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O fundador do grupo chinês Xinxuan considera, em entrevista à Lusa, que Portugal poderá tornar-se um “‘hub’ europeu” para o ‘live commerce’, estratégia de divulgação e venda de produtos através de transmissões de vídeo ao vivo.
“Há muito espaço para o desenvolvimento do ‘live commerce’ em Portugal, mas isso poderá exigir a promoção conjunta do Governo e das empresas”, afirmou o fundador e presidente executivo (CEO) do grupo Xinxuan, Xin Youzhi, em resposta por escrito, quando questionado pela Lusa sobre qual a estratégia que tem para desenvolver o conceito na Europa e, nomeadamente, no mercado português.
Xin Youzhi sublinhou que Portugal “já lidera no desenvolvimento da fibra na Europa graças ao Governo português”, acrescentando que o executivo poderia também “implantar políticas relevantes para promover o desenvolvimento de infraestrutura básica para o ‘live commerce'” como “ajudar a aumentar a cobertura dos pagamentos eletrónicos (‘e-payments’), promover o desenvolvimento de empresas de logística” ou criar formações especializadas e academias para esta nova forma de negócio.
“Portugal pode até tornar-se um ‘hub’ [centro] europeu para o ‘live streaming commerce'”, considera Xin Youzhi, que fundou aquela que é apontada como uma das empresas líderes de transmissão de ‘e-commerce’ ao vivo na China.
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O responsável adianta que esta intenção — de Portugal tornar-se num ‘hub’ — poderia ser “tornada pública” até à edição deste ano da cimeira tecnológica Web Summit, para a qual Lisboa “tem contribuído desde 2016 para se tornar no lugar onde as pessoas e as empresas redefinem a indústria tecnológica global”.
Além disso, acrescenta, “as empresas de comércio eletrónico portuguesas precisam de perceber com mente aberta as mudanças que estão a moldar a indústria e que ativamente promovem o crescimento desta nova forma de vendas e marketing ‘online'”.
Na sua opinião, as empresas portuguesas de comércio eletrónico ao vivo (‘live’) “poderiam fortalecer o intercâmbio e a cooperação com as empresas chinesas” nesta área.
Aliás, o “grupo Xinxuan tem muito prazer em partilhar experiências relevantes, promover a cooperação e conduzir uma colaboração profunda em termos de volume de vendas, comunicação de marca e cooperação internacional”, salienta o responsável.
“Espero cooperar com mais marcas europeias, e especialmente com marcas portuguesas, para aumentar as suas vendas e popularidade na China através das transmissões ao vivo da Xinxuan”, remata.
Só a título de exemplo, durante o Double Eleven (também conhecido como o dia dos solteiros), que é considerado o maior dia de compras na China, em 11 de novembro, “uma noite de vendas” na plataforma do grupo Xinxuan de transmissão ao vivo “pode ser equivalente a um ano de vendas no maior centro comercial”, explica.
“Por isso, espero que as marcas europeias e portuguesas possam sentir o poder e os benefícios do ‘live commerce'”, sublinha.
O grupo Xinxuan foi fundado em 2017 e, atualmente, tem quatro subsidiárias, cada uma para diferentes segmentos de negócio: seleção de produto e controlo; cooperação de negócio; formação e gestão dos ‘Key Opinion Leaders (KOL)”, que são os apresentadores profissionais de vendas das diferentes transmissões ao vivo; e incubação de marcas criadas pela própria Xinxuan.
Questionado sobre quanto vale o mercado de ‘live commerce’ atualmente, aponta que no final do ano passado havia “mais de 81 mil empresas relacionadas com transmissões ao vivo na China” e, entre estas, “mais de “65 mil” tinham sido criadas em 2020, “o que é aproximadamente 10 vezes” o número de empresas neste segmento que foram criadas em todo o ano de 2019.
De acordo com a consultora iiMedia Reserch, o número de utilizadores de transmissões ao vivo ‘online’ atingiu os 587 milhões na China em 2020, e estima-se que este ano subam para 635 milhões e para 660 milhões em 2022.
No ano passado, o volume bruto de mercadorias no Taobao Live atingiu 400 mil milhões de yuan (cerca de 52 mil milhões de euros), por exemplo, refere.
Este ano, “as escala do mercado ‘live commerce” atingirá o nível dos biliões, refere, apontando que a iiMedia Research prevê que o tamanho deste mercado na China ascenda aos 1,2 triliões de yuan (cerca de 157 biliões de euros) este ano.
Já a KPMG e AliResearch estimam perto de dois triliões de yuan, um valor próximo de 261 biliões de euros em 2021.
Questionado sobre o facto do ‘live streaming commerce’ estar a ser bem sucedido na Ásia, mas na Europa ainda não ter uma grande expressão, Xin Youzhi apontou como principais razões a “popularidade” dos pagamentos eletrónicos e “os baixos preços na Internet”, o grande número de utilizadores de Internet via móvel e o facto de a indústria de comércio eletrónico na Ásia ter-se desenvolvido “mais cedo e se tornado mais maduro do que em outras regiões”.
Além disso, sublinha, a utilização de vídeos curtos “tem cultivado o mercado para o comércio ao vivo”.
Sobre quais são os planos para os próximos quatro meses (até final do ano), o presidente executivo adianta que a “Xinxuan vai continuar a impulsionar as vendas de produtos domésticos chineses”.
Ao mesmo tempo, “iremos também desenvolver uma cooperação mais extensiva com as marcas europeias e ajudar mais produtos europeus a entrar no mercado chinês, através das sessões de ‘live streaming’ da Xinxuan”, acrescenta.
“Esperamos introduzir novos produtos portugueses” neste “próspero mercado”, sublinha.
“Desde o início deste ano, o grupo Xinxuan entrou na era 3.0 do ‘marketing’ de serviço completo”, contra a era 2.0 de ‘live commerce”, refere.
Ou seja, “desde o lado das vendas até ao topo, a Xinxuan começou a penetrar numa zona estratégica de profundidade, capacitando serviços completos de ‘marketing’ para marcas” e “nos próximos quatro meses” a Xinxuan irá seguir essa estratégia, remata.
ALU // CSJ
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