um dos critérios para o índice de avaliação das elites políticas, e que “penalizar fortemente” a avaliação da elite política portuguesa.
Esse é um dos 72 indicadores que estão na base deste índice para os quais são usadas bases de dados oficiais nacionais e internacionais, o que faz com que seja construído com apoio em “informação transparente e publica”. Este primeiro índice diz respeito a 32 países, mas em janeiro o trabalho será alargado de forma a incluir uma centena de países e será atualizado anualmente.
Como as ações determinam o desenvolvimento da sociedade?
O desenvolvimento concetual e metodológico resultou do trabalho de investigadores da Universidade de St Gallen, na Suíça, que, entretanto, constituíram uma fundação que será responsável pela divulgação dos relatórios anuais. Em cada país há uma instituição parceira deste projeto. Em Portugal é a Faculdade de Economia do Porto, que é responsável pelos dados nacionais e pelo trabalho analítico.
Em conversa com a Renascença, Claúdia Ribeiro começa por explicar que “todas as sociedades são dominadas por elites e as elites são indivíduos com capacidade de coordenação dos recursos disponíveis nestas sociedades, sejam esses recursos humanos, financeiros, naturais ou do conhecimento”.
“Estas elites moldam a sociedade e determinam a riqueza das nações”, continuam a professora, salientando que seria impossível medir a qualidade individual das elites. Por isso, o que este índice faz é medir as consequências agregadas das atuações dessas elites.
“Neste índice, estamos interessados em medir a qualidade das elites económicas e políticas e a forma como as suas ações determinam o desenvolvimento económico e humanos das sociedades”, diz Claúdia Ribeiro, salientando que este “é o primeiro índice mundial que mede a qualidade das elites e como favorecem ou dificultam o progresso dos países”.
Esta professora espera que o índice de qualidade das elites venha a ser um instrumento para melhorar a criação de valor nas sociedades. “Este índice concentra muita informação que pode sustentar um debate publico fundamentado sobre políticas de desenvolvimento económico e humano do país. Vamos conseguir perceber as áreas onde as elites políticas e as elites económicas estão melhor, mas também ver quais as áreas com pior desempenho e tentar melhorar”, acredita Claúdia Ribeiro.
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