
O investigador do Observatório de Emigração, Rui Pena Pires, alerta que “o problema de Portugal não é ter muitos jovens a sair”, num número que, admite, é um pouco superior “ao que seria expectável”, mas “o grande problema é que não consegue ainda hoje compensar completamente essa emigração de jovens com uma entrada no país de trabalhadores com os mesmos níveis de qualificação dos países desenvolvidos”.
Em entrevista à Renascença, a propósito da divulgação da primeira estimativa daquele organismo para 2024, e que aponta para que 65 mil portugueses tenham decidido emigrar naquele ano (menos cinco mil do que em 2023), Rui Pena Pires diz ser normal a circulação de jovens qualificados entre países desenvolvidos, mas Portugal não está a ser atrativo para captar estes trabalhadores.
São precisos 50 mil imigrantes
Nesta entrevista, o investigador do Observatório de Emigração, explica que o regresso dos emigrantes portugueses ao país “tem andado, em média, na casa das 20 mil pessoas, nestas últimas décadas”. Entre os 65 mil portugueses que saem do país e os cerca de 20 mil que regressam, “estamos a falar em perto de 50 mil emigrantes que têm uma residência mais prolongada nos países de destino”. Ou seja, a balança continua desigual e, para “compensar este saldo negativo” e para “equilibrar as dinâmicas, quer no mercado de trabalho, quer quanto às questões relacionadas com a sustentabilidade da segurança social”, o país precisa de, “pelo menos 50 mil imigrantes jovens em idade ativa”.
“Esta é uma das razões pelas quais Portugal tem de olhar com cuidado para aquilo que se diz e se faz sobre a imigração”, destaca, alertando que, neste cálculo, está a deixar de parte “os problemas causados pela redução da natalidade”.
Emigração estabilizada, principalmente não qualificada
A primeira estimativa do Observatório de Emigração aponta para 65 mil emigrantes em 2024. Um valor que representa uma estabilização das saídas, apesar de terem sido menos 5 mil os portugueses a abandonar o país face a 2023. Rui Pena Pires explica que “o número de 5 mil está dentro de uma variação em onda que é normal quando há alguma estabilização”.
O investigador diz que “a pequena descida explica-se, quase no essencial, pela continuação da redução da emigração para o Reino Unido, que vem desde o Brexit” e que, nesta altura, “anda na ordem das 2 mil e poucas pessoas”, mas que no futuro “já será residual”.
Quanto aos mercados de trabalho para os quais se dirigiram predominantemente os emigrantes portugueses, “estão, em primeiro lugar, países como a Suíça e Espanha. No segundo grupo, a França e a Alemanha. Esses são países que tendem, sobretudo, a ser procurados por emigrantes portugueses com menos qualificações”. Este facto, “não confirma a ideia de que tudo o que é jovem muito qualificado esteja a sair”.
Rui Pena Pires conclui que “há uma emigração qualificada que se dirige hoje para os Países Baixos, um pouco para a Bélgica, também para os países nórdicos, mas em números bastante mais pequenos”, pelo que “a emigração portuguesa ainda é hoje, no essencial, pouco qualificada”.











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