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A economia portuguesa surpreendeu alguns analistas ao registar uma quebra real do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,2% entre o segundo e o terceiro trimestre, a primeira contração que acontece desde o início de 2021, estava o país a braços com o pior momento da pandemia, com a atividade económica quase totalmente manietada pelos confinamentos.
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Este desempenho negativo fez soar alarmes em várias frentes, tendo o governo respondido imediatamente aos números desfavoráveis, acenando que irá “reforçar a procura interna” para responder à “recessão externa”.
O Presidente da República também reagiu, lamentando que “ainda estamos longe de ver arrancar a economia portuguesa”.
A quebra de 0,2% em cadeia no terceiro trimestre, revelada ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), reflete já o impacto da crise dos outros países (afundanço da procura externa e das exportações), mas também das condições financeiras (taxas de juro) extremamente duras, que estão a condicionar os consumidores e muitos investidores.
Ato contínuo, este desempenho negativo coloca o país a meio caminho de uma recessão técnica (dois trimestres seguidos de contração do PIB real).
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Em termos homólogos, Portugal cresceu 1,9% no terceiro trimestre, mas não deixa de ser o pior registo também desde o momento mais mortífero da pandemia (primeiro trimestre de 2021).
Portugal não está só neste quadro de estagnação. Comparando com os dados relativos a outros países, também ontem revelados, mas desta feita pelo Eurostat, a economia nacional regressa ao grupo da estagnação europeia, uma condição que, oficialmente, afeta já 10 países da União Europeia (UE).
Destes, cinco mercados, Portugal incluído, estão em estagnação, mas vindos de um quadro de quebra de atividade no segundo trimestre ou estão a caminho de uma recessão (começaram agora a perder PIB).
E dois países estão já tecnicamente em recessão: Áustria e Estónia.
Dos países já apurados pelo Eurostat (13 no total), o terceiro trimestre parece ter sido especialmente destrutivo para a economia irlandesa, que colapsou 1,8% no período de julho-setembro face ao trimestre precedente.
Mas o caso mais preocupante é, claro, o da Alemanha, a maior economia da UE. Depois de ter quase parado no segundo trimestre (0,1%), o motor da Europa cedeu 0,1% em julho-setembro. Face a igual período de 2022, a economia alemã perdeu 0,4%, indica o Eurostat.
Recessão externa, remédio interno
Face a este cenário, no debate da proposta de Orçamento do Estado para 2024, que ontem foi aprovada na votação na generalidade, no Parlamento, o ministro das Finanças ripostou logo que os novos números do PIB “tornam claro que, perante a recessão do exterior, da procura externa, temos de reforçar a procura interna, reforçar os rendimentos e o investimento”.
Uma das pedras de toque do debate e do discurso dos socialistas é, claro, a descida mais ampla do IRS para as classes médias que, espera-se, devolva rendimento a estas famílias.
Marcelo Rebelo de Sousa estava na Moldávia numa visita de Estado, mas teve tempo de ir à rua, em Chinisau, a capital do país, para falar com os jornalistas e às televisões sobre o cenário macro, entre outros assuntos.
Sobre os números do PIB, o Presidente da República observou que “há razão em dizer que a economia mundial não está a crescer o que se esperava e que isso repercute-se nas nossas exportações, no crescimento”.
“Ganhámos em comparação com o ano anterior”, mas olhando para a performance trimestral “significa que ainda estamos longe de ver arrancar a economia portuguesa”, disse o Chefe de Estado.
A seu ver, houve no entanto uma boa notícia: “A inflação vai melhorar a várias velocidades em vários países, mas em Portugal está a melhorar e isso é um bom sinal”. Segundo o INE, a inflação doméstica baixou de 3,6% em setembro para apenas 2,1% em outubro.
Autoeuropa penalizou dinâmica do PIB
Numa nota sobre os novos dados do INE, Teresa Gil Pinheiro, economista do BPI Research, afirmou que “no terceiro trimestre, o PIB surpreendeu, contraindo 0,2% em cadeia”, o que compara com a previsão do banco que apontava para “um crescimento de 0,4%”.
Segundo a analista, “a informação preliminar do INE (que não revela dados para as componentes), aponta para a materialização mais cedo do que o esperado de um dos principais riscos”: “o enfraquecimento da atividade dos principais parceiros comerciais”.
A economista recorda que “a queda resulta do contributo negativo da procura externa associada à redução das exportações tanto de bens como de serviços, incluindo os turísticos”.
E acrescenta que “este comportamento deverá ter sido influenciado pela paragem de produção e exportação da fábrica da Autoeuropa durante o trimestre, com impacto temporário”. “Por seu turno, a procura interna teve um contributo positivo”.
Seja como for, Teresa Gil Pinheiro sublinha que “no ambiente atual, em que se antecipa que as taxas de juro se mantenham elevadas, é natural que as famílias adotem comportamentos mais cautelosos, canalizando parte de rendimento para poupança”.
“Os dados publicados representam um risco muito significativo para a nossa previsão de um crescimento de 2,4% em 2023. Os riscos advêm, essencialmente, da frente externa, refletindo menor procura de bens e serviços por parte dos nossos parceiros comerciais. Internamente, o investimento continuará a ter um comportamento positivo, reflexo dos fundos europeus que serão recebidos até ao final do ano”, sustenta a analista do gabinete de estudos do BPI.
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